quinta-feira, 29 de março de 2012

Usos, costumes e santificação

Há muitas controvérsias no meio Cristão no que tange a usos e costumes, sobretudo no que diz respeito ao uso de jóias. É bom que se note que para fazer uma séria interpretação de algum texto bíblico, é necessária a observação de alguns critérios:
época, cultura, quem escreveu, para quem a priori foi endereçado tal escrito, o que motivou o escrito, ou seja, por quê foi escrito1. Outro fator importante é, como se aplicar aos dias atuais os ensinamentos bíblicos, pois os princípios morais, sabe-se são eternos; já os culturais, estão circunscritos aos contextos nos quais foram produzidos.
Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo cristo”2.
A investigação que será desenvolvida neste trabalho buscará elucidar qual era o ideário da cultura judaica quanto ao uso de jóias. Será feita a principio uma análise do termo vaidade. A seguir, o uso de jóias será objeto de perscrutação à luz do Antigo testamento e de alguns dos seus principais personagens.
O Novo testamento ainda que de forma sucinta, terá algo a revelar, já que dois dos seus mais proeminentes textos serão traduzidos do original grego e analisados a partir do seu contexto.
O termo vaidade no Antigo testamento.
O vestir-se bem ou usar jóias parece nunca ter uma relação com o pecado ou a vaidade no antigo testamento, ao contrário, estar bem vestido era sinal de honra, fosse na família, na sociedade ou na vida religiosa.
O termo “vaidade” no antigo testamento é usado para adjetivar algo “vazio e inócuo”. Ricardo Gondim faz um comentário relevante do uso deste vocábulo.
Vaidade no hebraico advém [...] de habel, que significa vazio, oco. Seu uso no Antigo testamento estava relacionado ao abandono do único Deus verdadeiro e à busca de ídolos que não podiam satisfazer às necessidades de Israel pelo simples fato de não existirem. A adoração a ídolos, então, tornou-se sinônimo de vaidade, pois era como se o povo israelita estivesse buscando ajuda no vazio: Rejeitaram os estatutos e a aliança que fizera com seus pais, como também as suas advertências com que protestara contra eles; seguiram os ídolos e se tornaram vãos, e seguiram as nações que estavam em derredor deles, dos quais o Senhor lhes havia ordenado que não as imitassem. II Rs. 17.15. [...] No grego, vaidade é representada pelo substantivo mataiotes e também significa vazio. Não há qualquer relação, entre vaidade e o uso de jóias, roupas ou ornamentos. Seu significado, em primeiro lugar, refere-se ao mundo criado que, no pecado e sem preencher o propósito inicial para o qual foi criado, tornou-se vazio: Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou. Rm. 8.20. Vaidade – mataiotes - é também usada por Paulo para expor a forma de pensar e o estilo de vida dos gentios, que não conhecem a Deus: Isto, portanto, digo e no Senhor testifico que não mais andeis como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos. Ef. 4.17. Vaidade – mataiotes - também podia denotar as palavras impressionantes, mas vazias, de falsos mestres que muito falam, mas não possuem conteúdo nenhum: Porquanto, proferindo palavras jactanciosas de vaidade, engodam com paixões carnais, por suas libertinagens, aqueles que estavam prestes a fugir dos que andam em erro. II Pe. 2.18.3
Observa-se então que o termo vaidade tanto no Antigo, como no Novo testamento é utilizado para classificar algo como: passageiro e vazio, ou seja, algo que embora pareça ser de algum valor, não traz em si valor algum.
Para tentar lançar mais luz sobre isso, pode-se usar como exemplo o salmo 39.5, trocando o termo pura vaidade, por puro vazio.
Deste aos meus dias o cumprimento de alguns palmos; à tua presença, o prazo da minha vida é nada. Na verdade, todo homem, por mais firme que esteja, é puro vazio. (pura vaidade)
Depois de analisada a questão do termo vaidade, é pertinente que se observe o uso que Israel como nação, fazia do ouro e jóias, bem como alguns dos maiores vultos do Antigo testamento. Posteriormente, serão analisados os dois principais textos do Novo testamento, os quais são utilizados por aqueles que advogam a proibição do uso de ouro e jóias por parte da Igreja hodierna.
As jóias no Antigo testamento.
Há um importante relato em Gênesis. Abraão faz com que o seu servo Eliezer lhe prometa sob juramento, que lhe trará ao filho Isaque uma esposa digna, uma virgem que fosse de sua parentela.
É de conhecimento dos Cristãos, que a moça escolhida, Rebeca, é inclusive um tipo (símbolo) da Igreja escolhida do Novo testamento, a noiva do cordeiro. No entanto, o que é narrado em Gênesis 24 é um fato, não é uma parábola ou uma ilustração.
As escrituras afirmam que o servo Eliezer depois de ter a confirmação de que Rebeca era a escolhida a presenteou com jóias.
... tomou o homem um pendente de ouro de meio siclo de peso e duas pulseiras para as mãos dela, do peso de dez siclos de ouro.4
Na hora da refeição, Eliezer faz uso da palavra e relata para Labão toda sua trajetória e o que o trouxera ali (Gn. 24.33,41). E encerra o discurso dando um curioso detalhe do seu encontro com Rebeca.
Daí lhe perguntei de quem és filha? Ela respondeu: filha de Betuel, filho de Naor e Milca, então, lhe pus o pendente no nariz e as pulseiras nas mãos.5
É importante salientar, que Rebeca era uma moça virgem, de família, fazia parte da parentela de Abraão. Ou seja, preenchia todos os requisitos que o grande patriarca esperava, e era, antes de tudo, uma escolhida de Deus, de acordo com o que foi confirmado no propósito de oração do servo Eliezer.
Eis-me agora junto à fonte de água; a moça que sair para tirar água, e que eu disser: dá-me um pouco de água do teu cântaro, e ela me responder: bebe, e também tirarei água para os teus camelos, seja essa a mulher que o Senhor designou para o filho do meu Senhor.6
Sabe-se que a oração do servo de Abraão foi cumprida de forma literal (Gn. 24. 45, 46). Vale salientar, que após o pedido de casamento por parte de Eliezer a Labão e Betuel, e a pronta aceitação de ambos, (Gn. 24. 49, 51), Rebeca recebeu como presentes jóias de prata e vestidos (Gn. 24. 53).
O uso de jóias por parte do fiel José
De José bastaria se dizer que a Bíblia o relata como um dos homens mais fiéis de toda História sacra, ao lado de nomes como Daniel, Samuel, João batista e mais alguns poucos, os quais estão no rol daqueles que nunca “beijaram a lona do pecado.”
Homens dos quais “o mundo não era digno”(Hb.11.38). Homens de vida ilibada: (I Sm. 9.6 e 12.3,5; Dn. 6.4; Mt.11.11). Testemunho que as escrituras exortam que todo Cristão deve imitar; (Fp. 3. 17. 4. 8,9; Hb. 13.7).
As escrituras relatam que José resistiu ao pecado na casa de Potifar; (Gn.39.7,9). Manteve sua profissão de fé por anos a fio, apesar de tudo lhe parecer contrário (cerca de 13 anos - (Gn.37.2 e 41.46.), e por fim perdoou seus irmãos que tanto mal lhe fizeram - (Gn. 45.4,8 e VS. 14,15).
O que se deve atentar em tudo isso, é que o fiel José resistiu ao pecado, todavia, recebeu de bom grado as jóias e todas as honrarias que lhe foram oferecidas por Faraó.
Então, tirou Faraó o seu anel de sinete da mão e o pôs na mão de José, fê-lo vestir roupas de linho fino e lhe pôs ao pescoço um colar de ouro. E fê-lo subir ao seu segundo carro, e clamavam diante dele: inclinai-vos! Desse modo, o constituiu sobre toda a terra do Egito. 7
Daniel em Babilônia
Daniel é outro personagem bíblico digno de honra. Em vários momentos é demonstrada sua fidelidade e coragem, ao servir ao Deus único de Israel em cativeiro (estava na idólatra e politeísta Babilônia.):
  1. Recusou a fina alimentação real, por ser a mesma consagrada a ídolos, honrando a Deus com essa atitude (Dn. 1.3, 4 e VS. 8, 15).
  2. Não se dobrou ao decreto monárquico, que fazia do Rei uma divindade a quem o povo era obrigado a adorar, fazendo-lhe súplicas e orações - (Dn. 6.7,9 e VS. 10.,13). Sendo por esse motivo lançado na cova dos leões - (Dn. 6.16,17). De onde Deus o livrou - (Dn. 6. 21, 23).
  3. Este mesmo Daniel que em tudo demonstrou fidelidade e humildade, ao interpretar a visão da escritura na parede, consentiu que lhe pusessem roupas finas e um colar de ouro no pescoço.
Se puderes ler esta escritura e fazer-me saber a sua interpretação, serás vestido de púrpura, terás cadeia de ouro ao pescoço e serás o terceiro no meu reino. [...] Então, mandou Belsazar que vestissem Daniel de púrpura, e lhe pusessem cadeia de ouro ao pescoço, e proclamassem que passaria a ser o terceiro no governo do seu Reino. 8
O que levou então servos santos de Deus como Rebeca, José e Daniel a aceitarem o uso de jóias e roupas finas? A resposta mais clara e enfática que se poderia dar, conforme o que já foi analisado, é que o uso de jóias fazia parte da cultura dos povos antigos, chegando até os dias do novo testamento.
Vale ressaltar, que em nenhum momento na cultura veterotestamentária o uso de tais apetrechos era visto como pecado, pelo contrário, o uso de jóias e roupas finas parece sempre está ligado a honra e posição privilegiada, mesmo por parte dos maiores e mais proeminentes personagens bíblicos.
Outros exemplos do uso de jóias na cultura
político-religiosa do Antigo testamento
  1. Na saída do Egito, o povo levou jóias de prata e de ouro-(Ex.3.22 e 12.35,36).
2) A veste sacerdotal era luxuosíssima, de linho fino e púrpura - Ex.28.3,8. Vestes próprias daqueles que eram muito ricos (Lc. 16. 19).
3) Quando no deserto o povo apostatou da fé, de onde conseguiram ouro para derreter, a fim de fazer um ídolo ? (o bezerro de ouro). Conforme o texto bíblico, o ouro foi conseguido das argolas que estavam nas orelhas dos Israelitas (Ex. 32.2,4).
4) em provérbios 25.12, Salomão faz uma analogia que as repreensões do sábio para quem as ouve com atenção, são tão valiosas, como são pendentes e jóias de ouro. Se o uso de jóias fosse algo contrário a fé judaica, jamais ele teria feito uma analogia como essa.
Ademais, em Ageu 2.8, o Deus todo poderoso proclama: minha é a prata, meu é o ouro, diz o Senhor dos exércitos.
O uso de jóias no Novo testamento
O filho esbanjador (pródigo), de Lucas 15, gastou toda sua herança de forma dissoluta, todavia ao se arrepender e regressar humildemente para a casa do pai foi recebido com festa: “... trazei depressa a melhor roupa, vesti-o, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias...” (Lc. 15.22).
Tiago ao falar que o Cristão deve olhar a todos sem acepção diz: “Meus irmãos, não tenhais a fé em nosso Senhor Jesus cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas.
Se, portanto, entrar na vossa sinagoga algum homem com anéis de ouro nos dedos, em trajos de luxo, e entrar também algum pobre andrajoso, e tratardes com deferência o que tem os trajos de luxo e lhe disserdes:
Tu assenta-te aqui em lugar de honra; e disserdes ao pobre: Tu, fica ali em pé ou assenta-te aqui em abaixo do estrado dos meus pés.” (Tg. 2.1,3).
É importante que se observe, que neste texto a ênfase é em não se fazer acepção de pessoas, no entanto, fica muito claro que no pensamento de Tiago não há nenhum pecado em alguém está bem vestido e usar anéis de ouro, ao contrário, como outrora já foi mencionado, no pensamento Judaico vestir-se bem e usar jóias é sinal de honra.
Na ilha de Patmos, o apóstolo João ao ver Cristo revestido de glória, observou que ele tinha a altura do peito um cinto de ouro - (Ap.1.13). Seria uma incoerência e uma séria contradição das Escrituras, proibir que os Cristãos usem jóias e pendentes de ouro, enquanto os textos Bíblicos apontam para o próprio Jesus usando ouro, bem como a nova cidade toda revestida por esse precioso metal - (Ap.21.18).
Se houvesse uma proibição como essa nas escrituras, a Nova Jerusalém certamente seria o último lugar do mundo em que os remidos iriam morar.
Textos marcantes do Novo testamento.
I Pe. 3.1,5
Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido, para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem palavra alguma, por meio do procedimento de sua esposa, ao observar o vosso honesto comportamento cheio de temor.
Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranquilo, que é de grande valor diante de Deus.
Pois foi assim também que a si mesmas se ataviaram, outrora, as santas mulheres que esperavam em Deus, estando submissas a seu próprio marido...
Há de se observar, que o propósito da epístola Petrina era dar esperança aos Cristãos em sofrimento, e orientá-los na prática diária de sua fé.
Essa epístola foi escrita nos anos sessenta D.C, conforme alguns estudiosos como Donald C. Stamps e E. R. Müeller, que assim datam a redação desse escrito, levando em consideração traços indicadores da grande perseguição empreendida pelo Império Romano na pessoa de Nero (67 D.C)9.
Tendo em vista essa situação vivida pelas comunidades Cristãs da época, conclue-se então, que Pedro como judeu que era, logo, acostumado com o uso frequente de jóias por parte dos seus patrícios, não tinha em mente uma proibição quanto a vestes e jóias, além do mais, estava endereçando a epístola às comunidades de maioria gentílica - (I Pe. 1.1. e 2.10): “vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus...” Isso definitivamente não é dirigido a Judeus e sim a gentios.
Para melhor compreensão do texto petrino, segue uma tradução mais literal.
Da mesma maneira as mulheres, submetendo-se aos maridos, para que também alguns insubmissos à palavra, através do modo de vida das mulheres, sejam ganhos (convencidos) sem necessidade de palavra, observando vosso modo de vida puro (limpo) em temor.
O ornamento seja não o que está aparente, o penteado dos cabelos e o uso de adereços de ouro, ou no vestir-se. Mas o homem oculto no coração, no incorruptível espírito manso e pacífico, que é de grande valor perante Deus.
Pois desse modo anteriormente, se ornamentavam as santas mulheres que depositavam sua confiança em Deus, submetendo-se aos seus maridos.10
Pedro deixa claro, que a veste que deve ocultar (esconder) o homem interior, é um espírito manso e pacífico, a fim de que o ego não sobressaia, maculando assim o comportamento digno legado pelas santas do passado.
É importante que se note, que Pedro como Judeu, não lança ao desprezo a aparência, entretanto, deixa patente que isso diante de Deus é relegado ao segundo plano, muito embora não haja por parte do apóstolo nenhuma censura ou ordem proibitiva no que se refere às vestes, o uso de jóias e adereços de ouro.
I Tm. 2.9,10
“Da mesma sorte, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispendioso, porém com boas obras (como é próprio às mulheres que professam ser piedosas).”
Escrita por volta de 65 D.C, com o propósito de orientar Timóteo quanto ao comportamento adequado do líder dentro da comunidade11. Isso fica explícito no versículo chave: “Mas, se tardar, para que saibas como convém andar na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade” (I Tm.3.15).
Parece trazer em si uma preocupação com o modo comportamental dos Cristãos da comunidade que o jovem Timóteo apascentava. Os versículos 9 e 10 do capítulo 2, trazem em si a continuidade de pedido do verso 8, que era a oração feita com pureza , sem ira e animosidade.
No verso 10 é enfatizando o propósito Paulino, que as mulheres Cristãs dessem testemunho, antes de qualquer coisa, com suas obras. É relevante se observar o comentário de J. N. D. Kelly sobre essa passagem:
Não era a idéia de Paulo que ás mulheres que frequentavam as reuniões da Igreja devessem faltar adorno [...] o apóstolo quer que a seção feminina da congregação se torne atraente, porém com boas obras (como é próprio das mulheres que professam ser piedosas).12
Uma tradução mais literal
Do mesmo modo também as mulheres em comportamento moderado, com decência e autocontrole se ornamentem, não com penteado e adereço de ouro ou pérolas ou roupas caras, mas como é próprio a mulheres que se declaram piedosas (que servem com reverência a Deus), através de boas obras.13
Percebe-se que a tônica de I Tm. 2.9,10 é uma chamada á prática de uma fé Cristã genuína (boas obras), muito embora o portar-se com decência e pudor seja uma constante nos ensinos do apóstolo dos gentios, e que ademais, cabe para a vida Cristã em todas as áreas.
Vestindo-se para a glória de Deus
É salutar que todo Cristão tenha autodisciplina, buscando sempre que em suas práticas Deus seja louvado:”portanto,quer comais,quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus”. I.Co.10.31 .
A temperança, (domínio próprio) que faz parte do fruto do Espírito (Gl.5.23),deve ser uma virtude cultivada por todo cristão piedoso que busca fazer a vontade do seu Senhor.
Quando esteve diante do governador Festo,Paulo testemunhou da sua fé falando a essa autoridade secular da justiça de Deus,do juízo vindouro, e claro, do domínio próprio. (At.24.25).
Vive-se em um tempo em que os valores destoam quase que totalmente daqueles apontados pelas escrituras, são tempos difíceis (II Tm.3.1),quando a igreja tem sido atacada,vilipendiada,ridicularizada de todas as formas por uma filosofia de vida aética e que supervaloriza o ter em detrimento do ser.
Nesse contexto, parece estranho se falar em ética,decoro, e sobretudo em santidade... As escrituras, no entanto, exortam a que se busque a santificação em todo o procedimento. (I.Pe.1.15).
E isso inclui as vestes, ou o modo de se vestir. Questões como: o que vestir, no que concerne a cultura pode ser relativo, já que as vestes dos Israelitas possuíam suas peculiaridades culturais próprias da sua região, entretanto, o que se pode depreender nas entrelinhas, é que o povo de Deus relatado nas escrituras era cuidadoso no quesito vestimenta.
Os homens usavam túnicas, que eram vestes semelhantes a camisas, que se prolongavam dos ombros aos joelhos. Um cinto ou uma faixa, de nome “cinturão” no novo testamento, era enrolado em volta da cintura; e também eram usadas sandálias grosseiras nos pés, e um turbante ou chapéu na cabeça. [...] As mulheres usavam uma túnica curta como roupa de baixo, e algumas vezes usavam uma túnica externa brilhante colorida que descia até os pés. As mulheres mais elegantes usavam cosméticos em grande abundancia o que incluía o batom, sombras para os olhos, pinturas das sobrancelhas, e, quando se tratava de jóias, usavam brincos e pendentes no nariz. [...] na palestina os homens deixavam a barba crescer. Seus cabelos eram conservados um pouquinho mais longos de que em outras regiões , mas não tão compridos como se vê nas gravuras que representam pessoas dos tempos bíblicos. A moda na palestina, usualmente se mantinha em níveis conservadores para ambos os sexos. (Gundry-Robert H,Panorama do Novo testamento,p.29.)
Nota-se, conforme as afirmações supracitadas, que embora o povo palestino tivesse cuidado com a aparência, jamais tal zelo parece descambar para uma atitude vulgar ou amoral.
Percebe-se também, que as escrituras desde o principio dão uma conotação negativa para a nudez e o despudor.
Quando houve o pecado do casal no Éden, o que se pode observar é que ambos ao se acharem nus ficaram bastante envergonhados, a ponto de providenciarem vestes as quais, ao que tudo indica, não satisfizeram os padrões Divinos de decência (Gn 3.7), tanto que foram providenciadas vestes de peles de animais, e o próprio Deus os vestiu (Gn.3.21).
No episódio em que Noé embriagou-se e expôs sua nudez, foi louvada por ele a atitude respeitosa dos seus filhos Sem e Jafé, que fizeram questão de não observarem a situação constrangedora de seu pai, ao contrário,além de não verem Noé sem roupas, evitaram também fazer alarde do que acontecera.
De modo contrário, Cam não teve o cuidado de preservar o seu pai, viu a sua nudez e ainda comunicou o que vira aos seus irmãos (Gn.9.20-25). Em Ex.28.42,43 é relatado o cuidado que o sacerdote deveria ter ao prestar o serviço no santuário, produzindo para si roupas intimas (calções) com o intuito de não revelar sua nudez, pois isso seria um ato abominável ao Senhor, Digno de morte.
No Novo testamento a nudez traz em si uma conotação negativa, demonstrando sempre está ligada ao pecado e ao mal.
Isso pode ser visto na ocasião em que Jesus libertou o geraseno da legião demoníaca que o afligia, o texto bíblico afirma que logo após ser liberto, e estar no uso normal das suas faculdades mentais, uma das primeiras atitudes desse homem foi vestir-se (Mc.5.15).
Muito embora isso não signifique que todas as pessoas que efetivamente usem pouca roupa, ou andem seminuas, estejam endemoninhadas, porém não se pode negar que há na nudez influências do deus deste século (II.Co.4.4), que indubitavelmente cega o entendimento dos incrédulos .
No âmbito espiritual, a nudez traz em si o significado de desgraça; que significa está destituído da graça, ser desafortunado, infeliz. Isso é o que se vê no registro de apocalipse, quando João relata que Laodiceia estaria cega e enganada por causa das suas iniquidades.
Observa-se como uma das peculiaridades que a faziam ser rejeitada por Deus era sua nudez, da qual não se envergonhava (Ap.3.17,18).
É sabido que a linguagem do livro de apocalipse é simbólica, no entanto, tal gênero ao usar a figura da nudez, mesmo apontando para o âmbito espiritual, usa-a partindo do pressuposto de que a nudez é em si mesma vergonhosa. Do mesmo modo, nota-se em coríntios, Paulo usando esse vocábulo no sentido de reprovação.
E, por isso, neste tabernáculo,gememos,aspirando por sermos revestidos da nossa habitação celestial; se, todavia, formos encontrados vestidos e não nus. Pois, na verdade, os que estamos neste tabernáculo gememos angustiados, não por querermos ser despidos, mas revestidos,para que o mortal seja absorvido pela vida.(IICo.5.2,4.)
Os escritos Paulinos estão eivados de ensinamentos sobre ética, moral e bons costumes.
Em alguns deles, chama atenção para que se evite o escândalo, ou atitudes que o tragam sobre a igreja ( Rm.14.21, 1co.10.32 , 2Co.6.3, Fp1.10).
A fim de que isso não ocorra, o caminho provido por Deus para o cristão sem dúvida, é a santificação, que se inicia no momento em que alguém é recebido por Deus em seu santo aprisco (2Tss.2.13), e segue por toda vida cristã (2.Co.7.1)
A santificação dos filhos de Deus
Para se falar em santificação necessário se faz conhecer o significado da palavra santo. O dicionário bíblico John Davis traz uma argumentação na busca de elucidar o significado deste vocábulo.
A palavra hebraica geralmente usada é kadosh, que significa “separado”, ”santo”. No novo testamento, é representada pela palavra grega hagios. Emprega-se para designar as pessoas ou coisas destinadas ao uso sagrado, bem como os dias reservados a serviço religioso,Êx20 8;30.31;Lv21.7;Nm5.17;Ne8.9;Zc14.21,tudo que a lei cerimonial manda separar,Êx22.31;Lv20.26, a purificação da carne e do espírito ,2 Co7.1; I Ts 4.7, inclusive a separação dos falsos deuses e das práticas pagãs, Lv20.6,7;21.6. Em um sentido mais lato, Deus é santo porque é separado de todos os outros entes pelas suas infinitas perfeições, como, a sabedoria, o poder, a santidade, a justiça, a bondade, e a verdade, cuja glória enche a terra, Is. 6.3. Os mesmos santos anjos rendem preito à sua santidade.( Davis, John, novo dicionário da Bíblia,TRD.J.r. Carvalho Braga- São Paulo,Sp: Hagnos,2005.p.1114.)
Para o apóstolo dos gentios, Deus chamou os seus filhos para a santificação; Ef.1.4 e para que sejam verdadeiros luzeiros em um mundo pervertido e entregue a escuridão (Fp.2.15).
O professor Walter t. conner faz um relevante comentário sobre a ideia ortodoxa da santificação em dois prismas aparentemente distintos: a santificação judicial paga por Cristo na cruz e imputada sobre o pecador quando crê, e a santificação refletida na vida como resposta positiva do eleito ao chamado de Deus.
O emprego predominante que Paulo faz do verbo santificar e do substantivo santificação refere-se à iniciação na vida cristã. Mas o apóstolo emprega também esses vocábulos quando trata da pureza moral da parte do crente em sua vida diária. Quem pensar que Paulo foi um idealista teórico está redondamente enganado. O apóstolo insiste com seus conversos para que tenham uma vida bastante moralizada, e lhes apresenta o poder do Espírito como a esperança de assim se portarem no meio da sociedade pagã. {...} Assim o Apóstolo ardorosa e insistentemente batalhava pela santificação, combatendo a impureza, e notadamente a imoralidade sexual (Romanos 6:19-23;I Tessalonicenses 4;1-8;5:23; II Tss..2.13). No trecho da carta aos Romanos, Paulo insiste em doutrinar que não se pode servir a dois Senhores; e que não se pode servir a um tempo ao pecado e á retidão. Servir ao pecado significa morte; servir a Deus e a retidão significa santificação e vida eterna. (Conner,1961,p.135)
A santificação a partir do pensamento esposado por Conner (1961) dá oportunidade a que se busque uma linha teológica mais esclarecedora, que de fato encontra lugar e propósito no pensamento de Wayne Grudem.
Obedecendo a certa ordem sistemática em três estágios: 1) começa na obra da regeneração efetuada na vida do crente quando da sua conversão 2) é progressiva, não alcançando um estágio satisfatório nessa vida 3) só é alcançada em plenitude no momento do encontro final do cristão com Deus, seja no momento da morte, ou na vinda do Senhor.
  1. Começa na obra da regeneração. No momento em que o pecador se rende a Cristo é operada nele a obra da justificação: “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.” (Rm.8.1)
  2. O texto paulino fala de uma ação judicial da parte de Deus. Estando em Cristo, o pecador não estar só livre do pecado, mas sim justificado dele, isso implica em que todos os pecados dantes cometidos não foram somente apagados por Deus, mas pagos pelo sacrifício vicário de Jesus, que tomou o lugar do pecador, isentando-o de ser condenado por eles, e mais ainda, Jesus não só salvou o pecador, sofreu e morreu por ele (I.Pe.2.24).
O pecador no momento em que crê na morte salvífica de Jesus recebe pela fé a justiça que vem de Cristo, ou seja, a justiça imputada pela fé: “Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim como dívida. Mas ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça.” (Rm.4.4,5).
Enquanto a justificação (grego dikaiosune #) foi uma declaração de absolvição, da parte de Deus, que nos deu o status de santos, sem nenhuma condenação (Rm.8.1), não entendemos a santificação da mesma maneira.[...] Obviamente os que recebem o Espírito de Deus , incorporados em Cristo, são posicionalmente santos. Por isso um dos títulos mais comuns atribuídos à igreja no novo testamento é “santos”. Neste sentido os dois vocábulos, “justos” e “santos”, são sinônimos. [...] Parece fundamental não esquecer que Cristo foi feito para nós esta santificação que almejamos (I.Co.1.30). Mas como entender esta verdade de maneira prática? Como podemos tornar em comportamento o que já somos posicionalmente em Cristo?[...] O caminho bíblico que devemos seguir não apaga a vontade própria. Não opta pela apatia ou o desligamento, mas pela união. Sem uma ligação vital com Cristo não há possibilidade de justificação (Cl.1.27). Sem Cristo atuando em nós pelo poder do Espírito, não haverá avanço na santificação (Cl.1.27). (Shedd,1990,p.56,58).
Essa asseveração do Dr. Shedd, aclara a ideia de que a santificação estar intrinsecamente ligada e subordinada a um relacionamento pessoal do homem com o Senhor Jesus, como peremptoriamente disse o mestre:
“Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. [...] Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.” (Jo.15.4,5).
Assim, o crente justificado pela fé pode ser inserido no corpo de Cristo (Igreja), participando da família de Deus. Obviamente nesse momento, além de receber a justificação imputada por Cristo, de forma simultânea recebe também a santificação: ”Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos foi dado beber de um só Espírito (I Co.12.13.).
O acesso á comunhão do corpo de Cristo, é concedida ao pecador mediante a justiça observada no sacrifício vicário de Jesus : “Sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus.”(Rm.3.24.)
Calvino chegou a exclamar que provavelmente não havia nas escrituras uma passagem que ilustrasse de forma tão agigantada a eficácia da justiça divina demonstrada em Cristo como esse versículo de Romanos.
Pois se o plano de salvação é a causa eficiente; o sangue do cordeiro de Deus é a causa material; a fé que o pecador obtém ao ouvir a palavra (Rm.10.17) é logo o instrumento usado por Deus para trazer o pecador ao arrependimento (Calvino,2001,p135).
Tudo isso redundando em glória ao Deus todo poderoso, mediante seu projeto inequívoco, articulado na eternidade (Ap.13.8), e sua perfeita justiça levada a efeito na expiação do Deus encarnado na cruz( At. 20.28).
Ainda no que concerne á justificação que o Senhor imputa ao pecador no momento em que esse crê, que concomitantemente leva-o à santificação, se faz necessário a observação que isso é sobretudo, obra da soberana graça de Deus
[...] os dois termos (doreá-dom gratuito, e cháris- graça) ocorrem associados outra vez em 5.17. Assim, tanto pela forma por que se opera como por suas profundas origens em Deus, é a justificação estranha ao principio de retribuição que dominava o regime da lei (tal como os judeus pelo menos o compreendiam); não tem o homem de prover uma “obra” cuja dificuldade comprometeria a proposição da salvação. O que o homem não pode fazer é Cristo Jesus que o fez. O pecador era escravo de uma situação; o Cristo intervém e o liberta. Tudo se passa até este ponto em favor dele, fora dele, porém. [...] a libertação é a obra de Cristo mediante a comunhão que une o crente a Cristo. Requerem-se ambos os sentidos, como em fp.2.5. As graças presentes em Cristo são oferecidas e acessíveis aos crentes em união com Cristo e seu corpo eclesiológico. (Leenhardt,1969,p.101,102).
Desde então, por ser partícipe da santidade de Deus, o cristão anda na busca continua da santificação pessoal: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor (Hb.12.14).
O vocábulo “segui” (diokete) está posto no sentido de perseguir, envidar esforços em busca de algo (chave linguística). “É uma palavra enfática, e expressa algo do afã da perseguição de caça” (Guthrie, 1984).
A ideia de correr atrás denota mais uma vez o lado dicotômico da santificação, que levará impreterivelmente á análise da necessidade de se responder em santidade de vida, a santidade adquirida por imputação Divina.
  1. A santificação é progressiva.
“Mas a vereda do justo é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Pv.4.18). Esse texto parece demonstrar que o caminho estreito do justo (é isso que significa a palavra vereda) ( ), foi decretado por Deus como um caminho de progresso na sua vida de fé .
Cada vez mais luz, significando cada vez mais iluminação, mais conhecimento, mais santificação. O versículo posterior dá uma clara indicação disso, quando analogicamente cita o caminho do ímpio: “O caminho dos perversos é como a escuridão; nem sabem em que eles tropeçam”. (Pv.4.19).
Enquanto o ímpio nem discerne em que está tropeçando, ou qual a verdadeira causa desse tropeço, o cristão de modo contrário, possui cada vez mais luz que lhe outorga discernimento (I Co.2.15) e o empurra sempre para diante, rumo à perfeição.
O conhecimento é em si mesmo provedor de liberdade: ”Feliz o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire conhecimento” (Pv.3.13).
“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo.8.32). O contrário disso é derrota, destruição: “O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento [... [rejeitaste o conhecimento... (Os. 4.6).
isso fica explícito nas palavras de Jesus a respeito da rejeição que sofreu por parte do seu povo, e que lamentou profundamente:” E dizia: ah! Se conheceras por ti mesma, ainda hoje, o que é devido á paz! Mas isto está agora oculto aos teus olhos.
(Lc.19.42). ou seja, faltava a Jerusalém o conhecimento de quem era aquele homem que lhes estava trazendo as novas do Reino de Deus.
O conhecimento por si só não fará diferença alguma se não for aplicado, pois ele é o elemento que traz conscientização e entendimento, entretanto, em si mesmo não há vida.
O conhecimento carece de um elemento catalisador, e isso se refere a toda esfera do conhecimento humano. Esse elemento catalisador chama-se ação, que é o elemento que coroa o conhecimento. Conhecimento sem uma aplicação dinâmica é como a fé sem obras; vazia, inócua e morta (Tg.2.17).
A santificação perpassa nitidamente pelo caminho da ação. Como foi observado, a santificação traz em si um elemento dicotômico, já que em si mesma é ativa e passiva.
Ativa, pois é geradora de mudança de status daquele que a recebeu. Isso pode ser observado nos crentes de Corinto, embora possuíssem muitos problemas de ordem espiritual (eram carnais), de ordem moral (eram por vezes amorais), receberam de Paulo a nomenclatura de santos, deixando explícita essa dicotomia:
“à Igreja de Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos...”( I Co. 1.2).
Os Coríntios haviam sido santificados a partir do momento em que se tornaram de fato pertencentes a Cristo, e esses mesmos Coríntios, por serem santificados devido a esse relacionamento passivo com Deus, se tornaram objeto do amor santificador de Deus.
Consequentemente são chamados e conclamados por ele á santificação. O Dr. Leon Morris comenta essa passagem Paulina, no intuito de lançar alguma luz sobre esse tema.
Aqui a igreja é ademais definida como os santificados em Cristo Jesus e como os chamados para ser santos. Ambas expressões expõem o pensamento de que os cristãos são separados para o serviço de cristo. Santo é da mesma raiz de santificado. Para nós, a ideia comunicada por ambas as palavras é a de caráter moral elevado. Ao invés disso, o grego sugere a ideia de ser separado para Deus (conquanto, naturalmente, o caráter envolvido nessa separação não esteja fora de cogitação). ( Morris,Leon, 1983, p.27,28).
A santificação será levada á termo de forma ativa, através de uma resposta positiva ao chamado Divino. O cristão é chamado para ser santo (Ef. 1.4) e essa santidade é inerente a sua condição de filho.
Se for filho, logo o código genético o denunciará, algo irá demonstrar essa filiação: sejam os traços físicos, os trejeitos ou mesmo a personalidade. De modo semelhante acontece com a filiação Divina, se alguém é de fato filho de Deus, isso ficará demonstrado através de suas obras.
O evangelho de Mateus faz um registro significativo disso, ao mostrar o discurso que João batista dirigia ao povo de Israel: “produzi, pois, frutos dignos de arrependimento.” (Mt.3.8).
Para logo em seguida demonstrar que “bons frutos” apontam para a filiação de quem os produz:” já está posto o machado á raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada no fogo”( Mt.3.10).
O comentário feito por Tasker sobre estes textos de Mateus parecem indicar uma necessidade premente de uma resposta ao chamado Divino traduzida em uma vida de santidade.
[...] precisavam compreender também que arrependimento simplesmente verbal, que não resultasse numa conduta coerente com o mesmo, era inteiramente sem valor. [...] A necessidade de arrependimento era vital, pois o julgamento vindouro era tão inevitável e tão imediato, que o profeta podia já ver em sua imaginação a floresta onde o lenhador já estava trabalhando com seu machado contra a raiz das árvores condenadas à derrubada e à queima por terem deixado de produzir bom fruto (Tasker,p.38).
O povo Israelita arrogava sobre si mesmo a premissa de filiação divina, no entanto, suas obras davam um testemunho que contrariava fortemente aquilo que confessavam: “Se sois filhos de Abraão, praticai as obras de Abraão” (Jo.8.39).
Jesus de modo contundente desmascara os seus contemporâneos Judeus: “Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos” ( Jo.8.44).
Noutra ocasião, Mateus registra um comentário do mestre no qual dá farta ênfase à prática da vida Cristã idônea e salutar, demonstrando inapelavelmente que as obras não salvam, todavia caracterizam o salvo, apontando para sua filiação:
“Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada no fogo. Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis” (Mt.7.19,20). São muitas as implicações no que concerne a conduta, com vistas à vida eterna, seja no que diz respeito ao cristão nominal ou como se refere o texto supra, aos falsos profetas.
Wanderley Nunes

REFERÊNCIAS.
Bíblia Sagrada – Revista e Atualizada – Edição 1996.
Bíblia de Estudo Pentecostal. Edição 1995.
COSTA, José C. de L. As Epístolas. FATEB, 2007. Obra não publicada.
KELLY, J. N. D. I e II Timóteo, Introdução e Comentário. Vida Nova e Mundo Cristão, S. Paulo, 1983.
MILLER, Ênio R. I Pedro, Introdução e comentário. Vida Nova e Mundo Cristão, S. Paulo, 1988.
RIENECKER, Fritz/ ROGERS, Cleon. Chave Linguística do Novo Testamento. Vida Nova, S. Paulo, 2007.
RUSCONI, Carlo. Dicionário do Grego do Novo Testamento. Paulus, S. Paulo, 2003.
SCHOLZ, Vilson. Novo Testamento Interlinear, Greco-Português. Sociedade Bíblica do Brasil, S. Paulo, 2004.
ZUCK, Roy B. A interpretação Bíblica. Vida Nova, São Paulo, 1997.
*Ensaio escrito por Wanderley Nunes.
1Zuck, Roy B. A Interpretação Bíblica, p.16, 19.
2Cl. 2.8.
3GONDIM, Ricardo. É Proibido. P. 69,
4Gn. 24.22.
5Gn.24.47.
6Gn. 24. 43. 44.
7Gn. 41. 42.43.
8Dn. 5.16 e 29.
9STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentencostal. p. 1934, 1935. MULLER, Enio R. I Pedro, Introdução e comentário. p. 33 a 35.
10Tradução do texto grego, feita W. Nunes.
11COSTA, José C. L. As Epístolas. p. 51. FATEBE, 2007.
12 KELLY, J. N. D. I e II Timóteo introdução e comentário. p. 70.
13Tradução do grego, feita por Wanderley Nunes.