quinta-feira, 29 de março de 2012

Usos, costumes e santificação

Há muitas controvérsias no meio Cristão no que tange a usos e costumes, sobretudo no que diz respeito ao uso de jóias. É bom que se note que para fazer uma séria interpretação de algum texto bíblico, é necessária a observação de alguns critérios:
época, cultura, quem escreveu, para quem a priori foi endereçado tal escrito, o que motivou o escrito, ou seja, por quê foi escrito1. Outro fator importante é, como se aplicar aos dias atuais os ensinamentos bíblicos, pois os princípios morais, sabe-se são eternos; já os culturais, estão circunscritos aos contextos nos quais foram produzidos.
Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo cristo”2.
A investigação que será desenvolvida neste trabalho buscará elucidar qual era o ideário da cultura judaica quanto ao uso de jóias. Será feita a principio uma análise do termo vaidade. A seguir, o uso de jóias será objeto de perscrutação à luz do Antigo testamento e de alguns dos seus principais personagens.
O Novo testamento ainda que de forma sucinta, terá algo a revelar, já que dois dos seus mais proeminentes textos serão traduzidos do original grego e analisados a partir do seu contexto.
O termo vaidade no Antigo testamento.
O vestir-se bem ou usar jóias parece nunca ter uma relação com o pecado ou a vaidade no antigo testamento, ao contrário, estar bem vestido era sinal de honra, fosse na família, na sociedade ou na vida religiosa.
O termo “vaidade” no antigo testamento é usado para adjetivar algo “vazio e inócuo”. Ricardo Gondim faz um comentário relevante do uso deste vocábulo.
Vaidade no hebraico advém [...] de habel, que significa vazio, oco. Seu uso no Antigo testamento estava relacionado ao abandono do único Deus verdadeiro e à busca de ídolos que não podiam satisfazer às necessidades de Israel pelo simples fato de não existirem. A adoração a ídolos, então, tornou-se sinônimo de vaidade, pois era como se o povo israelita estivesse buscando ajuda no vazio: Rejeitaram os estatutos e a aliança que fizera com seus pais, como também as suas advertências com que protestara contra eles; seguiram os ídolos e se tornaram vãos, e seguiram as nações que estavam em derredor deles, dos quais o Senhor lhes havia ordenado que não as imitassem. II Rs. 17.15. [...] No grego, vaidade é representada pelo substantivo mataiotes e também significa vazio. Não há qualquer relação, entre vaidade e o uso de jóias, roupas ou ornamentos. Seu significado, em primeiro lugar, refere-se ao mundo criado que, no pecado e sem preencher o propósito inicial para o qual foi criado, tornou-se vazio: Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou. Rm. 8.20. Vaidade – mataiotes - é também usada por Paulo para expor a forma de pensar e o estilo de vida dos gentios, que não conhecem a Deus: Isto, portanto, digo e no Senhor testifico que não mais andeis como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos. Ef. 4.17. Vaidade – mataiotes - também podia denotar as palavras impressionantes, mas vazias, de falsos mestres que muito falam, mas não possuem conteúdo nenhum: Porquanto, proferindo palavras jactanciosas de vaidade, engodam com paixões carnais, por suas libertinagens, aqueles que estavam prestes a fugir dos que andam em erro. II Pe. 2.18.3
Observa-se então que o termo vaidade tanto no Antigo, como no Novo testamento é utilizado para classificar algo como: passageiro e vazio, ou seja, algo que embora pareça ser de algum valor, não traz em si valor algum.
Para tentar lançar mais luz sobre isso, pode-se usar como exemplo o salmo 39.5, trocando o termo pura vaidade, por puro vazio.
Deste aos meus dias o cumprimento de alguns palmos; à tua presença, o prazo da minha vida é nada. Na verdade, todo homem, por mais firme que esteja, é puro vazio. (pura vaidade)
Depois de analisada a questão do termo vaidade, é pertinente que se observe o uso que Israel como nação, fazia do ouro e jóias, bem como alguns dos maiores vultos do Antigo testamento. Posteriormente, serão analisados os dois principais textos do Novo testamento, os quais são utilizados por aqueles que advogam a proibição do uso de ouro e jóias por parte da Igreja hodierna.
As jóias no Antigo testamento.
Há um importante relato em Gênesis. Abraão faz com que o seu servo Eliezer lhe prometa sob juramento, que lhe trará ao filho Isaque uma esposa digna, uma virgem que fosse de sua parentela.
É de conhecimento dos Cristãos, que a moça escolhida, Rebeca, é inclusive um tipo (símbolo) da Igreja escolhida do Novo testamento, a noiva do cordeiro. No entanto, o que é narrado em Gênesis 24 é um fato, não é uma parábola ou uma ilustração.
As escrituras afirmam que o servo Eliezer depois de ter a confirmação de que Rebeca era a escolhida a presenteou com jóias.
... tomou o homem um pendente de ouro de meio siclo de peso e duas pulseiras para as mãos dela, do peso de dez siclos de ouro.4
Na hora da refeição, Eliezer faz uso da palavra e relata para Labão toda sua trajetória e o que o trouxera ali (Gn. 24.33,41). E encerra o discurso dando um curioso detalhe do seu encontro com Rebeca.
Daí lhe perguntei de quem és filha? Ela respondeu: filha de Betuel, filho de Naor e Milca, então, lhe pus o pendente no nariz e as pulseiras nas mãos.5
É importante salientar, que Rebeca era uma moça virgem, de família, fazia parte da parentela de Abraão. Ou seja, preenchia todos os requisitos que o grande patriarca esperava, e era, antes de tudo, uma escolhida de Deus, de acordo com o que foi confirmado no propósito de oração do servo Eliezer.
Eis-me agora junto à fonte de água; a moça que sair para tirar água, e que eu disser: dá-me um pouco de água do teu cântaro, e ela me responder: bebe, e também tirarei água para os teus camelos, seja essa a mulher que o Senhor designou para o filho do meu Senhor.6
Sabe-se que a oração do servo de Abraão foi cumprida de forma literal (Gn. 24. 45, 46). Vale salientar, que após o pedido de casamento por parte de Eliezer a Labão e Betuel, e a pronta aceitação de ambos, (Gn. 24. 49, 51), Rebeca recebeu como presentes jóias de prata e vestidos (Gn. 24. 53).
O uso de jóias por parte do fiel José
De José bastaria se dizer que a Bíblia o relata como um dos homens mais fiéis de toda História sacra, ao lado de nomes como Daniel, Samuel, João batista e mais alguns poucos, os quais estão no rol daqueles que nunca “beijaram a lona do pecado.”
Homens dos quais “o mundo não era digno”(Hb.11.38). Homens de vida ilibada: (I Sm. 9.6 e 12.3,5; Dn. 6.4; Mt.11.11). Testemunho que as escrituras exortam que todo Cristão deve imitar; (Fp. 3. 17. 4. 8,9; Hb. 13.7).
As escrituras relatam que José resistiu ao pecado na casa de Potifar; (Gn.39.7,9). Manteve sua profissão de fé por anos a fio, apesar de tudo lhe parecer contrário (cerca de 13 anos - (Gn.37.2 e 41.46.), e por fim perdoou seus irmãos que tanto mal lhe fizeram - (Gn. 45.4,8 e VS. 14,15).
O que se deve atentar em tudo isso, é que o fiel José resistiu ao pecado, todavia, recebeu de bom grado as jóias e todas as honrarias que lhe foram oferecidas por Faraó.
Então, tirou Faraó o seu anel de sinete da mão e o pôs na mão de José, fê-lo vestir roupas de linho fino e lhe pôs ao pescoço um colar de ouro. E fê-lo subir ao seu segundo carro, e clamavam diante dele: inclinai-vos! Desse modo, o constituiu sobre toda a terra do Egito. 7
Daniel em Babilônia
Daniel é outro personagem bíblico digno de honra. Em vários momentos é demonstrada sua fidelidade e coragem, ao servir ao Deus único de Israel em cativeiro (estava na idólatra e politeísta Babilônia.):
  1. Recusou a fina alimentação real, por ser a mesma consagrada a ídolos, honrando a Deus com essa atitude (Dn. 1.3, 4 e VS. 8, 15).
  2. Não se dobrou ao decreto monárquico, que fazia do Rei uma divindade a quem o povo era obrigado a adorar, fazendo-lhe súplicas e orações - (Dn. 6.7,9 e VS. 10.,13). Sendo por esse motivo lançado na cova dos leões - (Dn. 6.16,17). De onde Deus o livrou - (Dn. 6. 21, 23).
  3. Este mesmo Daniel que em tudo demonstrou fidelidade e humildade, ao interpretar a visão da escritura na parede, consentiu que lhe pusessem roupas finas e um colar de ouro no pescoço.
Se puderes ler esta escritura e fazer-me saber a sua interpretação, serás vestido de púrpura, terás cadeia de ouro ao pescoço e serás o terceiro no meu reino. [...] Então, mandou Belsazar que vestissem Daniel de púrpura, e lhe pusessem cadeia de ouro ao pescoço, e proclamassem que passaria a ser o terceiro no governo do seu Reino. 8
O que levou então servos santos de Deus como Rebeca, José e Daniel a aceitarem o uso de jóias e roupas finas? A resposta mais clara e enfática que se poderia dar, conforme o que já foi analisado, é que o uso de jóias fazia parte da cultura dos povos antigos, chegando até os dias do novo testamento.
Vale ressaltar, que em nenhum momento na cultura veterotestamentária o uso de tais apetrechos era visto como pecado, pelo contrário, o uso de jóias e roupas finas parece sempre está ligado a honra e posição privilegiada, mesmo por parte dos maiores e mais proeminentes personagens bíblicos.
Outros exemplos do uso de jóias na cultura
político-religiosa do Antigo testamento
  1. Na saída do Egito, o povo levou jóias de prata e de ouro-(Ex.3.22 e 12.35,36).
2) A veste sacerdotal era luxuosíssima, de linho fino e púrpura - Ex.28.3,8. Vestes próprias daqueles que eram muito ricos (Lc. 16. 19).
3) Quando no deserto o povo apostatou da fé, de onde conseguiram ouro para derreter, a fim de fazer um ídolo ? (o bezerro de ouro). Conforme o texto bíblico, o ouro foi conseguido das argolas que estavam nas orelhas dos Israelitas (Ex. 32.2,4).
4) em provérbios 25.12, Salomão faz uma analogia que as repreensões do sábio para quem as ouve com atenção, são tão valiosas, como são pendentes e jóias de ouro. Se o uso de jóias fosse algo contrário a fé judaica, jamais ele teria feito uma analogia como essa.
Ademais, em Ageu 2.8, o Deus todo poderoso proclama: minha é a prata, meu é o ouro, diz o Senhor dos exércitos.
O uso de jóias no Novo testamento
O filho esbanjador (pródigo), de Lucas 15, gastou toda sua herança de forma dissoluta, todavia ao se arrepender e regressar humildemente para a casa do pai foi recebido com festa: “... trazei depressa a melhor roupa, vesti-o, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias...” (Lc. 15.22).
Tiago ao falar que o Cristão deve olhar a todos sem acepção diz: “Meus irmãos, não tenhais a fé em nosso Senhor Jesus cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas.
Se, portanto, entrar na vossa sinagoga algum homem com anéis de ouro nos dedos, em trajos de luxo, e entrar também algum pobre andrajoso, e tratardes com deferência o que tem os trajos de luxo e lhe disserdes:
Tu assenta-te aqui em lugar de honra; e disserdes ao pobre: Tu, fica ali em pé ou assenta-te aqui em abaixo do estrado dos meus pés.” (Tg. 2.1,3).
É importante que se observe, que neste texto a ênfase é em não se fazer acepção de pessoas, no entanto, fica muito claro que no pensamento de Tiago não há nenhum pecado em alguém está bem vestido e usar anéis de ouro, ao contrário, como outrora já foi mencionado, no pensamento Judaico vestir-se bem e usar jóias é sinal de honra.
Na ilha de Patmos, o apóstolo João ao ver Cristo revestido de glória, observou que ele tinha a altura do peito um cinto de ouro - (Ap.1.13). Seria uma incoerência e uma séria contradição das Escrituras, proibir que os Cristãos usem jóias e pendentes de ouro, enquanto os textos Bíblicos apontam para o próprio Jesus usando ouro, bem como a nova cidade toda revestida por esse precioso metal - (Ap.21.18).
Se houvesse uma proibição como essa nas escrituras, a Nova Jerusalém certamente seria o último lugar do mundo em que os remidos iriam morar.
Textos marcantes do Novo testamento.
I Pe. 3.1,5
Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido, para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem palavra alguma, por meio do procedimento de sua esposa, ao observar o vosso honesto comportamento cheio de temor.
Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranquilo, que é de grande valor diante de Deus.
Pois foi assim também que a si mesmas se ataviaram, outrora, as santas mulheres que esperavam em Deus, estando submissas a seu próprio marido...
Há de se observar, que o propósito da epístola Petrina era dar esperança aos Cristãos em sofrimento, e orientá-los na prática diária de sua fé.
Essa epístola foi escrita nos anos sessenta D.C, conforme alguns estudiosos como Donald C. Stamps e E. R. Müeller, que assim datam a redação desse escrito, levando em consideração traços indicadores da grande perseguição empreendida pelo Império Romano na pessoa de Nero (67 D.C)9.
Tendo em vista essa situação vivida pelas comunidades Cristãs da época, conclue-se então, que Pedro como judeu que era, logo, acostumado com o uso frequente de jóias por parte dos seus patrícios, não tinha em mente uma proibição quanto a vestes e jóias, além do mais, estava endereçando a epístola às comunidades de maioria gentílica - (I Pe. 1.1. e 2.10): “vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus...” Isso definitivamente não é dirigido a Judeus e sim a gentios.
Para melhor compreensão do texto petrino, segue uma tradução mais literal.
Da mesma maneira as mulheres, submetendo-se aos maridos, para que também alguns insubmissos à palavra, através do modo de vida das mulheres, sejam ganhos (convencidos) sem necessidade de palavra, observando vosso modo de vida puro (limpo) em temor.
O ornamento seja não o que está aparente, o penteado dos cabelos e o uso de adereços de ouro, ou no vestir-se. Mas o homem oculto no coração, no incorruptível espírito manso e pacífico, que é de grande valor perante Deus.
Pois desse modo anteriormente, se ornamentavam as santas mulheres que depositavam sua confiança em Deus, submetendo-se aos seus maridos.10
Pedro deixa claro, que a veste que deve ocultar (esconder) o homem interior, é um espírito manso e pacífico, a fim de que o ego não sobressaia, maculando assim o comportamento digno legado pelas santas do passado.
É importante que se note, que Pedro como Judeu, não lança ao desprezo a aparência, entretanto, deixa patente que isso diante de Deus é relegado ao segundo plano, muito embora não haja por parte do apóstolo nenhuma censura ou ordem proibitiva no que se refere às vestes, o uso de jóias e adereços de ouro.
I Tm. 2.9,10
“Da mesma sorte, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispendioso, porém com boas obras (como é próprio às mulheres que professam ser piedosas).”
Escrita por volta de 65 D.C, com o propósito de orientar Timóteo quanto ao comportamento adequado do líder dentro da comunidade11. Isso fica explícito no versículo chave: “Mas, se tardar, para que saibas como convém andar na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade” (I Tm.3.15).
Parece trazer em si uma preocupação com o modo comportamental dos Cristãos da comunidade que o jovem Timóteo apascentava. Os versículos 9 e 10 do capítulo 2, trazem em si a continuidade de pedido do verso 8, que era a oração feita com pureza , sem ira e animosidade.
No verso 10 é enfatizando o propósito Paulino, que as mulheres Cristãs dessem testemunho, antes de qualquer coisa, com suas obras. É relevante se observar o comentário de J. N. D. Kelly sobre essa passagem:
Não era a idéia de Paulo que ás mulheres que frequentavam as reuniões da Igreja devessem faltar adorno [...] o apóstolo quer que a seção feminina da congregação se torne atraente, porém com boas obras (como é próprio das mulheres que professam ser piedosas).12
Uma tradução mais literal
Do mesmo modo também as mulheres em comportamento moderado, com decência e autocontrole se ornamentem, não com penteado e adereço de ouro ou pérolas ou roupas caras, mas como é próprio a mulheres que se declaram piedosas (que servem com reverência a Deus), através de boas obras.13
Percebe-se que a tônica de I Tm. 2.9,10 é uma chamada á prática de uma fé Cristã genuína (boas obras), muito embora o portar-se com decência e pudor seja uma constante nos ensinos do apóstolo dos gentios, e que ademais, cabe para a vida Cristã em todas as áreas.
Vestindo-se para a glória de Deus
É salutar que todo Cristão tenha autodisciplina, buscando sempre que em suas práticas Deus seja louvado:”portanto,quer comais,quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus”. I.Co.10.31 .
A temperança, (domínio próprio) que faz parte do fruto do Espírito (Gl.5.23),deve ser uma virtude cultivada por todo cristão piedoso que busca fazer a vontade do seu Senhor.
Quando esteve diante do governador Festo,Paulo testemunhou da sua fé falando a essa autoridade secular da justiça de Deus,do juízo vindouro, e claro, do domínio próprio. (At.24.25).
Vive-se em um tempo em que os valores destoam quase que totalmente daqueles apontados pelas escrituras, são tempos difíceis (II Tm.3.1),quando a igreja tem sido atacada,vilipendiada,ridicularizada de todas as formas por uma filosofia de vida aética e que supervaloriza o ter em detrimento do ser.
Nesse contexto, parece estranho se falar em ética,decoro, e sobretudo em santidade... As escrituras, no entanto, exortam a que se busque a santificação em todo o procedimento. (I.Pe.1.15).
E isso inclui as vestes, ou o modo de se vestir. Questões como: o que vestir, no que concerne a cultura pode ser relativo, já que as vestes dos Israelitas possuíam suas peculiaridades culturais próprias da sua região, entretanto, o que se pode depreender nas entrelinhas, é que o povo de Deus relatado nas escrituras era cuidadoso no quesito vestimenta.
Os homens usavam túnicas, que eram vestes semelhantes a camisas, que se prolongavam dos ombros aos joelhos. Um cinto ou uma faixa, de nome “cinturão” no novo testamento, era enrolado em volta da cintura; e também eram usadas sandálias grosseiras nos pés, e um turbante ou chapéu na cabeça. [...] As mulheres usavam uma túnica curta como roupa de baixo, e algumas vezes usavam uma túnica externa brilhante colorida que descia até os pés. As mulheres mais elegantes usavam cosméticos em grande abundancia o que incluía o batom, sombras para os olhos, pinturas das sobrancelhas, e, quando se tratava de jóias, usavam brincos e pendentes no nariz. [...] na palestina os homens deixavam a barba crescer. Seus cabelos eram conservados um pouquinho mais longos de que em outras regiões , mas não tão compridos como se vê nas gravuras que representam pessoas dos tempos bíblicos. A moda na palestina, usualmente se mantinha em níveis conservadores para ambos os sexos. (Gundry-Robert H,Panorama do Novo testamento,p.29.)
Nota-se, conforme as afirmações supracitadas, que embora o povo palestino tivesse cuidado com a aparência, jamais tal zelo parece descambar para uma atitude vulgar ou amoral.
Percebe-se também, que as escrituras desde o principio dão uma conotação negativa para a nudez e o despudor.
Quando houve o pecado do casal no Éden, o que se pode observar é que ambos ao se acharem nus ficaram bastante envergonhados, a ponto de providenciarem vestes as quais, ao que tudo indica, não satisfizeram os padrões Divinos de decência (Gn 3.7), tanto que foram providenciadas vestes de peles de animais, e o próprio Deus os vestiu (Gn.3.21).
No episódio em que Noé embriagou-se e expôs sua nudez, foi louvada por ele a atitude respeitosa dos seus filhos Sem e Jafé, que fizeram questão de não observarem a situação constrangedora de seu pai, ao contrário,além de não verem Noé sem roupas, evitaram também fazer alarde do que acontecera.
De modo contrário, Cam não teve o cuidado de preservar o seu pai, viu a sua nudez e ainda comunicou o que vira aos seus irmãos (Gn.9.20-25). Em Ex.28.42,43 é relatado o cuidado que o sacerdote deveria ter ao prestar o serviço no santuário, produzindo para si roupas intimas (calções) com o intuito de não revelar sua nudez, pois isso seria um ato abominável ao Senhor, Digno de morte.
No Novo testamento a nudez traz em si uma conotação negativa, demonstrando sempre está ligada ao pecado e ao mal.
Isso pode ser visto na ocasião em que Jesus libertou o geraseno da legião demoníaca que o afligia, o texto bíblico afirma que logo após ser liberto, e estar no uso normal das suas faculdades mentais, uma das primeiras atitudes desse homem foi vestir-se (Mc.5.15).
Muito embora isso não signifique que todas as pessoas que efetivamente usem pouca roupa, ou andem seminuas, estejam endemoninhadas, porém não se pode negar que há na nudez influências do deus deste século (II.Co.4.4), que indubitavelmente cega o entendimento dos incrédulos .
No âmbito espiritual, a nudez traz em si o significado de desgraça; que significa está destituído da graça, ser desafortunado, infeliz. Isso é o que se vê no registro de apocalipse, quando João relata que Laodiceia estaria cega e enganada por causa das suas iniquidades.
Observa-se como uma das peculiaridades que a faziam ser rejeitada por Deus era sua nudez, da qual não se envergonhava (Ap.3.17,18).
É sabido que a linguagem do livro de apocalipse é simbólica, no entanto, tal gênero ao usar a figura da nudez, mesmo apontando para o âmbito espiritual, usa-a partindo do pressuposto de que a nudez é em si mesma vergonhosa. Do mesmo modo, nota-se em coríntios, Paulo usando esse vocábulo no sentido de reprovação.
E, por isso, neste tabernáculo,gememos,aspirando por sermos revestidos da nossa habitação celestial; se, todavia, formos encontrados vestidos e não nus. Pois, na verdade, os que estamos neste tabernáculo gememos angustiados, não por querermos ser despidos, mas revestidos,para que o mortal seja absorvido pela vida.(IICo.5.2,4.)
Os escritos Paulinos estão eivados de ensinamentos sobre ética, moral e bons costumes.
Em alguns deles, chama atenção para que se evite o escândalo, ou atitudes que o tragam sobre a igreja ( Rm.14.21, 1co.10.32 , 2Co.6.3, Fp1.10).
A fim de que isso não ocorra, o caminho provido por Deus para o cristão sem dúvida, é a santificação, que se inicia no momento em que alguém é recebido por Deus em seu santo aprisco (2Tss.2.13), e segue por toda vida cristã (2.Co.7.1)
A santificação dos filhos de Deus
Para se falar em santificação necessário se faz conhecer o significado da palavra santo. O dicionário bíblico John Davis traz uma argumentação na busca de elucidar o significado deste vocábulo.
A palavra hebraica geralmente usada é kadosh, que significa “separado”, ”santo”. No novo testamento, é representada pela palavra grega hagios. Emprega-se para designar as pessoas ou coisas destinadas ao uso sagrado, bem como os dias reservados a serviço religioso,Êx20 8;30.31;Lv21.7;Nm5.17;Ne8.9;Zc14.21,tudo que a lei cerimonial manda separar,Êx22.31;Lv20.26, a purificação da carne e do espírito ,2 Co7.1; I Ts 4.7, inclusive a separação dos falsos deuses e das práticas pagãs, Lv20.6,7;21.6. Em um sentido mais lato, Deus é santo porque é separado de todos os outros entes pelas suas infinitas perfeições, como, a sabedoria, o poder, a santidade, a justiça, a bondade, e a verdade, cuja glória enche a terra, Is. 6.3. Os mesmos santos anjos rendem preito à sua santidade.( Davis, John, novo dicionário da Bíblia,TRD.J.r. Carvalho Braga- São Paulo,Sp: Hagnos,2005.p.1114.)
Para o apóstolo dos gentios, Deus chamou os seus filhos para a santificação; Ef.1.4 e para que sejam verdadeiros luzeiros em um mundo pervertido e entregue a escuridão (Fp.2.15).
O professor Walter t. conner faz um relevante comentário sobre a ideia ortodoxa da santificação em dois prismas aparentemente distintos: a santificação judicial paga por Cristo na cruz e imputada sobre o pecador quando crê, e a santificação refletida na vida como resposta positiva do eleito ao chamado de Deus.
O emprego predominante que Paulo faz do verbo santificar e do substantivo santificação refere-se à iniciação na vida cristã. Mas o apóstolo emprega também esses vocábulos quando trata da pureza moral da parte do crente em sua vida diária. Quem pensar que Paulo foi um idealista teórico está redondamente enganado. O apóstolo insiste com seus conversos para que tenham uma vida bastante moralizada, e lhes apresenta o poder do Espírito como a esperança de assim se portarem no meio da sociedade pagã. {...} Assim o Apóstolo ardorosa e insistentemente batalhava pela santificação, combatendo a impureza, e notadamente a imoralidade sexual (Romanos 6:19-23;I Tessalonicenses 4;1-8;5:23; II Tss..2.13). No trecho da carta aos Romanos, Paulo insiste em doutrinar que não se pode servir a dois Senhores; e que não se pode servir a um tempo ao pecado e á retidão. Servir ao pecado significa morte; servir a Deus e a retidão significa santificação e vida eterna. (Conner,1961,p.135)
A santificação a partir do pensamento esposado por Conner (1961) dá oportunidade a que se busque uma linha teológica mais esclarecedora, que de fato encontra lugar e propósito no pensamento de Wayne Grudem.
Obedecendo a certa ordem sistemática em três estágios: 1) começa na obra da regeneração efetuada na vida do crente quando da sua conversão 2) é progressiva, não alcançando um estágio satisfatório nessa vida 3) só é alcançada em plenitude no momento do encontro final do cristão com Deus, seja no momento da morte, ou na vinda do Senhor.
  1. Começa na obra da regeneração. No momento em que o pecador se rende a Cristo é operada nele a obra da justificação: “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.” (Rm.8.1)
  2. O texto paulino fala de uma ação judicial da parte de Deus. Estando em Cristo, o pecador não estar só livre do pecado, mas sim justificado dele, isso implica em que todos os pecados dantes cometidos não foram somente apagados por Deus, mas pagos pelo sacrifício vicário de Jesus, que tomou o lugar do pecador, isentando-o de ser condenado por eles, e mais ainda, Jesus não só salvou o pecador, sofreu e morreu por ele (I.Pe.2.24).
O pecador no momento em que crê na morte salvífica de Jesus recebe pela fé a justiça que vem de Cristo, ou seja, a justiça imputada pela fé: “Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim como dívida. Mas ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça.” (Rm.4.4,5).
Enquanto a justificação (grego dikaiosune #) foi uma declaração de absolvição, da parte de Deus, que nos deu o status de santos, sem nenhuma condenação (Rm.8.1), não entendemos a santificação da mesma maneira.[...] Obviamente os que recebem o Espírito de Deus , incorporados em Cristo, são posicionalmente santos. Por isso um dos títulos mais comuns atribuídos à igreja no novo testamento é “santos”. Neste sentido os dois vocábulos, “justos” e “santos”, são sinônimos. [...] Parece fundamental não esquecer que Cristo foi feito para nós esta santificação que almejamos (I.Co.1.30). Mas como entender esta verdade de maneira prática? Como podemos tornar em comportamento o que já somos posicionalmente em Cristo?[...] O caminho bíblico que devemos seguir não apaga a vontade própria. Não opta pela apatia ou o desligamento, mas pela união. Sem uma ligação vital com Cristo não há possibilidade de justificação (Cl.1.27). Sem Cristo atuando em nós pelo poder do Espírito, não haverá avanço na santificação (Cl.1.27). (Shedd,1990,p.56,58).
Essa asseveração do Dr. Shedd, aclara a ideia de que a santificação estar intrinsecamente ligada e subordinada a um relacionamento pessoal do homem com o Senhor Jesus, como peremptoriamente disse o mestre:
“Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. [...] Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.” (Jo.15.4,5).
Assim, o crente justificado pela fé pode ser inserido no corpo de Cristo (Igreja), participando da família de Deus. Obviamente nesse momento, além de receber a justificação imputada por Cristo, de forma simultânea recebe também a santificação: ”Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos foi dado beber de um só Espírito (I Co.12.13.).
O acesso á comunhão do corpo de Cristo, é concedida ao pecador mediante a justiça observada no sacrifício vicário de Jesus : “Sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus.”(Rm.3.24.)
Calvino chegou a exclamar que provavelmente não havia nas escrituras uma passagem que ilustrasse de forma tão agigantada a eficácia da justiça divina demonstrada em Cristo como esse versículo de Romanos.
Pois se o plano de salvação é a causa eficiente; o sangue do cordeiro de Deus é a causa material; a fé que o pecador obtém ao ouvir a palavra (Rm.10.17) é logo o instrumento usado por Deus para trazer o pecador ao arrependimento (Calvino,2001,p135).
Tudo isso redundando em glória ao Deus todo poderoso, mediante seu projeto inequívoco, articulado na eternidade (Ap.13.8), e sua perfeita justiça levada a efeito na expiação do Deus encarnado na cruz( At. 20.28).
Ainda no que concerne á justificação que o Senhor imputa ao pecador no momento em que esse crê, que concomitantemente leva-o à santificação, se faz necessário a observação que isso é sobretudo, obra da soberana graça de Deus
[...] os dois termos (doreá-dom gratuito, e cháris- graça) ocorrem associados outra vez em 5.17. Assim, tanto pela forma por que se opera como por suas profundas origens em Deus, é a justificação estranha ao principio de retribuição que dominava o regime da lei (tal como os judeus pelo menos o compreendiam); não tem o homem de prover uma “obra” cuja dificuldade comprometeria a proposição da salvação. O que o homem não pode fazer é Cristo Jesus que o fez. O pecador era escravo de uma situação; o Cristo intervém e o liberta. Tudo se passa até este ponto em favor dele, fora dele, porém. [...] a libertação é a obra de Cristo mediante a comunhão que une o crente a Cristo. Requerem-se ambos os sentidos, como em fp.2.5. As graças presentes em Cristo são oferecidas e acessíveis aos crentes em união com Cristo e seu corpo eclesiológico. (Leenhardt,1969,p.101,102).
Desde então, por ser partícipe da santidade de Deus, o cristão anda na busca continua da santificação pessoal: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor (Hb.12.14).
O vocábulo “segui” (diokete) está posto no sentido de perseguir, envidar esforços em busca de algo (chave linguística). “É uma palavra enfática, e expressa algo do afã da perseguição de caça” (Guthrie, 1984).
A ideia de correr atrás denota mais uma vez o lado dicotômico da santificação, que levará impreterivelmente á análise da necessidade de se responder em santidade de vida, a santidade adquirida por imputação Divina.
  1. A santificação é progressiva.
“Mas a vereda do justo é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Pv.4.18). Esse texto parece demonstrar que o caminho estreito do justo (é isso que significa a palavra vereda) ( ), foi decretado por Deus como um caminho de progresso na sua vida de fé .
Cada vez mais luz, significando cada vez mais iluminação, mais conhecimento, mais santificação. O versículo posterior dá uma clara indicação disso, quando analogicamente cita o caminho do ímpio: “O caminho dos perversos é como a escuridão; nem sabem em que eles tropeçam”. (Pv.4.19).
Enquanto o ímpio nem discerne em que está tropeçando, ou qual a verdadeira causa desse tropeço, o cristão de modo contrário, possui cada vez mais luz que lhe outorga discernimento (I Co.2.15) e o empurra sempre para diante, rumo à perfeição.
O conhecimento é em si mesmo provedor de liberdade: ”Feliz o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire conhecimento” (Pv.3.13).
“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo.8.32). O contrário disso é derrota, destruição: “O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento [... [rejeitaste o conhecimento... (Os. 4.6).
isso fica explícito nas palavras de Jesus a respeito da rejeição que sofreu por parte do seu povo, e que lamentou profundamente:” E dizia: ah! Se conheceras por ti mesma, ainda hoje, o que é devido á paz! Mas isto está agora oculto aos teus olhos.
(Lc.19.42). ou seja, faltava a Jerusalém o conhecimento de quem era aquele homem que lhes estava trazendo as novas do Reino de Deus.
O conhecimento por si só não fará diferença alguma se não for aplicado, pois ele é o elemento que traz conscientização e entendimento, entretanto, em si mesmo não há vida.
O conhecimento carece de um elemento catalisador, e isso se refere a toda esfera do conhecimento humano. Esse elemento catalisador chama-se ação, que é o elemento que coroa o conhecimento. Conhecimento sem uma aplicação dinâmica é como a fé sem obras; vazia, inócua e morta (Tg.2.17).
A santificação perpassa nitidamente pelo caminho da ação. Como foi observado, a santificação traz em si um elemento dicotômico, já que em si mesma é ativa e passiva.
Ativa, pois é geradora de mudança de status daquele que a recebeu. Isso pode ser observado nos crentes de Corinto, embora possuíssem muitos problemas de ordem espiritual (eram carnais), de ordem moral (eram por vezes amorais), receberam de Paulo a nomenclatura de santos, deixando explícita essa dicotomia:
“à Igreja de Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos...”( I Co. 1.2).
Os Coríntios haviam sido santificados a partir do momento em que se tornaram de fato pertencentes a Cristo, e esses mesmos Coríntios, por serem santificados devido a esse relacionamento passivo com Deus, se tornaram objeto do amor santificador de Deus.
Consequentemente são chamados e conclamados por ele á santificação. O Dr. Leon Morris comenta essa passagem Paulina, no intuito de lançar alguma luz sobre esse tema.
Aqui a igreja é ademais definida como os santificados em Cristo Jesus e como os chamados para ser santos. Ambas expressões expõem o pensamento de que os cristãos são separados para o serviço de cristo. Santo é da mesma raiz de santificado. Para nós, a ideia comunicada por ambas as palavras é a de caráter moral elevado. Ao invés disso, o grego sugere a ideia de ser separado para Deus (conquanto, naturalmente, o caráter envolvido nessa separação não esteja fora de cogitação). ( Morris,Leon, 1983, p.27,28).
A santificação será levada á termo de forma ativa, através de uma resposta positiva ao chamado Divino. O cristão é chamado para ser santo (Ef. 1.4) e essa santidade é inerente a sua condição de filho.
Se for filho, logo o código genético o denunciará, algo irá demonstrar essa filiação: sejam os traços físicos, os trejeitos ou mesmo a personalidade. De modo semelhante acontece com a filiação Divina, se alguém é de fato filho de Deus, isso ficará demonstrado através de suas obras.
O evangelho de Mateus faz um registro significativo disso, ao mostrar o discurso que João batista dirigia ao povo de Israel: “produzi, pois, frutos dignos de arrependimento.” (Mt.3.8).
Para logo em seguida demonstrar que “bons frutos” apontam para a filiação de quem os produz:” já está posto o machado á raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada no fogo”( Mt.3.10).
O comentário feito por Tasker sobre estes textos de Mateus parecem indicar uma necessidade premente de uma resposta ao chamado Divino traduzida em uma vida de santidade.
[...] precisavam compreender também que arrependimento simplesmente verbal, que não resultasse numa conduta coerente com o mesmo, era inteiramente sem valor. [...] A necessidade de arrependimento era vital, pois o julgamento vindouro era tão inevitável e tão imediato, que o profeta podia já ver em sua imaginação a floresta onde o lenhador já estava trabalhando com seu machado contra a raiz das árvores condenadas à derrubada e à queima por terem deixado de produzir bom fruto (Tasker,p.38).
O povo Israelita arrogava sobre si mesmo a premissa de filiação divina, no entanto, suas obras davam um testemunho que contrariava fortemente aquilo que confessavam: “Se sois filhos de Abraão, praticai as obras de Abraão” (Jo.8.39).
Jesus de modo contundente desmascara os seus contemporâneos Judeus: “Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos” ( Jo.8.44).
Noutra ocasião, Mateus registra um comentário do mestre no qual dá farta ênfase à prática da vida Cristã idônea e salutar, demonstrando inapelavelmente que as obras não salvam, todavia caracterizam o salvo, apontando para sua filiação:
“Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada no fogo. Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis” (Mt.7.19,20). São muitas as implicações no que concerne a conduta, com vistas à vida eterna, seja no que diz respeito ao cristão nominal ou como se refere o texto supra, aos falsos profetas.
Wanderley Nunes

REFERÊNCIAS.
Bíblia Sagrada – Revista e Atualizada – Edição 1996.
Bíblia de Estudo Pentecostal. Edição 1995.
COSTA, José C. de L. As Epístolas. FATEB, 2007. Obra não publicada.
KELLY, J. N. D. I e II Timóteo, Introdução e Comentário. Vida Nova e Mundo Cristão, S. Paulo, 1983.
MILLER, Ênio R. I Pedro, Introdução e comentário. Vida Nova e Mundo Cristão, S. Paulo, 1988.
RIENECKER, Fritz/ ROGERS, Cleon. Chave Linguística do Novo Testamento. Vida Nova, S. Paulo, 2007.
RUSCONI, Carlo. Dicionário do Grego do Novo Testamento. Paulus, S. Paulo, 2003.
SCHOLZ, Vilson. Novo Testamento Interlinear, Greco-Português. Sociedade Bíblica do Brasil, S. Paulo, 2004.
ZUCK, Roy B. A interpretação Bíblica. Vida Nova, São Paulo, 1997.
*Ensaio escrito por Wanderley Nunes.
1Zuck, Roy B. A Interpretação Bíblica, p.16, 19.
2Cl. 2.8.
3GONDIM, Ricardo. É Proibido. P. 69,
4Gn. 24.22.
5Gn.24.47.
6Gn. 24. 43. 44.
7Gn. 41. 42.43.
8Dn. 5.16 e 29.
9STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentencostal. p. 1934, 1935. MULLER, Enio R. I Pedro, Introdução e comentário. p. 33 a 35.
10Tradução do texto grego, feita W. Nunes.
11COSTA, José C. L. As Epístolas. p. 51. FATEBE, 2007.
12 KELLY, J. N. D. I e II Timóteo introdução e comentário. p. 70.
13Tradução do grego, feita por Wanderley Nunes.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Existe pecado maior ou menor?


No início da era da Igreja se falava em pecados veniais, aqueles ditos mais “leves”, “perdoáveis” e em pecados mortais, para os quais não havia perdão. Ainda hoje o catecismo católico trata desse tema, mas a grande questão é : O que as Escrituras falam a respeito? Há diferença nos pecados? Deixemos a Bíblia falar.
“Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus” ( Mt. 5.19).
“Portanto, eu vos digo: Todo o pecado e blasfêmia se perdoará aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada aos homens. E, se qualquer disser alguma palavra contra o Filho do homem, ser-lhe-á perdoado; mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste século nem no futuro” ( Mt.12. 31,32).
“Respondeu Jesus: Nenhum poder terias contra mim, se de cima não te fosse dado; mas aquele que me entregou a ti maior pecado tem” (Jo. 19.11).
Nos três textos citados fica explícito que Deus faz diferença sim entre a gravidade e o tipo de pecado. Em Mt. 5.19 podemos observar que há no pensamento de Jesus mandamentos maiores e menores, isso é ratificado em Mt. 22. 35-40. As Escrituras declaram que toda a plenitude de Deus habitou em Jesus (Cl. 1.19), assim como no corpo dele Deus habitou totalmente (Cl. 2.9).
Logo, havia diferença entre um ataque pessoal ao Jesus homem, porém, resistir a palavra do Senhor e reputar as obras do Espírito Santo em Cristo como obras do diabo, era blasfemar contra Deus, e consequentemente pecar para a morte (Mc.3. 29; I Jo. 5.16).
Seguindo essa linha de pensamento podemos observar que uma atitude de resistência ao Espírito de Deus, não dando ouvidos a sã doutrina, caracteriza o incrédulo e pecador : “Quem é de Deus escuta as palavras de Deus; por isso vós não as escutais, porque não sois de Deus”. Jo. 8.47.
Mateus 5.27, 28
“Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. Eu, porém, vos digo, que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela”. (Mt. 5. 27, 28). Este é sem dúvida, um dos textos mais usados para se argumentar que todos os pecados são iguais, entretanto, qual é o seu real contexto, a que ele se refere?
No versículo 20 do referido capítulo Jesus afirma que a justiça dos seus discípulos deveria exceder a dos escribas e fariseus, e há inclusive, uma boa explicação para tal afirmação. Os religiosos da época de Jesus viviam uma fé exclusivamente legalista e ritualista, onde não havia lugar para o que vinha do Espírito (Mt. 23.1-7).
Jesus então mostra-lhes que não basta possuir uma religião austera e sacramental, isso não muda o coração do homem, no máximo ele será “educado” na sua religião, o mal que porventura exista (e existe!) não será vencido com penitências, jejuns, vigílias e afins. O pecado só perde sua força mediante o novo nascimento, e isso, só Deus faz.
Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome; Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus (Jo.1.12,13).
Logo, o que Mt. 5. 27, 28 retrata é a excessiva pecabilidade do homem e a inutilidade de uma religião meramente formal, que desprovida de uma ação do Espírito não possui poder para mudar o lugar de onde brotam as maldades humanas: O coração. Aqui cabe perfeitamente a asseveração do mestre : Abandonar apenas a prática não livra da maldade que é peculiar ao homem que não nasceu de novo. Se pode refrear a prática pecaminosa a título de uma santidade cristalizada pelo dogma, embora se continue pecando no campo das ideias e intenções.
O adultério, ao qual Jesus se refere, foi no “coração”, enfatizando a maldade interior, já que mais adiante Paulo, inspirado pelo mesmo Espírito Santo que estava em Cristo, fala da gravidade que é pecar contra o próprio corpo : “Fugi da prostituição. Qualquer outro pecado que o homem comete, é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo”. (I Co.6.18).
Tudo isso só reforça a ideia de que na verdade, há sim pecados maiores e menores. Ter desejos condenáveis pelas Escrituras é grave, porém cometer o pecado de fato, é muito mais grave. É claro que há a necessidade de se vencer o mal no âmbito mais importante e decisivo para a vida cristã: No coração.
“Guarda com toda a diligência o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida”.(Pv.4.23.)
O pecado para a morte
“Se Se alguém vir pecar seu irmão, pecado que não é para morte, orará, e Deus dará a vida àqueles que não pecarem para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo que ore.” (I Jo. 5.16.).
O texto Joanino parece iniciar com uma incongruência no que concerne ao pensamento do apóstolo, já que seus escritos de forma enfática apontam sempre para a segurança do cristão com relação a sua salvação e posição em Cristo (Jo. 5. 24, Jo.10.28, I Jo. 5. 13). Ele chama aquele que não pecou para a morte de irmão, no entanto, diz que se esse irmão não cometeu tal pecado deve-se orar por ele para que tenha vida.
Podemos observar claramente que o termo “irmão” aqui não está sendo usado no sentido de comunhão na fé, essa pessoa não é um cristão, pois no versículo 11 até o 13 do mesmo capítulo o apóstolo afirma que em Cristo temos a vida eterna, enquanto que esse “irmão” não tem vida espiritual, está morto.
“Se alguém vir seu irmão cometer um pecado que não é para morte, pedirá, e Deus dará a vida àqueles que não pecam para a morte”. (I Jo.5.16). Concluímos então que o termo “irmão” aqui está sendo usado em um sentido cortês, é como se dissesse “amigo”, “próximo”.
O ponto a ser aclarado é : “há pecado para morte, e por esse não digo que ore”. Outra vez podemos compreender o texto a partir do seu contexto. O versículo 18 diz que aquele que é nascido de Deus não peca, e é lógico que está falando do pecado que é para morte, pois o mesmo João na mesma epístola afirma categoricamente que todos nós pecamos e que se alguém diz que não peca é mentiroso (I Jo.1.8, 10).
Mediante o que vimos, temos condições de perceber que o cristão, aquele que é nascido de novo não pode pecar para a morte (leia o texto: Há pecado maior ou menor?), pois o Senhor o guarda e o maligno não lhe toca. Somente não sendo de Deus é que se pode resistir a sua voz e ultrajar o Espírito da graça (Jo. 8.47, Hb. 10.29), recebendo como recompensa a morte eterna.
Tg. 2.10
“Pois qualquer que guardar toda a lei, mas tropeçar em um só ponto, tem-se tornado culpado de todos.”
Para que comecemos entender Tg. 2.10 se faz necessário compreendermos que basicamente se trata de um escritor judeu-cristão, vivendo em um período em que ainda se desconhecia a teologia Paulina. Percebemos isso em seu estilo literário recheado de sentenças e máximas muito próprias do livro de provérbios.
A despeito de querermos analisar o verso 10, é imprescindível retrocedermos ao versículo 2 do mesmo capítulo, onde Tiago, por força do costume, chama o lugar de culto dos cristãos de “sinagoga”, traduzido equivocadamente em algumas versões em português como “vosso ajuntamento” ou “vossa reunião”. Tal expressão explicita um judaísmo muito presente no pensamento do líder de Jerusalém, assim como todo o desenvolvimento do seu escrito.
É relevante observar que Tiago está tratando da questão de se fazer acepção de pessoas. Vale ressaltar também, que esse apóstolo procura em toda a carta por uma convivência harmoniosa do cristianismo com o judaísmo, mesmo demonstrando em seu linguajar estar muito arraigado as suas raízes judaicas .
Ao combater a acepção de pessoas ele afirma que o que deve guiar o povo de Deus é o mandamento: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv.19.18). Sua argumentação segue no viés da moral e da ética, apelando sempre para o pensamento de que os “detalhes” da lei, no sentido em que retratam Deus em sua santidade interagindo com seu povo, não devem ser jamais desprezados.
Relegar tais “minúcias”, seria o mesmo que menoscabar a Deus e o seu caráter. Tiago apela então para o legalismo judaico a fim de preservar o espírito da lei, demonstrando que não basta o refrear algumas práticas condenadas pela torá, sem no entanto, ter comunhão com o Espírito que a inspirou. Seria como tentar fazer um leão aderir a natureza de um cão poodle permanecendo como um leão, o que seria uma tarefa impossível. O leão precisaria se transformar em um poodle, caso contrário, jamais sua natureza leonina poderia ser mudada.
Diferente daqueles que defendem um legalismo rígido nesse escopo textual, o que se depreende da assertiva do apóstolo é uma ênfase à impossibilidade de se cumprir a lei seguindo parâmetros meramente religiosos em nome de uma legalidade engessada e privada do Espírito.
Não sem razão, Tiago afirma que a igreja honra os ricos em detrimento dos pobres, muito embora, sejam eles os que os oprimam e os levem aos tribunais. Com isso, o escritor sacro está afirmando incisivamente que do mesmo modo que alguém pode não cometer adultério, porém ser homicida, aqueles estavam fazendo acepção de pessoas, e a despeito de serem guardadores rígidos da lei, estavam sendo julgados pela lei como transgressores.
Da mesma forma, guardando esses preceitos formais (não matar, não adulterar, etc...), entretanto, não amando ao próximo, que para Tiago é a lei “real”, leia-se: A verdadeira lei, ou lei maior, é pecar contra o promulgador dela. Assim, o que se pode observar é que o apóstolo direciona sua atenção ao Senhor, por isso diz : “O mesmo (Deus) que disse : Não adulterarás, também disse: Não matarás” (Tg.2.11).
O capitulo 2.1-13 por si só demonstra haver pelo menos um mandamento maior, que é o do amor ao próximo, sendo ele a base de sustentação de toda a lei. De nada vale uma lei pétrea que prescinde de um mandamento maior, o qual retrata sem prolegômenos o real caráter do seu legislador. Por essa ótica, se pode concluir que Tiago 2. 10 diz, e muito claramente, que o cristão reflete em amor e misericórdia a figura do seu Deus, pois ele é amor.
Pr. Wanderley Nunes.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Pastores políticos ou políticos pastores?


É comum a todo humano o não estar satisfeito com sua disposição ante a vida e a sociedade, creio até ser essa uma fagulha divina a soprar incessante no espirito do homem. A busca pelo crescimento, o instinto cientifico que forja o saber e a pesquisa, e que traz consigo o sabor inebriante das vitórias, conquistas e reconhecimento, recompensa justa de um trabalho bem feito.
O que está sendo posto em cheque aqui entretanto, não é a possibilidade de mudança de atitude, profissão ou modo de encarar a vida, para tudo isso Deus tem dado liberdade ao homem. Falamos de “ chamado” ou “vocação” que vem da palavra latina vocare = chamar. Vocatio = chamamento, chamar, eleger, escolher.
E é ai onde reside toda a importância da nossa discussão. No uso dos dons e talentos naturais, os quais sem sombra de duvida também nos são dados por Deus, juntamente com eles se recebe o direito de não utilizá-los e/ou seguir um outro caminho, sem prejuízo para si ou para os outros no âmbito eterno. Todavia, quando se trata do vocatio Divino a decisão humana terá sempre implicações eternas.
Se voltarmos o nosso olhar para o vocatio apostólico iremos vislumbrar de forma inconteste o que Deus espera dos seus ministros. Em Mateus 4.17-19 vemos o registro disso. Pedro e André ouvem a voz do Mestre e abandonam o labor profissional, daquele momento em diante começam a aprender o que é ser um ministro do Reino. É pertinente a observação de que os discípulos deixam para trás suas vidas e seus sonhos, a fim de viverem a vida e o projeto de Reino.
Vemos claramente no episódio em que desesperançados devido a morte de Cristo, buscam voltar a sua antiga vida e profissão, o que sucede? Fracassam, pois não eram mais pescadores de peixes e sim de almas. “ Disse-lhes Simão Pedro: Vou pescar. Dizem-lhe eles: Também nós vamos contigo. Foram, e subiram logo para o barco, e naquela noite nada apanharam.” Jo.21:3. O mesmo se deu com Paulo, abandona todas as perspectivas de uma carreira rabínica no judaísmo, por causa do vocatio Divino.
“ E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo”. Fp. 3.8. Caminhando em direção ao contexto desse escrito Paulino, podemos de forma inequívoca ver que o apostolo está tratando da sua vida e posição no mundo hebreu. Podemos ouvir o vociferar da sua palavra escrita quanto ao Divino chamado para o ministério: “ Ninguém que milita se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra.” II Tm 2.4.
O proeminente pastor Billy Graham parece ter compreendido muito claramente o seu vocatio Divino. Ao receber o convite para concorrer à presidência da República dos Estados Unidos da América, recusou dizendo: “Por acaso eu trocaria o Santo Ministério da Palavra de Deus por um cargo tão insignificante?” Pastores políticos ou políticos pastores? Definitivamente não há como se equacionar tal problema sem perpassar à máxima maquiavélica em que “ os fins justificam os meios.”
Entendo a importância da política e a urgência que a igreja tem de se posicionar como luz e sal que é, entretanto, entendo também que Deus tem os seus vocacionados para essa tão importante empreitada, a qual não sobrepuja nem de longe a “eleição” feita àquele chamado para “presidir” as ovelhas do Senhor.
Pr. Wanderley Nunes

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

I Encontro cristão: Somente pela Graça

Cair no Espirito

imageMuito tem se falado nos últimos dias sobre a prática de “cair no espírito”. Continuamente nos questionam: “existe apoio Bíblico para o que se observa em algumas igrejas?” Para responder tal indagação é necessário buscarmos a gênese dessa prática, que se metamorfoseou em um movimento que ganhou o epíteto de “cai cai”.
Apesar de não ser algo novo, o “cair no espírito”, assim nominado, passou a se tornar famoso em 1994, devido aos cultos realizados no templo da Igreja Comunhão da Videira do Aeroporto de Toronto, no Canadá, que dava farta ênfase as manifestações físicas do que se acreditava ser uma poderosa obra do Espírito de Deus.
Logo os cultos naquela localidade passaram a se tornar bastante concorridos; com avidez as massas fizeram do “cair no espírito” um sonho de consumo, um novo manancial, ou o que costumamos chamar: uma sobrebenção. E foi justamente por esse viés que a Igreja do Aeroporto, como hoje é conhecida, tornou-se célebre em todo o mundo.
Não nos cabe nesse espaço criticar, nem denegrir a imagem de ninguém, pois já existe muita gente fazendo isso, o que é interessante que se faça é uma análise neotestamentária do assunto, não com o intuito de ridicularizar quem quer que seja, mas buscar o esclarecimento através de uma análise lúcida e extremamente Bíblica, a fim de que o leitor que é amante da palavra de Deus possa ser incitado à reflexão e ao pensar Bíblico.
Cair na presença de Deus
Nos limitaremos a tratar dos episódios neotestamentários registrados antes de Pentecostes e depois de Pentecostes, pois se você é cristão, urge compreender que o cristão está debaixo da nova aliança instituída por Deus (Hb. 8.6; 12.24), outrossim, é pertinente a observação dos contextos em que cada episódio se deu, as reações dos personagens neles inseridos, bem como, os resultados advindos de tais fatos.
Paulo
A experiência de Paulo é um exemplo magnífico de quem se encontra com Deus, ele cai por terra não por causa do Espirito que vem sobre ele, mas pelo resplendor de luz que o cerca, deixemos o texto falar por si só: “Ora, aconteceu que, indo eu já de caminho, e chegando perto de Damasco, quase ao meio-dia, de repente me rodeou uma grande luz do céu. E caí por terra, e ouvi uma voz que me dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? E eu respondi: Quem és, Senhor? E disse-me: Eu sou Jesus Nazareno, a quem tu persegues” (At. 22.6-8).
É interessante que se observe que Paulo cai por terra, porém mantém a lucidez, sabe perfeitamente o que está acontecendo a sua volta. Também deve se destacar que nesse momento ele não recebe o Espírito de Deus, tão somente é despertado de sua cegueira espiritual, alguns dias depois será batizado nas águas confessando seus pecados e passará a ser um templo cheio do Espirito de Deus.
“E Ananias foi, e entrou na casa e, impondo-lhe as mãos, disse: Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou, para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo. E logo lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e recuperou a vista; e, levantando-se, foi batizado” ( At. 9.17,18).
João
É relevante observar que o encontro de Paulo e João com Cristo, não é meramente um encontro com o Nazareno, mas o encontro com o Jesus glorificado, ambos veem um resplendor de luz: “me rodeou uma grande luz do céu. E caí por terra” (Paulo). “E o seu rosto era como o sol, quando na sua força resplandece. E eu, quando vi, caí a seus pés como morto; e ele pôs sobre mim a sua destra, dizendo-me: Não temas; Eu sou o primeiro e o último” (João). Ap. 1.16,17.
No caso de João, ele havia andado com Jesus “nos dias da sua carne” (Hb. 5.7), havia estado no cenáculo no dia de Pentecostes, porém, o que o fez cair por terra foi o resplendor de luz do rosto de Cristo, o qual era “como o sol em sua força”, ou seja, foi uma situação atípica, não vemos nenhum desdobramento disso no ministério Joanino.
O cair pela glória de Deus não mais se repetiu no ministério de Paulo e muito menos no ministério de João, não vemos nem um ensinamento dos apóstolos com relação a esse fenômeno. Jamais se deve tomar fatos isolados e torná-los doutrinas, exigindo-se a prática comum em culto de algo que foi uma manifestação momentânea, com um propósito específico, que no caso de Paulo, foi revelar-lhe Jesus como o Senhor e a Igreja como o seu povo; e no caso de João, a revelação última do Cristo ressurreto e glorificado.
A manifestação do Espirito Santo hoje
Mesmo que um fato como esse ocorresse hoje, jamais teria em si próprio força de lei para ser legitimado como uma doutrina, pois essa seria uma operação incomum do Espírito Santo como já observamos - o qual dispõe os dons e suas manifestações conforme sua vontade soberana: “Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer” ( I Co. 12. 11)- E que com certeza careceria de um “Paulo” para pô-la em ordem, evitando os excessos.
A psicologia e as manifestações dos dons
O que se deve levar em conta é que cada individuo tem sua maneira de reagir a determinadas situações; cada ser humano tem sua particularidade de temperamento.
Há os sanguíneos, que são indivíduos geralmente alegres, porém, passam desse estado para a ira com muita rapidez, respondendo aos estímulos exteriores como muita facilidade. Há também os coléricos, cujo ponto forte é sua força de vontade por vezes indômita, entretanto, como o nome já diz, são propensos a cólera, se irritam com facilidade e tem arroubos de prepotência. Já os melancólicos são perfeccionistas, habilidosos, dedicados, entretanto tendem a serem inclinados a depressão e a se tornarem pessoas de comportamento anti-social. Há ainda os fleumáticos, que são aqueles que tem frieza de ânimo, são extremamente tranquilos, mansos e de fácil convivência, no entanto, são também desconfiados, com inclinação a desanimar com muita facilidade.
Logo, não se deve exigir, de quem quer que seja, uma reação uníssona no que tange as respostas psicológicas das operações do Espírito Santo, já que o temperamento de cada um o inclinará a uma determinada postura. O que as Escrituras falam com clareza é da necessidade de pôr essas reações em sua devida ordem para que o culto seja inteligível e edificante (I Co. 14.19 e 26).
Antes de Pentecostes
“E, havendo dito isto, assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo” (Jo. 20.22).
Essa é uma passagem bastante singular. Aqui os discípulos ainda não haviam estado em Pentecostes, recebem o Espirito como um sopro, mas não como um dom como se dará no cenáculo.
Claro que há muito o que se observar nessa passagem, porém de modo particular o que queremos enfatizar aqui é a reação do discípulos diante dessa obra do próprio Cristo, pois o texto continua com asseverações de Jesus quanto a postura dos apóstolos diante dos desafios que, como Igreja do Senhor, enfrentariam; em nenhum momento, porém, se afirma que eles caíram por terra devido ao sopro do Espirito inculcado pelo mestre.
Depois de Pentecostes
“Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?” ( I Co. 6.19).
A partir do Pentecostes o Espirito Santo veio habitar na Igreja de Cristo e em seus membros em particular; do Pentecostes em diante a Igreja não tem mais apenas sopros e lampejos do Espirito como no antigo concerto, também o poderoso Espirito de Deus não é mais apenas um mero visitante do povo de Deus, e sim aquele que habita nele.
“E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós. Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós. Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais, mas vós me vereis; porque eu vivo, e vós vivereis. Naquele dia conhecereis que estou em meu Pai, e vós em mim, e eu em vós” (Jo.14.16-20).
No texto supra mencionado Jesus está dando a promessa do Espírito que seria derramado no Pentecostes, o mesmo Espirito que estava nele agora estaria na Igreja. Uma promessa de tal magnitude como essa é algo inédito na história do povo de Deus. A exceção do próprio Cristo, Deus nunca havia prometido fazer morada nos homens, no máximo ele havia estado entre eles, entretanto, agora estaria neles. “Aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória” (Cl. 1.27).
Há algumas perguntas que todos nós devemos responder com relação a qualquer prática da Igreja hoje: Ela é uma doutrina dos apóstolos? Foi algo praticado por eles pelo menos três vezes? Paulo o apóstolo dos gentios (nosso apóstolo) praticou? O que ele tem a dizer sobre isso?
Vamos então a algumas respostas Paulinas.
Paulo e a ordem do culto
A Igreja de Corinto apresentava muitas manifestações do Espirito Santo, Paulo chega a dizer que com relação aos dons não lhes faltava mais nada: “De maneira que nenhum dom vos falta, esperando a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo” ( I Co. 1. 7).
Embora fosse uma Igreja que carecia muito de maturidade, era cheia de operações do Espirito Santo, os quais muitas vezes eram exteriorizados com muito emocionalismo fazendo com que o culto se torna-se extremamente desorganizado.
O apóstolo adverte que se a Igreja estiver cultuando a Deus e todos ou pelo menos a maioria, falar em línguas e pessoas descrentes presenciarem o falar “estranho” dos irmãos dirão sem sombra de dúvidas que estão loucos: “Se, pois, toda a igreja se congregar num lugar, e todos falarem em línguas, e entrarem indoutos ou infiéis, não dirão porventura que estais loucos? (I Co. 14.23).
Aqui ainda que de forma implícita, paulo já está falando em se fazer as coisas de forma ordeira, a fim de que o resultado seja sempre o louvor a Deus e a glória do seu nome. No versículo 26 é dito que cada um dos membros tem algo a apresentar no culto seja salmo, doutrina, revelação...
Imperiosamente o apóstolo adverte que tudo seja feito para a edificação, cujo sentido, na mente de Paulo, é como de uma construção de um prédio, ou seja, tudo o que for dito e realizado no culto deve ter como alvo o crescimento espiritual e o amadurecimento do povo de Deus. Logo em seguida é dito que se houver línguas estranhas deve haver quem as interprete, se não houver aquele que fala deve ficar calado, falando consigo mesmo. Paulo claramente está enfatizando o controle e a organização. (Vers.28).
Há ainda algo muito pertinente revelado nesse texto: “E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas.” (I Co. 14. 32). Deus em momento algum deixa os seus filhos fora de si e sem controle da situação, antes dá a eles pleno domínio dela. Não negamos de forma alguma as diferenças psicológicas, de temperamento, porém acentuamos a importância inexorável da verdade do que está exarado no versículo ora apresentado: O cristão no momento em que fala línguas é plenamente senhor da sua consciência.
O motivo das desordens
Então por que as desordens? Pelo simples fato de se desconhecer a palavra de Deus ou não querer obedecê-la, dando mais importância ao culto “espetáculo”, cujo centro é o homem e cujo interesse é envolver pelo emocionalismo em detrimento da pura e simples exposição da Escritura, que a propósito exara: “Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos (I Co.14.33). E mais adiante: “Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor” ( I Co.14. 37).
O que podemos concluir de tudo que foi analisado com relação a resposta de cada indivíduo ao mover do Espirito, é que as reações em si e por si só nada acrescentam e nem diminuem a vida espiritual de que quer que seja, entretanto, podem demonstrar falta de ensinamento bíblico saudável, como também carência de maturidade cristã, e por vezes descontrole emocional, no que pode resultar em crentes que as escrituras chamam de “meninos no entendimento” (I Co. 14.20).
O mal que seguramente é produzido através de práticas equivocadas, é valorizar sempre o pragmatismo do “eu senti, por isso é verdadeiro” e da histeria coletiva que toma conta da igreja que entra por esse caminho.
Entendemos que a emoção tem o seu lugar no culto, todavia nunca o emocional e o descontrole devem sobrepujar o inteligível e o verdadeiramente espiritual. “Mas faça-se tudo decentemente e com ordem” (I Co.14.40).
Wanderley Nunes.


terça-feira, 27 de setembro de 2011

O Transtorno Jaconiano

imageTranstorno é uma palavra que define uma contrariedade comportamental, uma decepção, sinalizado sempre por atitudes atípicas de cunho neuropsicológico. No âmbito psiquiátrico, existem diversos transtornos, todos tem em comum o alto nível de ansiedade. Toscamente falando, o transtorno é um estado emocional caracterizado pela expectativa e apreensão de que algo ruim possa acontecer gerando uma comorbidade de sintomas fisiológicos e mentais avassaladores.
Sintomas de transtorno
Todos os que são acometidos por transtornos de ordem psicológicas tendem a sintomatizar doenças que inexistem, as quais invariavelmente só são “reais” na sua mente vitima das próprias incongruências neurais. Pode-se tomar como exemplo o transtorno de pânico, quando alguém sem motivo aparente passa a ter palpitações, taquicardia, sensação de instabilidade, tontura, desmaio, medo profundo de estar tendo um ataque cardíaco, invariavelmente sente calafrios ou ondas de calor...
Na maioria das vezes por desconhecer o problema, se busca solução no plano meramente físico, daí se consultar cardiologistas, clínicos e demais profissionais que cuidam das patologias intrinsecamente corporais, buscando a solução no físico, quando se deveria atentar para o mental, pois é no campo da subjetividade neuropsicológica que se encontra tanto a raiz do problema quanto sua solução.
Geralmente o paciente com algum tipo de transtorno de ansiedade necessita tomar ansiolíticos, antidepressivos e congeneres, de forma concomitante, deve ser assistido por um psicólogo que o ajudará a vencer os seu medos.
Por que transtorno Jaconiano?
O célebre Jacó era de uma família de promessas, seu avó Abraão havia sido escolhido e chamado por Deus quando estava em Harã (Gn.11.31,32; Gn. 12. 1-3), depois recebeu a ratificação do que lhe fora prometido quando o próprio Deus se responsabilizou pelo cumprimento da aliança com ele.
Nesse tipo de pacto, o comum era as partes interessadas oferecerem os sacrifícios pondo os animais em duas linhas distintas, de modo que os pactuantes passassem no meio, simbolizando a responsabilidade de cada um ( Jr.34. 18-20), se caso não fosse cumprida a aliança as partes arcariam com o pecado cometido e suas consequências, já que o pacto havia sido feito na presença de Deus.
No caso de Abraão a aliança havia sido feita com ele e sua descendência ( Gn.15.18), confirmando tal assertiva, foi Deus que passou no meio das metades ( Gn.15.17), pois a tocha de fogo era uma representação clara da presença de Deus. Isaque é o primeiro grande fruto deste pacto firmado por Deus ( Gn.17. 4-8 ; Gn. 17. 19 e 21). Conforme o pacto de Deus com Abraão e não de Abraão com Deus, a consecução e cumprimento deste era inexoravelmente responsabilidade do Senhor, o qual não pode ter nenhum dos seus planos frustrados ( Jó. 42.2, Is.43.13).
Jacó como descendência de Abraão invariavelmente fazia parte desse projeto Divino, Paulo falando sobre seu nascimento diz : “ ...mas também Rebeca, quando concebeu de um, de Isaque, nosso pai; Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), Foi-lhe dito a ela: O maior servirá o menor. Como está escrito: Amei a Jacó, e odiei a Esaú” ( Rm.9.10-13).
Além de possuir em suas veias o sangue pactual, quando da ocasião do seu nascimento sua mãe Rebeca ouviu de Deus a promessa já antes feita a Abraão, de que o seu filho mais novo é que seria o herdeiro daquilo que o Senhor havia prometido. Jacó fazia parte da linhagem da aliança Abraâmica, era o herdeiro legítimo das promessas, porém não as conseguia enxergar por fé, que é o modo legítimo de se obter as coisas dos céus ( Hb.11.1; Hb. 11.27; Jo.20.29).
O transtorno na vida de Jacó
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Sem ter visão espiritual para alcançar, por fé, o que já era seu – pois a escritura afirma que o Senhor é fiel em todas as suas promessas (Nm.23. 19, II Tm.2.13), como também diz: “Porque todas quantas promessas há de Deus, são nele sim, e por ele o Amém, para glória de Deus por nós.” ( II Co. 1.20) – é que Jacó quis garantir desde o início sua herança através dos seus próprios esforços.
O primeiro passo equivocado foi “comprar” sua primogenitura (Gn. 25. 29-34), “comprou” o que era seu por direito e decreto Divino: “ Duas nações há no teu ventre, e dois povos se dividirão das tuas entranhas, e um povo será mais forte do que o outro povo, e o maior servirá ao menor” (Gn.21.23). Para Deus Jacó era o primogênito, com todas as prerrogativas que a primogenitura lhe conferia (Ex.22.29; Dt. 21.17).
O segundo equívoco de Jacó aclara fortemente a horizontalidade da sua fé e sua visão embaçada pelo transtorno que o acometia, só concebendo as coisas de Deus sob uma perspectiva humana e egoística. Seguindo esse prisma, ele mancomunado com sua mãe, que por sua vez demonstra ter visão igual ou similar a do seu pupilo, vai agora dar a cartada final no que entende ser a conquista da benção de Deus. image
Travestido de Esaú engana o velho Isaque : “Depois tomou Rebeca os vestidos de gala de Esaú, seu filho mais velho, que tinha consigo em casa, e vestiu a Jacó, seu filho menor; E com as peles dos cabritos cobriu as suas mãos e a lisura do seu pescoço; E deu o guisado saboroso e o pão que tinha preparado, na mão de Jacó seu filho. E foi ele a seu pai, e disse: Meu pai! E ele disse: Eis-me aqui; quem és tu, meu filho? E Jacó disse a seu pai: Eu sou Esaú, teu primogênito; tenho feito como me disseste; levanta-te agora, assenta-te e come da minha caça, para que a tua alma me abençoe” (Gn.27.15-19).
Há duas observações a serem feitas neste episódio, no que se refere as consequências do engano: Jacó se torna alvo da ira do seu irmão, que irá persegui-lo para tentar ceifar sua vida; Rebeca por sua vez nunca mais verá o rosto do seu caçula (Gn.27.41; Gn.27.42-45).
Vê-se claramente aqui que o míope espiritual Jacó ao querer adquirir o que já era seu por direito, só conseguiu colher desventuras das suas obras, as quais nem legalistas podiam ser consideradas, devido ao teor espúrio dos seus métodos; quando a exemplo do seu pai Isaque, poderia desfrutá-las de forma passiva, apenas crendo no que o Senhor prometera.
Em meio a fuga da ira do seu irmão, Deus lhe fala em sonho e ratifica suas promessas: “E eis que o SENHOR estava em cima dela, e disse: “Eu sou o SENHOR Deus de Abraão teu pai, e o Deus de Isaque; esta terra, em que estás deitado, darei a ti e à tua descendência; E a tua descendência será como o pó da terra, e estender-se-á ao ocidente, e ao oriente, e ao norte, e ao sul, e em ti e na tua descendência serão benditas todas as famílias da terra; E eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra; porque não te deixarei, até que haja cumprido o que te tenho falado” (Gn.28.13-15).
Ainda assim, Jacó não consegue ver a realidade das promessas do Deus de Abraão e Isaque em sua vida, isso fica patente em sua fala logo depois que acorda do sonho: “E Jacó fez um voto, dizendo: Se Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que faço, e me der pão para comer, e vestes para vestir; E eu em paz tornar à casa de meu pai, o SENHOR me será por Deus; E esta pedra que tenho posto por coluna será casa de Deus; e de tudo quanto me deres, certamente te darei o dízimo”(Gn.28.20-22).
Nota-se claramente aqui o caráter materialista, egoísta e incrédulo de Jacó; materialista pois só pensava em obter, egoísta pois só pensava em si próprio, era um ególatra, e incrédulo, pois só conseguia acreditar naquilo que lhe fosse palpável e visível. Definitivamente Jacó não era um homem de fé.
Ele acaba de ouvir uma confirmação das promessas feitas aos seus ancestrais, entretanto, em sua mente embotada pelo materialismo cético só seria real para ele o “deus” que se mostrasse conivente e obediente aos seus caprichos mais inusitados.
Como se pode depreender de sua fala, até então não sabia, não percebia, e nem acreditava que Deus estava com ele, não cria na proteção Divina derivada das promessas Abraâmicas e Isaquianas, não confiava que o Senhor do pacto era um Deus providente, e o mais assombroso, o Senhor nem mesmo era o seu Deus. Seguindo esse ideário, o “deus” que satisfizesse a todos os seus anseios receberia em troca sua fidelidade, representada pela entrega dos seus dízimos.
O ápice do transtorno Jaconiano
imageNo momento mais crucial da sua vida, quando sabe que irá ficar frente a frente com seu irmão Esaú, Jacó toma antes certas providências, dentre elas, pôr sua família a salvo da possível ira do seu vingativo mano. Essa é mais uma prova da sua total falta de confiança no Deus que havia lhe prometido guardar de todo o mal.
Quando se encontra só, surge então um homem que vem para lutar com ele, a escritura não fala qual a razão do anjo ter sido enviado para lutar com Jacó, entretanto, é explicitado o motivo de Jacó não deixar o enviado de Deus partir : Ele queria a benção. Aqui observa-se o auge do transtorno Jaconiano, um homem abençoado por Deus, tinha promessas que haviam sido dadas a seu avô, ao seu pai, a sua mãe, e por fim a ele mesmo, e de forma clara e indubitável, era próspero materialmente falando, todavia, outra vez ele quer alcançar os benefícios de Deus por seus próprios méritos.
O anjo lhe dá uma palavra de benção, porém, como tal ato foi totalmente contrário a vontade Divina, Jacó sai desse encontro com um defeito físico, que nesse caso retratava a sua falta de saúde espiritual. Na sua transtornada visão das coisas de Deus, sempre prevalecia a ideia de que para receber algo de Deus era necessário “pagar” antes, mesmo se tais promessas houvessem tido o seu cumprimento garantido pelo Deus todo-poderoso.
Por atitudes como essas, a vida de Jacó torna-se uma vida da qual lamentará de modo frustrado dizendo: “... poucos e maus foram os anos da minha vida e não chegaram aos dias dos anos da vida dos meus pais...” ( Gn. 47. 9).
O transtorno Jaconiano hoje: A falta de discernimento
Assim como Jacó tinha promessas baseadas em um concerto de Deus com sua família, também os cristãos hoje tem promessas, e bem melhores que as promessas patriarcais: “ Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de uma melhor aliança que está confirmada em melhores promessas” (Hb.8.6).
Infelizmente a Igreja tem sido acometida pelo transtorno Jaconiano: Vive correndo atrás daquilo que já possui em Cristo.
O grande problema enfrentado pela Igreja hoje é a miscelânea que é feita entre o Antigo e o Novo ?Testamento, entre o pacto com os judeus e o novo pacto para os gentios. Para que se compreenda a importância e alcance deste novo concerto, é necessário se observar este assunto sob a perspectiva da morada de Deus. Qual o lugar da habitação de Deus hoje na Nova Aliança? Para que se chegue a uma conclusão plausível se faz necessário uma abordagem bíblica-histórica do desenvolvimento da ideia de templo como “morada de Deus”.
O templo de pedra como casa de Deus
No pensamento do crente do Antigo Concerto o lugar físico da habitação de Deus é o templo de Jerusalém : “Mas o SENHOR está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra” (Hc. 2.20). “ Desde o primeiro dia do sétimo mês começaram a oferecer holocaustos ao SENHOR; porém ainda não estavam postos os fundamentos do templo do SENHOR”(Ed 3.6).
Também é esse lugar que fica cheio da glória de Deus: “E sucedeu que, saindo os sacerdotes do santuário, uma nuvem encheu a casa do SENHOR” (I Rs.8.10). “ E os sacerdotes não podiam permanecer em pé, para ministrar, por causa da nuvem; porque a glória do SENHOR encheu a casa de Deus” (II.Cr. 5.14).
Deus em sua inenarrável graça proveu um templo melhor, Jesus, para que o homem experimentasse da sua glória sem que dela precisasse fugir : “ sendo ele ( Jesus) o resplendor da sua glória e a expressa imagem do seu Ser” ( Hb.1.3).
Moisés profetiza a esse respeito: “ E porei o meu tabernáculo no meio de vós, e a minha alma de vós não se enfadará. E andarei no meio de vós, e eu vos serei por Deus, e vós me sereis por povo” (Lv.26.11,12).
Jesus Cristo, o templo de Deus
As escrituras deixam muito claro que Deus criou um corpo para si e habitou nele, o evangelho de João começa afirmando: “ No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Mais adiante diz: “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo.1.1, 14). Escrevendo aos colossenses Paulo afirma : “ Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl.2.9).
Deus estava em cristo, até aqui é o que se poderia dizer da manifestação de Deus em carne, todavia, é o próprio Jesus que declara ser a sua pessoa o templo de Deus em contraste ao reverenciado templo de pedra em Jerusalém: “ Jesus respondeu, e disse-lhes: Derribai este templo, e em três dias o levantarei. Disseram, pois, os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este templo, e tu o levantarás em três dias? Mas ele falava do templo do seu corpo” (Jo. 2. 19-21).
Em outro lugar em resposta a Filipe : Disse-lhe Jesus: Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai? Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras (Jo. 14.9,10).
Fica muito obvio que o corpo, o involucro chamado Jesus era a perfeita morada de Deus entre os homens, por isso as escrituras o chamam de Emanuel, Deus conosco ( Mt.1.23).
A Igreja, o templo de Deus
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Esse Emanuel promete aos discípulos que chegaria o dia em que o Espirito que habitava nele haveria de encontrar sua morada nos homens através da Igreja: “ O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós” (Jo. 14.17).
Quando Jesus falava do Espirito que habitava com os discípulos, estava falando do Espirito Santo que estava nele, pois Jesus é a manifestação de Deus em carne . Paulo quando se refere a encarnação afirma : “E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Aquele que se manifestou em carne, foi justificado em espírito, visto dos anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, e recebido acima na glória” (I Tm. 3.16).
Quando falava do “Espirito que estará em vós” referia-se ao dia de pentecostes, quando o Espirito Santo que nele habitava, por graça e bondade de Deus habitaria na Igreja, fazendo dela o templo de Deus aqui na terra: “ E todos ficaram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem […] De sorte que, exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis” ( At.2.4;33).
A partir do dia de pentecostes a igreja se torna o templo do Espirito Santo. Deus habita nela, a morada de Deus não está circunscrita a apenas um homem, como foi em Jesus, mas agora em muitos membros formando o corpo místico de Cristo, temos Jesus agora em carne de novo, porém agora representado pela igreja através dos seus integrantes : “ Ora, vós sois o corpo de Cristo, e seus membros em particular” (I Co. 12. 27); “Assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros” (Rm. 12. 5).
Vê-se isto bem representado nas línguas como que de fogo repartidas e pousando em cada um dos discípulos (At. 2.3), contrapondo a coluna de fogo do Antigo Testamento que acompanhou o povo na saída do Egito até a terra prometida (Ex. 13. 21, 22).
Ela era claramente um sinal da presença de Deus entre o seu povo, todavia, é a partir do pentecoste que a coluna (Deus) distribui de si ao seu povo fazendo dele sua morada: “Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos” (I Co 12.4-6).
A Graça de ser templo de Deus
“Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (I Co. 3:16);
“Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? ” (I Co. 6:19).
No novo concerto Deus está no seu povo como Igreja, e em cada membro de forma particular, sendo cada crente individualmente um templo, uma habitação do Espirito Santo.
Quais são as implicações disso para os cristãos hoje? Muitas. A primeira é que não há a obrigação de um lugar para a Igreja está reunida para cultuar a Deus, ela tem em si mobilidade para cultuar ao Senhor onde achar conveniente: “Mas, como alguns deles se endurecessem e não obedecessem, falando mal do Caminho perante a multidão, retirou-se deles, e separou os discípulos, disputando todos os dias na escola de um certo Tirano. E durou isto por espaço de dois anos; de tal maneira que todos os que habitavam na Ásia ouviram a palavra do Senhor Jesus, assim judeus como gregos ” (At.19.9,10).
Reunir-se nas dependências de uma escola não foi um empecilho para o desenvolvimento da Igreja na época de Paulo, assim como não havia dificuldade em se estabelecer a Igreja do Senhor a partir da residência de um irmão: “Saudai a Priscila e a Aquila, meus cooperadores em Cristo Jesus, os quais pela minha vida expuseram as suas cabeças; o que não só eu lhes agradeço, mas também todas as igrejas dos gentios. Saudai também a igreja que está em sua casa...” (Rm. 16.3-5).
Deve-se explicitar que não há nenhum pecado no fato da Igreja possuir um prédio para suas reuniões semanais, por outro lado, o prédio em si não deve ser tomado como algo imprescindível para a vida da Igreja, pois assim sendo, da-se mais importância a construção de pedra de que a Igreja-gente, alvo maior e único da morte vicária e salvífica do Senhor Jesus: “ Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo (I Pe. 2.5).
O segundo e mais importante aspecto, não fala meramente dos deveres que o cristão tem em buscar cada vez mais se enquadrar dentro da vontade de Deus como revelada a Paulo, (leia o texto “ Há esperança para Laodiceia? ” no trecho que fala do ministério de Paulo aos gentios) e sim em se perceber os privilégios de ter o Senhor se movendo em sua vida, sendo o crente da Nova Aliança um depositário da graça de Deus, manifestada nessa benção de poder ser o verdadeiro templo do Espirito Santo na terra hoje. Logo, o crente do Novo Pacto:
    Reina em vida com Cristo: “Porque, se pela ofensa de um só, a morte reinou por esse, muito mais os que recebem a abundância da graça, e do dom da justiça, reinarão em vida por um só, Jesus Cristo;
    [...] E, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça.
    E, se o Espírito daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dentre os mortos ressuscitou a Cristo também vivificará os vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita” (Rm 5.17; 8:10,11.).
    Está assentado em lugares celestiais, significando isso,que é autoridade e venceu todo o mal: “E nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus” (Ef 2.6).
    Não necessita de que um intercessor, sacerdote, bispo, padre, pastor, vá a Deus por ele, pois o cristão é o verdadeiro sacerdote do Senhor, a nação eleita e santificada por Deus: “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (I Pe. 2.9); “O qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” (Cl. 1. 13).
    “ E que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus. A vós também, que noutro tempo éreis estranhos, e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora contudo vos reconciliou
    No corpo da sua carne, pela morte, para perante ele vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis”(Cl.1.20-22).
    Na Nova Aliança, que por sinal, é muito superior a antiga - “Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de uma melhor aliança que está confirmada em melhores promessas”(Hb 8.6)- Jesus não está com o crente (II Cr. 32.7), mas nele : “Filhinhos, sois de Deus, e já os tendes vencido; porque maior é o que está em vós do que o que está no mundo” (I Jo. 4.4).
    De sorte que ele ( Jesus) estando na Igreja e particularmente no crente, nada lhe falta: “Visto como o seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade, pelo conhecimento daquele que nos chamou pela sua glória e virtude” (II Pe. 1.3).
    O cristão na nova aliança já é abençoado : “ Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo” (Ef. 1.3).
Considerações finais
Neste opúsculo o leitor teve a oportunidade de tomar conhecimento do “transtorno Jaconiano”, uma síndrome que têm perseguido a Igreja ao longo dos séculos. Do mesmo modo como o terceiro patriarca corria tresloucadamente em busca daquilo que invariavelmente já era seu por promessa, a Igreja , que deveria exercer o magistério da fé e pela fé viver, prefere palmilhar o mesmo caminho do velhaco e transtornado Jacó: O caminho do engano, da religião ególatra, cujo deus é o eu.
Foram analisandas aqui as atitudes de Jacó, suas consequências e a extração dos ensinos advindos desta experiência relatada no livro santo. Demonstrou-se também, e de modo incisivo a obra de Deus através da progressão revelatória da sua palavra : Deus no tabernáculo, no templo de pedras, no templo chamado Jesus e por fim na Igreja, sua morada final, pelo menos até que se chegue ao novo céu e nova terra.
O cristão hodierno tem então um privilégio o qual nunca foi imaginado por nenhum dos profetas da Antiga Aliança: Deus habitando no seu povo, revelação esta que será obtida apenas com os escritos Paulinos, trabalhado de modo acanhado pelos principais reformadores, todavia, tratado de modo ousado neste trabalho.
Que seja este o grito de Guerra do cristão hoje :”Cristo em vós, esperança da glória”(Cl.1. 27).
Wanderley nunes.

domingo, 28 de agosto de 2011

Revelação e iluminação das Escrituras

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Para que haja a perfeita adoração a Deus é de suma importância que os cristãos tenham conhecimento do modo como Deus se manifestou e se fez compreender no passado, e como se manifesta hoje.
Não há como o homem, em sua limitação e estado atual, ter um conhecimento perfeito de Deus, já que conforme escreveu Paulo, isso só acontecerá plenamente quando estivermos diante do Senhor ( I Co. 13.10,12) No entanto, existe a possibilidade do homem conhecer a Deus o suficiente para suprir suas necessidades concernentes à vida atual e porvir. Porém, o homem só logrará êxito na busca de conhecimento da palavra de Deus se aprouver ao Senhor revelar-lhe (Mt.11.25; Mt. 16 15-17).
Revelação
Esse é um vocábulo grego αποκαλυψις [apokalupsis] que significa: levantar ou retirar o véu. É um termo aplicado aos Escritos Bíblicos e seus ensinos e profecias dados diretamente por Deus, com o intuito de que seus desígnios e propósitos eternos cheguem ao homem. Para melhor compreensão é importante observar os tipos de revelações dadas ao homem.
  1. Revelação geral: Através da criação (Sl.19.1; 97, 1), da natureza (Rm 1.20), e do testemunho que Deus dá de si mesmo (At.14. 17).
  2. Revelação especial: Pela Escritura (II Tm. 3.16); Pela manifestação de Deus em carne (Jo.1.1; 20.28; I Jo.5.20; Cl.2.9); Deus se faz homem para trazer a salvação para os que crêem (Jo 1. 12,13).
Iluminação - Compreendendo a palavra
Dize-se que houve “iluminação” quando o homem consegue compreender uma doutrina ou porção das Escrituras que até então lhe era obscura. O termo “inspiração” teologicamente falando, é usado apenas para os escritos Bíblicos; aqueles que servem a Deus e estudam a sua palavra recebem “iluminação”, capacidade de compreendê-la, como bem enfatizou Paulo : "Tendo iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos " (Ef 1.18).
A iluminação em regra, vem depois da exposição da palavra de Deus (Rm.10.17). Quando alguém é iluminado, significa que passou a ter uma visão original da Palavra de Deus, ou seja, passa a compreendê-la com o mesmo significado que foi passada para os primeiros cristãos na era apostólica.
Deus usa homens
Na história da Igreja, desde os primórdios apostólicos, o Senhor comissionou homens para que levassem a sua palavra até os confins da terra. Em Jerusalém a princípio Deus chamou Pedro para pregar para o mudo de então, no qual se incluíam os gentios (At. 15.7).
A Escritura deixa claro que o apóstolo Pedro toma essa posição só até o advento de Paulo, o apóstolo dos gentios, com quem de modo efetivo se inicia a primeira dispensação ou “era” para os gentios (não Judeus).
Paulo o primeiro mensageiro para os gentios
Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para apóstolo separado para o evangelho de Deus”. Rm. 1:1.
Porque convosco falo, Gentios, que, enquanto for Apóstolo dos Gentios, glorificarei o meu ministério”. Rm. 11:13.
O Senhor foi buscar no próprio Judaísmo o austero e zeloso Saulo, cujo nome significa: Pedido; denotando assim que os seus pais oraram a Deus em busca de um filho homem, o que era de muita importância na religião judaica, para assim perpetuar as suas tradições. Ao ser convertido à fé em Cristo, no caminho de Damasco (At. 22.6, 15, 21), adota o nome gentílico, mais precisamente Romano, Paulo, que quer dizer: pequeno; numa clara demonstração de desprendimento, que é o verdadeiro espírito do Cristianismo.
A mensagem que Paulo trouxe, não era fruto de uma convivência física com os apóstolos, e muito menos com o Senhor, que aliás, ele nem conheceu pessoalmente. Foi sim, o resultado de um chamado de Deus e de seguidas revelações, que punham o seu ministério em um patamar muito superior aos dos outros apóstolos.
“Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens, porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo”. Gl. 1:11-12.
Paulo foi chamado para levar as boas novas (evangelho) aos Gentios. A seu respeito estava profetizado. Is. 49.6. “... também te dei para luz dos Gentios, para seres a minha salvação até a extremidade da terra”. E ele próprio discerniu essa profecia, At. 13.46-47.
“Antes pelo contrário, quando viram que o evangelho da incircuncisão me estava confiado, como a Pedro o da circuncisão (porque aquele que operou eficazmente em Pedro para o apostolado da circuncisão, esse operou também em mim com eficácia para os Gentios. Gl. 2.8)”.
“E conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as colunas, a Graça que se me havia dado, deram-nos as destras, em comunhão comigo e com Barnabé, para que nós fossemos aos Gentios e eles à circuncisão”. Gl. 2.9.
Para o que (digo a verdade em Cristo, não minto) fui constituído pregador, e apóstolo, e doutor dos Gentios, na fé e na verdade”. I Tm. 2.7.
Paulo trouxe a revelação da graça de Deus
“Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira, e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus.” (At. 20.24).
A mensagem para os gentios, é na verdade a mensagem do pacto da graça evidenciado de modo inconteste por Paulo, porém esquecido nas dispensações subsequentes. Deve ficar bem claro que o cânon das Escrituras está fechado e o que Paulo recebeu e escreveu como “revelação” de Deus, agora é discernido pela unção profética da mensagem restauradora.
Quando a mensagem é exposta hoje, Deus abre o entendimento daquele que é seu para que compreenda a palavra. Pode-se apontar como exemplo Lidia (At.16.14-15) que ouviu a palavra, pois o Senhor lhe dera ouvidos para atender as palavras de Paulo.
Outro exemplo significativo pode ser encontrado no eunuco Etíope (At.8.26-39), vinha lendo a revelação (Escritura), porém não possuía a iluminação, foi necessário que Filipe lhe expusesse a palavra para que o Espirito de Deus abrisse o seu entendimento. É pertinente dizer que a obra é do Espirito de Deus, porém ele só irá atuar para trazer a clareza da palavra através daquele que ele iluminou e comissionou para isso.
A Mensagem restauradora traz a iluminação para hoje
A mensagem da graça foi pregada por Paulo, entretanto foi esquecida com a passagem do tempo e sobretudo com a apostasia que vem tomando conta da Igreja ao longo dos séculos. Em 31 de outubro de 1517 eclodiu a reforma protestante quando Lutero deixou afixado suas 95 teses na porta do templo de Witemberg, protestando contra diversos pontos doutrinários da religião estabelecida, dentre eles, a venda das indulgências (venda do perdão de pecados).
Ainda hoje, vê-se claramente na Igreja atual esse triste legado herdado do romanismo. O catolicismo ainda ensina tal prática, ainda que de uma maneira discreta. O modo mercantilista de tratá-las mudou um pouco, tornando-se algo velado, todavia as filhas (Ap.17.5), grupos religiosos que surgiram nesse rastro, tomaram esse legado mamonico (Mt.6.24) para si e o abraçaram com força total.
Isso é a apostasia já dantes profetizada (I Tm. 4.1) . É importante salientar que a reforma trouxe um sopro de vida com relação a graça de Deus, entretanto, mesmo ela ficou relegada ao esquecimento, já que a Igreja hoje vive propalando indulgências modernas, embora com outros nomes: (sabonete,toalha,rosa,sal e água “ungidos”, descarregos, fogueiras, onde se paga para minimizar a morte salvífica de Cristo, no afã de resolver seus problemas pessoais). Isso é um insulto à graça de Deus, é desconsiderar o sacrifício do Senhor Jesus: “ De quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano (comum) o sangue da aliança com que foi santificado, e fizer agravo (insulto, ultraje, ofensa) ao Espírito da graça? ” ( Hb. 10. 29).
Em Atos 3.21 há uma promessa: “O qual convém que o céu contenha até aos tempos da restauração de tudo, dos quais Deus falou pela boca de todos os seus santos profetas, desde o princípio.”
O texto enfatiza que antes da vinda de Cristo haveria uma restauração, Deus agiria como sempre agiu e enviaria uma mensagem de restauração. É nesse tempo que estamos vivendo, esta é a dispensação mais negra de todas, quando a Igreja é Laodiceiana (veja o artigo : “ Há esperança para Laodicéia?), estabelecendo ao seu bel prazer o seu “deus” e o seu modo politeísta e mamonico de adorá-lo.
Porém é nessa hora final que o Senhor em seu eterno propósito têm enviado uma mensagem completa de restauração, abrangendo tudo o que não pôde ser alcançado nas dispensações anteriores, resgatando os eleitos de Laodicéia e os trazendo para a dispensação do Reino de Deus (Cl. 1.13).
Pr. Wanderley Nunes.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Há esperança para Laodicéia?

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Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo.” Ap. 3.20.


Este é um texto muito usado quando se faz um apelo para que o pecador se decida por Cristo, ganhando inclusive uma conotação muito romântica e por vezes poética. Mas o referido versículo é dirigido a alguém que ainda não é cristão? Evidente que não, primeiro porque Apocalipse é um escrito endereçado às Igrejas da Ásia (Ap.1.4). Deus não está tratando aqui com um grupo de impios, e sim com uma igreja estabelecida que havia perdido o sentido do que verdadeiramente era ser um Cristão. Haviam se tornado altamente legalistas nas suas práticas religiosas, daí a razão de Jesus os chamar de “desgraçados”, literalmente: destituídos da graça de Deus, o que consequentemente os tornou pobres e miseráveis diante do Senhor, não vendo a grandeza da graça salvadora, devido a cegueira espiritual a qual os despojou completamente das vestes brancas da justiça Divina.
Outro fator interessante que não se deve passar por cima é que o primeiro casal, Adão e Eva, foram lançados fora da presença de Deus (paraíso), enquanto que Laodicéia - que é combinação de duas palavras gregas: "Laos", que significa povo, gente, laico, leigo, e "dikecis", que significa opinião, costume, governo, juízo; de onde se deduz que Laodicéia quer dizer, a opinião ou governo do povo ou laicado - colocou Jesus para fora dos seus templos através dos seus dogmas e ensinos de homens.
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                                     “ Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo.”
Jesus está batendo à porta de Laodicéia. Ora, se alguém bate na porta a fim de que o deixem entrar, isto que dizer que tal pessoa se encontra do lado de fora. Isso mesmo! Jesus tem tido o seu nome poderoso usado para que os vendilhões do templo se locupletem às suas custas, sem o compromisso de abraçar a sua fé e muito menos sua ética. Desejam o nome (a religião), mas rejeitam a pessoa (a palavra) de Jesus.
Bem profetizou Isaías sobre isso:E sete mulheres (grupos religiosos) naquele dia lançarão mão de um homem (Jesus), dizendo: Nós comeremos do nosso pão (doutrina de homens), e nos vestiremos do que é nosso (justiça própria, ou seja, religião legalista); tão somente queremos ser chamadas pelo teu nome; tira o nosso opróbrio” (Is.4.1).
Ainda há esperança para alguns
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“Se alguém ouvir a minha voz...”. O referido versículo assegura que até o fim desta dispensação Laodiceiana haverá uma voz, que seguramente é a voz do Senhor, do lado de fora de toda essa confusão religiosa, clamando para que alguns que estão em Laodicéia, mas não são laodiceianos, possam sair de lá (Ap.18.4). Certamente Deus tem os seus: “Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus”(II Tm.2.19); “Quem é de Deus escuta as palavras de Deus” (Jo.8.47).
Os que são de Deus ele mesmo os escolhe: “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto” (Jo.15.16). O Senhor também deu certeza que quando sua voz ecoasse surgiria um rebanho, que ele mesmo nominou de “um só rebanho” : “Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor” (Jo.10.16).
Como em todas as dispensações, Deus tem usado a voz humana para que seja a sua voz; foi assim na Antiga aliança com os profetas, depois na encarnação quando Deus se fez homem, e nas dispensações gentílicas que se seguiram, quando O Senhor usou Paulo, Lutero, Calvino, Zwinglio e outros verdadeiros profetas e mestres da Igreja.
Agora nesta última fase, Deus tem suscitado uma mensagem de restauração, uma voz profética, a parte de todo esse movimento hiper religioso, e que assim como os ministérios proféticos vindicados por Deus, tal ministério só é notado por aqueles que tem ouvidos espirituais dados pelo Senhor Jesus Cristo para que possam discernir a sua voz (Mt.11.15), esses indubitavelmente ouvirão a chamada da última hora (Mt. 25.6).
É agora o tempo de abandonar a religião apóstata; cheia de penitências com prazo de validade vencidos pela chegada da dispensação gentílica da graça, inaugurada por Cristo Jesus em um concerto muito superior (Hb.8.6).
Se você foi despertado por Deus através desta palavra, entre em contato conosco, queremos ter o prazer de compartilhar com você a mensagem da última hora.
Pr. Wanderley Nunes.