sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A oração que Deus não ouve

De onde vêm as guerras e pelejas entre vós? Porventura não vêm disto, a saber, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam? Cobiçais, e nada tendes; matais, e sois invejosos, e nada podeis alcançar; combateis e guerreais, e nada tendes, porque não pedis. Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites (Tg.4.1-3).
Nesses tempos de “decretos”, “determinações”, “amarrações”, “atos proféticos” e afins, parece impossível conceber a veracidade do que afirma Tiago: Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites. A princípio, o que podemos observar no texto apostólico é o combate de forma incisiva à raiz de todo o problema que assolava a comunidade à qual a carta se dirigia : O ego.
Aquele povo estava sofrendo fracassos em sua vida de fé (comunhão), por tratarem a vida cristã como se a mesma fosse apenas a borra do Judaísmo, ou uma seita judaica em busca de auto afirmação. Na aliança judaica, as promessas eram todas ligadas a temporalidade e a busca da aquisição de bens terrestres e uma vida longeva ( Dt.28.1-14).
O que essa sede desenfreada por terem suas aspirações concretizadas a todo custo - graças a influência da aliança mosaica - estava fazendo, era tornar esses pseudo-cristãos (digo isso com muito amor, pois estavam “sinceramente enganados”) em pessoas amargas, frustradas, rancorosas. Pessoas que não se alegravam com quem estava alegre, nem choravam com os chorosos.
A tentativa de fazer a transposição da Aliança mosaica para o cristianismo, resultou desde o princípio em um desastre, pois é como colocar remendo de pano novo em vestido velho, é costurar de baixo para cima (para o inalcançável) o véu já rasgado de cima para baixo (Mc.15.37, 38).
O que era sinal de comunhão na Aliança Judaica (prosperidade, posse da terra prometida e seu usufruto) não o é na Aliança de Cristo. Lembre-se, conosco gentios não foi feita nenhuma Aliança cuja fruição seja terreal, antes, todas as promessas feitas a nós são de cunho futuristas e eternais: O sumo sacerdote é eterno, o sacrifício (o cordeiro) é eterno, a terra prometida é eterna, a vida é eterna, o gozo de todas as benesses é eterno.
“Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de uma melhor aliança que está confirmada em melhores promessas.” (Hb.8.6).
E para aqueles que eram judeus ou prosélitos a Aliança firmada com o sangue de Cristo, se tornava de fato, uma nova aliança. Daí observamos o escritor aos hebreus falar para aqueles que estavam saudosos das formas, sacrifícios e ritos do judaísmo, que a Aliança de Cristo (para eles nova aliança) era sim uma melhor aliança, de fato infinitamente melhor.
Fazer o que os destinatários da carta de Tiago estavam fazendo é fruto da incompreensão do que é a vida cristã, a qual não fomenta a ditadura do “ter” em detrimento do “ser”. Os ricos, na referida carta, são exortados a não supervalorizarem suas posses, mas aprenderem a ser generosos e justos para com todos (Tg. 5.1-6).
Na Aliança Cristã a oração respondida e que, de fato, agrada a Deus, é aquela baseada na sua vontade soberana e no bem comum (I Jo.5.14), ou seja, o que deve ser bom para aquele que pede, deve servir para que outros: familiares, amigos mais chegados e o meio social em que convive, pois isso subjaz ao verdadeiro espírito cristão que é de amor e partilha. Uma oração egocêntrica é idólatra e estranha ao espírito cristão e por conseguinte não recebida como um cheiro de suavidade por Deus (Ap. 5. 8 e 8. 4), posto que é abominável.
Mediante o que já foi explicitado aqui, a dedução é simples e objetiva: A oração que visa única e exclusivamente a locupletação do pedinte, o qual insta diante de Deus por bens meramente efêmeros e cuja resposta positiva da parte dos céus (se fosse possível tal concepção) serviria apenas para alimentar a avareza, a vaidade, a arrogância religiosa e o hedonismo, não possui nem de longe a anuência das Escrituras, muito menos a benção de Deus.
Conforme Tiago, tal oração, não só não é respondida positivamente, como caracteriza os espiritualmente adúlteros, compromissados com a presente era e ansiosos por reinarem em um mundo que jaz no maligno e que não deseja de fato o reinar de Cristo.
“Sejam vossos costumes sem avareza, contentando-vos com o que tendes; porque ele disse: Não te deixarei, nem te desampararei.” (Hb. 13. 5).
E disse-lhes: “Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui.” (Lc.12. 15).
“Mas a prostituição, e toda a impureza ou avareza, nem ainda se nomeie entre vós, como convém a santos.” (Ef. 5. 3).
“Mortificai, pois, os vossos membros, que estão sobre a terra: a prostituição, a impureza, o afeição desordenada, a vil concupiscência, e a avareza, que é idolatria.” (Cl.3.5).
Ficarão de fora os cães e os feiticeiros, e os que se prostituem, e os homicidas, e os idólatras, e qualquer que ama e comete a mentira.” (Ap. 22. 15).
“Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.” (I Co. 15. 19).
“Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo,
Cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas.
Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo,
Que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas.” (Fp. 3.18-21).
Em Cristo, Wanderley Nunes.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Paulo e o seu ministério

Ao meu amigo Jabson
Querido amigo, desculpe a demora em responder a suas indagações a respeito do ministério do “nosso amado irmão Paulo”. Temos aqui apenas uma breve e simples introdução. Espero que sirva como um ponto de partida e um flash, que venha ancorar sua fé na mensagem dada por Deus ao mensageiro gentílico. Revelação esta eclipsada e esquecida por alguns séculos, mas sendo agora restaurada por amor dos eleitos. Deus continue te abençoando e boa leitura.
O Espírito de verdade.
“Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora. Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar.”(Jo.16.12-14).
Essas palavras foram sempre interpretadas como instruções de Jesus com respeito ao Espírito Santo que seria derramado no dia de pentecoste, todavia, é de conhecimento de qualquer estudante mais atento das escrituras que Deus sempre se revelou ao homem, no homem e através do homem. Isto está explicito no chamado de Noé (Gn.6. 8, 13-14), de Abraão (Gn.12.1-3) e outros.
Deus em sua revelação nunca trabalhou no vácuo, sempre usou alguém para entregar a mensagem que desejava transmitir. Se não há alguém com uma mensagem dada por Deus, logo haverá muitas “mensagens”.
Deus sempre tratou com a humanidade enviando uma mensagem e por conseguinte um mensageiro, pois sempre que os homens interpretaram as palavras de Deus a seu modo, houve divergências e as mais loucas heresias. Temos um personagem que lança muito luz sobre esse assunto: João Batista.
“Mas o anjo lhe disse: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João. E terás prazer e alegria, e muitos se alegrarão no seu nascimento, Porque será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe.
E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus, E irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto.” (Lc.1.13-17).
Deus estava visitando o seu povo, era iminente a irrupção do ministério de Jesus Cristo. Os Israelitas estavam em sua terra, havia uma religião instituída e suas mais diversas ramificações: Fariseus, saduceus, zelotes, essênios... Todos se diziam guardiões da verdade última de Deus. Em meio a essa verdadeira Babilônia, Deus envia um homem com uma mensagem.
Um louco do deserto, um eremita palrador cujas palavras possuíam a unção de Elias, não para convencer com sinais miraculosos e prodígios visíveis, mas para converter o coração mais pedregoso, e chamar á conversão o mais indiferente e religioso pecador.
Olhando para a Escritura hoje, com um olhar de quem perscruta a história, não é difícil reconhecer João Batista e seu ministério. Com nossa moderna e tradicional visão, no mínimo aceitamos o Batista como o precursor do Messias. Entretanto, não foi assim em sua época.
A mera figura do profeta era em si mesma asquerosa, ele quebrava todos os paradigmas da religião vigente. Acentuando mais ainda essas diferenças, o fato de estar inserido em uma sociedade teocrática. João Batista era a antítese da religião instituída.
Enquanto o sacerdote se vestia pomposamente de linho fino (Ex.28.4), João trajava peles de camelo (Mc.1.6); segundo a lei um animal impuro (Lv.11.4), que não deveria servir de alimento, nem mesmo se poderia tocar em seu cadáver. A alimentação também era um diferencial entre o profeta e a religião do seu tempo. O sacerdote se alimentava de flor de farinha (Lv.2.1-3), o Batista consumia gafanhotos e mel silvestre (Mc.1.6).
A mensagem contida na indumentária e culinária nem um pouco ortodoxas do atalaia de Deus, indicava um basta em todo formalismo podre e meramente ritualista da religião. Tudo o que Deus mesmo havia instituído para sua glória, o homem estava usando de forma egolátrica, para sua própria locupletação e bel prazer.
Haviam transformado o rito - antes uma expressão de adoração, temor e tremor - em uma fórmula fria, casuísta e aos olhos de Deus uma verdadeira abominação. João se vestia de peles de animal “imundo”, para dizer com isso que as justiças produzidas por meras ritualizações sem o espírito do temor, eram nada mais que um acinte a Deus, uma abominação maior de que vestir-se de peles de camelo.
Do mesmo modo, a alimentação do profeta falava que mais repugnante que se alimentar de gafanhotos era o deliciar-se com o seu próprio pão, usando o nome do Senhor como um mero pretexto : “E sete mulheres naquele dia lançarão mão de um homem, dizendo: Nós comeremos do nosso pão, e nos vestiremos do que é nosso; tão-somente queremos ser chamadas pelo teu nome; tira o nosso opróbrio.” (Is.4.1).
Quando a palavra era exposta, para de fato alimentar o povo que se chamava pelo nome do Senhor, a reação era sempre negativa, não desejavam alimentar-se do pão do céu, e sim dos seus quereres.
“[...]a alma deles se enfastiou de mim.” (Zc.11.8b).
O papel do mensageiro.
Temos nas Escrituras um tipo perfeito de mensageiro de Deus na figura do escravo Eliezer, enviado por Abraão para trazer a noiva amada para Isaque. No sistema denominacional, Eliezer é uma prefiguração do Espírito Santo.
Se observarmos com olhos mais bíblicos que tradicionalistas, perceberemos que isso é uma falácia, já que a pregação de modo nenhum é feita pelo Espírito de Deus, seu papel é comissionar e equipar. Também não é obra para anjos. Eles laboram em favor dos que hão de ser salvos (Hb.1.14), porém não possuem a prerrogativa da pregação, ela foi dada ao homem (Rm.10. 14-17).
Note a descrição perfeita de um pregador que recebe de Deus a responsabilidade de entregar uma mensagem para a noiva do Senhor, preparando-a para o encontro com o esposo.
O mensageiro Eliezer (não o Espírito Santo, mas um homem com uma mensagem do Espírito Santo), o escravo mais experimentado de Abraão (Deus), é convocado para levar uma palavra que trará a salvo Rebeca, a noiva (a Igreja eleita do Senhor), para o encontro com Isaque (Jesus Cristo, Deus que se fez homem). (Gn. 24.2-4).
A noiva Rebeca (a Igreja eleita, não estamos falando de denominação, nem de instituição “a” ou “b”; falamos de pessoas, o corpo de Cristo) tem como principal característica a obediência à palavra e discerne instintivamente a mensagem transmitida pelo escravo do Senhor.
E o servo tomou dez camelos, dos camelos do seu senhor, e partiu, pois que todos os bens de seu senhor estavam em sua mão, e levantou-se e partiu para Mesopotâmia, para a cidade de Naor.
E fez ajoelhar os camelos fora da cidade, junto a um poço de água, pela tarde, ao tempo que as moças saíam a tirar água. E disse: O SENHOR, Deus de meu senhor Abraão, dá-me hoje bom encontro, e faze beneficência ao meu senhor Abraão! Eis que eu estou em pé junto à fonte de água e as filhas dos homens desta cidade saem para tirar água. Seja, pois, que a donzela, a quem eu disser: Abaixa agora o seu cântaro para que eu beba; e ela disser: Bebe, e também darei de beber aos teus camelos; esta seja a quem designaste ao teu servo Isaque, e que eu conheça nisso que usaste de benevolência com meu senhor. E sucedeu que, antes que ele acabasse de falar, eis que Rebeca, que havia nascido a Betuel, filho de Milca, mulher de Naor, irmão de Abraão, saía com o seu cântaro sobre o seu ombro. E a donzela era mui formosa à vista, virgem, a quem homem não havia conhecido; e desceu à fonte, e encheu o seu cântaro e subiu. Então o servo correu-lhe ao encontro, e disse: Peço-te, deixa-me beber um pouco de água do teu cântaro. E ela disse: Bebe, meu senhor. E apressou-se e abaixou o seu cântaro sobre a sua mão e deu-lhe de beber. E, acabando ela de lhe dar de beber, disse: Tirarei também água para os teus camelos, até que acabem de beber. E apressou-se, e despejou o seu cântaro no bebedouro, e correu outra vez ao poço para tirar água, e tirou para todos os seus camelos. E o homem estava admirado de vê-la, calando-se, para saber se o SENHOR havia prosperado a sua jornada ou não. E aconteceu que, acabando os camelos de beber, tomou o homem um pendente de ouro de meio siclo de peso, e duas pulseiras para as suas mãos, do peso de dez siclos de ouro; E disse: De quem és filha? Faze-mo saber, peço-te. Há também em casa de teu pai lugar para nós pousarmos? E ela lhe disse: Eu sou a filha de Betuel, filho de Milca, o qual ela deu a Naor. Disse-lhe mais: Também temos palha e muito pasto, e lugar para passar a noite. Então inclinou-se aquele homem e adorou ao SENHOR.
(Gn.24.10-26).
Como já mencionamos, Deus sempre fez uso de um atalaia para entregar sua mensagem. Foi assim quando chamou Noé, quando tirou Abraão de Ur dos Caldeus, o mesmo se deu no envio de José lá no Egito, como também Moisés resgatando o povo da escravidão, Elias combatendo a idolatria a baal, Eliseu idem, depois podemos observar João Batista, no tempo que Roma dominava o povo de Deus, e possuía influência direta em sua religião.
Mais tarde vem Cristo, é crucificado, morto, e ressurge ao terceiro dia. Chega o pentecostes, os discípulos recebem o Espírito prometido. Havia a necessidade do Evangelho chegar às mais longínquas nações, e às mais diversas culturas, tudo isso teria que ser feito sem os entraves da lei ou seus resquícios. Para que isso fosse levado a efeito, Deus teria que comissionar, como sempre fez, um mensageiro.
Paulo o primeiro mensageiro aos Gentios.
O Senhor foi buscar no próprio Judaísmo o austero e zeloso Saulo, cujo nome significa: Pedido; denotando assim que os seus pais oraram a Deus em busca de um filho homem, o que era de muita importância na religião judaica, para assim perpetuar as suas tradições.
Ao ser convertido à fé em Cristo, no caminho de Damasco (At. 22.6, 15 e 21), adota um nome gentílico, mais precisamente romano: Paulo - que quer dizer: pequeno; numa clara demonstração de desprendimento, que é o verdadeiro espírito do Cristianismo.
A mensagem que Paulo trouxe, não era fruto de uma convivência física com os apóstolos, e muito menos com o Senhor, que aliás, ele nem conheceu pessoalmente. Foi sim, o resultado de um chamado de Deus e de seguidas revelações, que punham o seu ministério em um patamar muito superior aos dos outros apóstolos.
“Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens, porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo.” (Gl 1.11,12).
Paulo foi chamado para levar as boas novas (evangelho) aos Gentios. A seu respeito estava profetizado (Is. 49.6) : “... Também te dei para luz dos Gentios, para seres a minha salvação até a extremidade da terra.” E ele próprio discerniu essa profecia. (At.13. 46,47).
Pedro, Tiago e João foram na verdade chamados para anunciar a salvação em Cristo aos Judeus, embora Pedro, a princípio, tenha sido um instrumento do qual Deus se utilizou, para que os Gentios começassem a ouvir a palavra, (At. 15.7) , até que o ministério gentílico de Paulo se manifestasse:
“Antes pelo contrário, quando viram que o evangelho da incircuncisão me estava confiado, como a Pedro o da circuncisão (porque aquele que operou eficazmente em Pedro para o apostolado da circuncisão, esse operou também em mim com eficácia para os Gentios)”. (Gl 2.8).
“E conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as colunas, a Graça que se me havia dado, deram-nos as destras, em comunhão comigo e com Barnabé, para que nós fossemos aos Gentios e eles à circuncisão.” (Gl 2.9).
Para o que (digo a verdade em Cristo, não minto) fui constituído pregador, e apóstolo, e doutor dos Gentios, na fé e na verdade.” (I Tm 2.7).
O Apóstolo Paulo entendeu, como nenhum outro apóstolo, a dimensão da palavra “Graça” - o favor imerecido de Deus aos homens - o vemos falando disso no episódio quando repreendeu Pedro, pois este tinha comunhão com os Gentios, todavia, quando aparecia alguém, vindo de Jerusalém da parte do apóstolo Tiago, ele se afastava e evitava até participar das refeições com eles. (Gl 2.11-18). Para Paulo a Graça era total, era viver a vida da fé. (Tt 3.5-7).
O apóstolo dos gentios não pensava a Igreja instituição, e sim o corpo de Cristo. Sabemos pelo relato da própria escritura que Paulo:
  1. Trabalhou mais que os outros apóstolos:
“Mas pela graça de Deus sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus que está comigo”. (I Co. 15.10).
  1. Com esse evangelho revelado, Paulo foi o que mais escreveu epístolas, já que tinha muito o que transmitir. Foram 13 epístolas, quase a metade do Novo Testamento.
  2. Foi quem mais evangelizou:
Evangelizou a Ásia em dois anos, Atos 19:10; e parte da Europa, Espanha e Itália (Roma), (Rm.15:28-29).
  1. Ratificou a encarnação de Deus em Cristo ( Cl.1.19, 2.9 e I Tm.3.16)
  2. Batizou em o nome do Senhor Jesus Cristo ( At.19.5), conforme lhe fora revelado de antemão pelo próprio Senhor na estrada de Damasco. ( At. 9.5 e 18).
  3. Discerniu claramente estar sendo o veículo humano do Espírito da verdade, profetizado por Cristo para conduzir os gentios das trevas para a luz. (At. 26.17,18).
  4. De igual modo compreendeu ser o mensageiro da graça de Deus para a Igreja nascente (II Co.3.6, Cl.1.23 e 25, Ef. 3.8,9, II Co.11.2,3), eivada de costumes e ritos judaizantes.
Que fique bem claro em nossas mentes, que o evangelho revelado, como bem profetizou Jesus (Jo.16.12), foi dado a Paulo.
“Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora”.
A perfeita vontade de Deus, como vimos a pouco, que o próprio Jesus Cristo, como ministro da lei (Rm. 15.8) não pôde em hipótese nenhuma falar dela, foi uma missão reservada a esse escravo Eliezer, pois o Espírito que desceu sobre os apóstolos no dia de Pentecostes, atuou em Paulo de forma específica para o pôr como “luz dos Gentios”.
“Mas quando vier aquele espírito da verdade, ele vos guiará em toda verdade, porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o que há de vir” (Jo. 16.13).
Em nenhum apóstolo estes textos proféticos se harmonizam tão bem, exceto em Paulo. Usado pelo Espírito de Deus não falou de si mesmo, como profeta gentílico, só falou o que recebeu do Senhor e profetizou sobre a corrupção da Igreja no fim dos tempos.
Sim, este precioso mensageiro nos revelou a perfeita vontade de Deus (Rm 12.2). Um verdadeiro Eliezer em sua geração, preocupado em entregar ao seu Senhor uma noiva pura, como enfaticamente o vemos falando a Igreja em Corinto.
“Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo.
Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo.” (II Co.11.2,3).
Em outra ocasião, exorta aos gálatas a não abraçarem um outro evangelho, pois qualquer outro conteúdo bíblico-doutrinário, que não possuísse as características Paulinas, deveria ser veementemente rechaçado como uma mensagem de infernal condenação.
“Mas ainda que um anjo do céu, vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. (Gl. 1.8).
Paulo o modelo.
Sabemos que a mensagem aos gentios tem como primeiro arauto e modelo Paulo. Observamos que as cartas enviadas as Igrejas gentílicas, registradas em Apocalipse são referenciais importantes para corroborarem nossa argumentação. O próprio livro assegura ser uma mensagem atemporal e profética.
“Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo.” (Ap.1.3).
Do mesmo modo, as cartas enviadas às Igrejas vislumbram um tempo além daquele momento vivido pelo profeta João evangelista, pois retratam episódios claramente não circunscritos aquele período histórico. Isso fica patenteado através dos significados dos nomes de cada uma das Igrejas asiáticas citadas ali .
Há traços das fases vividas pela Igreja através dos séculos, traços esses, que o mais cético crítico do Evangelho não terá condições de refutar sua veracidade e historicidade. João escreveu para sete Igrejas locais, Deus, porém, falou para sete fases proféticas da Igreja em sua peregrinação terrena.
Em cada uma dessas fases sobreveio a apostásia, entretanto, Deus sempre proveu uma mensagem para restaurar aos seus filhos a palavra confiada ao primeiro mensageiro e modelo de todos os outros que viriam.
As dispensações gentílicas.
  1. Éfeso – Desejável e/ou relaxada. Tendo como fundamento o Jesus revelado através da mensagem Paulina, embora saibamos que o apóstolo dos gentios não chega ao final desta dispensação, sendo executado antes por Roma. No entanto, o que está em jogo aqui é a mensagem pregada por ele, a qual deixou discípulos fiéis, como por exemplo: Timóteo e Epafrodito, dentre outros.
  2. Logo em seguida temos Esmirna – Significa mirra, que era uma resina perfumada produzida por esmagamento. A mirra é usada na produção de óleos, perfumes e utilizada comumente para preparar corpos embalsamados para o velório. Tornou-se por isso, símbolo de amargura e sofrimento. O nome Esmirna era então muito significativo, apontando para uma Igreja sofredora, perseguida por Roma, todavia, exalando sempre o bom cheiro de Cristo.
  3. Pérgamo- Completamente casada e/ou elevada pelo casamento. A profecia aqui fala do relacionamento entre a Igreja e Roma. Desde da época em que Roma deixa de perseguir a Igreja 312, logo em seguida é proclamada a paz 313 D.c, até por volta do Sec. VI, D.c. É a fase e m que a Igreja começa a aderir ao balaísmo e ao nicolaísmo.
  4. Tiatira - Sacrifício de trabalho. É a dispensação em que a Igreja retorna às práticas veterotestamentárias, como também adere aos costumes pagãos de Roma. Essa dispensação vai de 606 a 1520 D.c.
  5. Sardes – Remanescente. Esse tempo pode ser claramente identificado com a época da reforma protestante, bem como o “anjo” da Igreja pode ser reconhecido indubitavelmente na pessoa de Lutero, pois além de dar os primeiros passos para que a Igreja abandonasse o paganismo, as obras da lei e os costumes pagãos, agiu e falou como um verdadeiro anjo de Deus, um profeta para sua época. Esse período vai de 1520 a 1750 D.c.
  6. Filadélfia - Amor fraternal, Um hiato excelente, onde tudo funcionou muito bem. Parecia um prenúncio da vinda de Cristo. O que se destaca nessa época de ouro da espiritualidade “protestante”, é o incansável trabalho evangelístico de John Wesley. Sua Igreja era literalmente o povo. Wesley de fato, não fundou nem uma denominação. Ele próprio dizia: “ Minha paróquia é o mundo.” Essa dispensação, vai de 1750 a 1906 D.c.
  7. Laodicéia - Governo do povo ou o povo governando. Essa dispensação se inicia em 1906 com a eclosão do pentecostalismo em Los Angeles, Estados Unidos, e perdura até a vinda de Cristo para buscar sua noiva amada. É a fase mais longa e mais difícil, pois a Igreja nominal traz em si os frutos abundantes de todas as dispensações precedentes. Vemos agora o “primeiro amor” falado em Éfeso totalmente esquecido, a Igreja tem renovado continuamente seus votos de fidelidade ao casamento realizado em Pérgamo com a religião Romana, pagã-judaica e apóstata. As práticas observadas em Tiatira, foram tão aperfeiçoadas que o “crente” hoje serve ao romanismo, pensando está servindo a Cristo. Como observado em Sardes, há muita aparência religiosa, entretanto não há vida espiritual. Tens nome de que vives, mas estás morto.” Ap.3.1.
Sabemos que em todas as dispensações houve sempre um remanescente com o espírito encontrado em Filadélfia, esperando apenas ouvir a voz da trombeta profética (Is.58.1, Jo.10.16) para seguir seu sonido. Pois no corpo doutrinário Paulino, não se dá ensejo a outro evangelho ou ao relativismo tão em voga nos dias de hoje.
“Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; Um só Senhor, uma só fé, um só batismo; Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós.” (Ef.4. 4-6)
Sabendo de antemão isso, abracemos a mensagem que Deus deu a Paulo e que está restaurando nesta última fase da Igreja, a mensagem da Graça de Deus.
Em Cristo, Wanderley Nunes.

sábado, 25 de agosto de 2012

O líder segundo o evangelho

“Então Jesus, chamando-os para junto de si, disse: Bem sabeis que pelos príncipes dos gentios são estes dominados, e que os grandes exercem autoridade sobre eles.
Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal; e, qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo.” (Mt 20.25-27).
O que acabamos de ler são palavras pronunciadas por Jesus. Fiz questão de negritar aquelas que considerei mais relevantes para minha breve alocução sobre o líder segundo o evangelho. Se observarmos todo o texto em seu contexto mediato e imediato, veremos que o arrazoado do mestre se deu por causa de uma discussão entre os discípulos, pois dois deles queriam a preeminência.
Jesus aponta de modo muito claro a explícita diferença entre o governo secular (no caso, romano) e o governo da sua eclésia (a igreja). No secularismo há domínio, embora maquiado de democracia (o voto obrigatório no Brasil que o diga), na eclésia do Senhor há liberdade, e o filho de Deus é cativo única e exclusivamente da consciência renovada pelo evangelho, digo com todas as letras: e-v-a-n-g-e-l-h-o!!!! Não falo de religiosismo, fanatismo e afins.
O “não será assim entre vós” de Cristo, é veemente e não deixa lugar para dúvidas. Não há espaço para autoritarismo e sim para ser o modelo do rebanho. A influência de alguém na eclésia do Senhor sempre foi reconhecida pelo serviço prestado à comunidade eclesial. “E rogamo-vos, irmãos, que reconheçais os que trabalham entre vós e que presidem sobre vós no Senhor, e vos admoestam” (I Tss.5.12).
No discurso do Senhor Jesus, o maior é aquele que mais doa de si para o reino. Quer ser um dos grandes? Trabalhe com a seriedade de um fiel empregado, possuindo todos os direitos trabalhistas: férias, décimo terceiro, honra da parte dos homens... É basicamente isto que o texto deseja transmitir. Quer ser o primeiro na eclésia? Seja o escravo. O escravo foi comprado, não possui herança, não trabalha por salário, não espera décimo terceiro e nem reconhecimento.
Presbítero, bispo, pastor
Nas escrituras, no ministério apostólico, e ao longo da história da igreja no primeiro século, não encontramos a estrutura hierárquica produzida a partir da sua romanização, a qual se desenvolveu em meio as desculpas sobre a demorada volta do Senhor e a necessidade de salvaguardar a linhagem sucessória dos apóstolos.
O que era domínio do Espírito, tornou-se uma usurpação disfarçada de zelo, que levou a igreja ao clericalismo bem profetizado em apocalipse, onde o Senhor Jesus denuncia os nicolaítas:“Tens, porém, isto: que odeias as obras dos nicolaítas, as quais eu também odeio”. (Ap. 2.6).
Observe que a igreja em Éfeso, embora sendo exortada a voltar aos princípios elementares da sua fé, é ainda elogiada pelo Senhor por ter algo em comum com Ele; o asco ao nicolaísmo. A essa altura é imprescindível saber o que isso significa. Nicolaíta provém de dois vocábulos: nicao - vencedor, dominador ou conquistador, e laos - laicato ou governo do povo. Portanto, nicolaíta é alguém que governa (domina) sobre o povo comum.
Vemos aqui uma manifestação repudiosa do Senhor contra aquela semente de autoritarismo tirânico e arbitrário, que culminaria em uma hierarquia papal epidêmica, pois perpassaria à era medial, e mesmo a reforma não seria capaz de debelá-la.
A estrutura reformada, a princípio, suavizou a questão, porém, ao longo da história da igreja a configuração estrutural da eclésia foi se secularizando e tornando-se cada vez mais parecida com a religião romanista.
Isso não era senão um retorno ao judaísmo, com influências pagãs, as quais descaracterizaram a eclésia, tornando-a cristã nominal, desprovida de sua credencial celeste, communionem Sanctorum1 .
É pertinente a observação que há um desenvolvimento do nicolaísmo. Em Éfeso, ele está circunscrito a obras, no entanto, em Pérgamo o que era mera ação, obra, torna-se doutrina: “Assim tens também os que seguem a doutrina dos nicolaítas, o que eu odeio”. Ap.2.15.
Há no clericalismo atual, que grassa em todo o sistema denominacional evangélico um profundo choque com a doutrina do sacerdócio universal de todos os cristãos (I Pe.2.9). Na atual conjuntura, somos ensinados a sermos dependentes da figura pastoral.
No pastorado conforme o Novo Testamento, os ministros preparam a eclésia para a maturidade e liberdade em Cristo: “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, Querendo o aperfeiçoamento (amadurecimento) dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo.
Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito (maduro), à medida da estatura completa de Cristo”. (Ef. 4.11-13).
Pastores, presbíteros e bispos, nada mais são que serviçais do Reino, os quais receberam a graça e a honra de serem chamados para o santo ministério (ministério = serviço). Pastor é sempre uma palavra referida a Cristo no Novo Testamento, com a exceção de Ef. 4.11, embora saibamos que o presbítero também é um apascentador.
Presbítero (πρεσβυτερος) – é um irmão mais velho, ou seja, alguém com uma larga experiência, conhecimento e testemunho de fé claramente reconhecidos pela igreja local. O seu chamado é para cuidar do rebanho (I Tm. 3. 1-7, Tt.1.5-9). O mesmo se pode dizer do bispo ( επίσκοπος ), que para Paulo possuí a mesma acepção de presbítero.
“Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam, e de cidade em cidade estabelecesses presbíteros, como já te mandei: Aquele que for irrepreensível, marido de uma mulher, que tenha filhos fiéis, que não possam ser acusados de dissolução nem são desobedientes. Porque convém que o bispo seja irrepreensível...”.(Tt.1.5-7).
Reconhecimento sim, clericalismo não
“Aos presbíteros, que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles, e testemunha das aflições de Cristo, e participante da glória que se há de revelar: Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho. E, quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa da glória (I Pe. 5.1-4).
Podemos observar nas palavras de Pedro a completa ausência da ideia de uma pirâmide hierárquica clerical, que invadiu a igreja a partir de Inácio de Antioquia no fim do século I, o qual já defendia o primado dos bispos como únicos representantes de Cristo frente a Igreja e o mundo.
“Segui ao bispo, vós todos, como Jesus Cristo ao Pai. Segui ao presbítero como aos apóstolos[...] Ninguém ouse fazer sem o bispo coisa alguma concernente à Igreja. Como válida só se tenha a eucaristia celebrada sob a presidência do bispo ou de um delegado seu. […] Sem a união do bispo não é lícito batizar nem celebrar a eucaristia; só o que tiver sua aprovação será do agrado de Deus e assim será firme e seguro o que fizerdes.” 2
Inácio também afirma em suas cartas o primado de Roma : “Roma preside a Igreja na caridade”.3
Tal atitude é veementemente rechaçada por João em uma de suas cartas, em que um certo Diótrefes ansiava o poder em detrimento da autoridade apostólica: “Tenho escrito à igreja; mas Diótrefes, que procura ter entre eles o primado, não nos recebe.
Por isso, se eu for, trarei à memória as obras que ele faz, proferindo contra nós palavras maliciosas; e, não contente com isto, não recebe os irmãos, e impede os que querem recebê-los, e os lança fora da igreja”. (III Jo. 9,10).
Perceba que Diótrefes estava contra os apóstolos e usurpou a autoridade dos discípulos do Senhor, se achando no direito de ditar normas, não tendo sido chamado por Deus para apascentar, muito menos para presidir a Igreja de Cristo.
Se voltarmos para a epístola de Pedro notamos que aquele que dizem, ter obtido o primado de Roma, e isso do próprio Cristo, demonstra com suas palavras desconhecer, e sobretudo, não reconhecer essa doutrina.
Quando fala dos colegas presbíteros, em momento algum se põe como superior : “Aos presbíteros, que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles”. Note que para Pedro nada o diferenciava com relação aos outros presbíteros, ele era um com eles. Pedro não se sentia bispo deles, o que o estacava entre os irmãos era ter sido testemunha das aflições de Cristo.
Havia sim um respeito da parte da Igreja aos apóstolos do Senhor, porém isso nunca levou a Igreja, até essa época, para crença de um bispo sobre todos os bispos, isso nunca foi ideia da Igreja nascente dos apóstolos, e muito menos de Cristo.
Podemos perceber que para Paulo, o apóstolo dos gentios, não havia um maioral em Jerusalém responsável por toda a Igreja em todos os lugares. Quando se refere aos mais proeminentes apóstolos, fala no plural: “E conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as colunas...” (Gl. 2.9). Em nenhum momento Paulo mencionou um bispado único.
Outro fato que aclara a visão apostólica sobre a direção da Igreja pode ser observado em dois episódios. Quando Samaria recebeu o Evangelho, nada se mencionou sobre uma autoridade acima da Igreja enviando algum obreiro para aquela cidade, pelo contrário, outros apóstolos enviaram aqueles que eram tidos como os maiores. Lembre-se, para Jesus o maior é o que serve.
Os apóstolos, pois, que estavam em Jerusalém, ouvindo que Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João”. (At. 8. 14).
O segundo episódio a ser analisado diz respeito ao trato que Pedro dá a Paulo: “E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada”. (II Pe. 3.15).
Sabemos que o nicolaísmo se encontra tão arraigado na Igreja, que se um ministro chamar outro de irmão sem lhe titular como pastor, bispo, apóstolo ou coisa que o valha, será motivo bastante para um grande desentendimento entre os dois.
Pedro e os demais apóstolos reconheciam o chamado e a obra de Paulo: “E conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as colunas, a graça que me havia sido dada, deram-nos as destras, em comunhão comigo...” ( Gl. 2. 9). Entretanto, para eles o apostolado era um serviço prestado a eclésia do Senhor, não um cargo que denotava uma superioridade hierárquica sobre os demais.
O apóstolo Pedro compreendia de modo muito claro a posição, sabedoria e ministério Paulino, e esse era mais um motivo para chamá-lo de “amado irmão”, pois para Pedro alguém que agia como Paulo, deveria de fato ser muito amado pelos outros apóstolos e pela eclésia do Senhor.
O reconhecimento do trabalho apostólico e episcopal por parte da igreja sempre teve como ponto basilar o serviço.
Protestando o não reconhecimento do seu ministério, Paulo diz aos coríntios: “Se eu não sou apóstolo para os outros, ao menos o sou para vós; porque vós sois o selo do meu apostolado no Senhor.” (I Co. 9.2). Paulo não está reclamando autoridade para si, e sim o reconhecimento do serviço apostólico.
Em outro lugar acrescenta: “Eu de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gastar pelas vossas almas, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado.” ( II Co. 12.15). O vemos noutro lugar xpressando o que entendia sobre apostolado.
“Porque tenho para mim, que Deus a nós, apóstolos, nos pôs por últimos, como condenados à morte; pois somos feitos espetáculo ao mundo, aos anjos, e aos homens.
Nós somos loucos por amor de Cristo, e vós sábios em Cristo; nós fracos, e vós fortes; vós ilustres, e nós vis. Até esta presente hora sofremos fome, e sede, e estamos nus, e recebemos bofetadas, e não temos pousada certa, e nos afadigamos, trabalhando com nossas próprias mãos. Somos injuriados, e bendizemos; somos perseguidos, e sofremos;
Somos blasfemados, e rogamos; até ao presente temos chegado a ser como o lixo deste mundo, e como a escória de todos.” (I Co. 4. 9-13).
É interessante notar que tanto Pedro quanto Paulo, falam de apascentamento como cuidado com o rebanho do Senhor: “Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele. (I Pe. 5.2). Falando das qualidades do bispo Paulo diz que a casa deste deve ser governada, porém, quando se refere a igreja, declara que deve ser cuidada.
“Que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia (Porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?)” (I Tm. 3 .4-5).
É esse tipo de líder que deve ser honrado pela igreja.
O clericalismo religioso, que por vezes descamba para a política secular, fazendo do rebanho apenas produtores de lã, leite e carne para a locupletação de um lobo voraz e mercenário, que usa a eclésia como mero curral eleitoral e objeto das suas ambições mais esdrúxulas, esse sim, deve sofrer por parte dos seguidores de Cristo uma rejeição veemente, total e absoluta.
Que a eclésia do Senhor em tempos tão difíceis, tenha o discernimento e a equidade necessária para rejeitar o nicolaísmo, e com respeito, terno e entranhável afeto, reconhecer os irmãos (presbítero, bispos= pastores) que foram chamados para serem ovelhas guias do rebanho do Senhor.
“Obedecei aos vossos guias (termo original) e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros.” ( Hb. 13. 17).
Em Cristo, Wanderley Nunes.
1 a comunhão dos santos
2Apud New Advent. Página visitada em 29/01/2011.
3Ibid.

sábado, 26 de maio de 2012

Hebreus 13.11-13.

“Pois aqueles animais cujo sangue é trazido para dentro do Santo dos Santos, pelo sumo sacerdote, como oblação pelo pecado, têm o corpo queimado fora do acampamento”.
Pelo simples fato de possuirmos um altar (o sacrifício de Jesus), que não têm direito de comer os que ministram no tabernáculo (referindo-se ao sacerdócio judaico), é importante e necessária a explicitação de que o sacrifício propiciatório de Cristo foi uma oblação (oferta) do seu sangue, o qual foi apresentado para nossa justificação no altar Divino.
“muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo (Hb. 9.14).
Porque Cristo não entrou em santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para comparecer, agora, por nós, diante de Deus.” (Hb.9.24).
Porém, para que que tal sacrifício fosse efetivado teria que haver uma vítima perfeita, não um animal, mas um ser humano impecável (Hb.10.1,4; 7.26), nominado por Paulo como “o último Adão”. “Pois assim está escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente. O último Adão, porém, é espírito vivificante (I Co.15.45); O primeiro homem, formado da terra, é terreno; o segundo homem é do céu” (I Co.15.47).
Tudo isso teria que ocorrer primariamente no âmbito terreno, para depois ganhar sua concretude no âmbito eterno, pois como homem-servo, o Jesus ressuscitado diz a atônita Madalena quando tenta abraçá-lo: “ […] Não me detenhas; porque ainda não subi para meu Pai, mas vai ter com os meus irmãos e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus ( Jo.20.17). Nesse episódio se cumpre Hb.9.24.
Antes de se apresentar no tabernáculo celestial como o cordeiro sacrificial perfeito, Cristo padeceu aqui, e o seu corpo – como a vítima sacrificada no altar santíssimo no dia da expiação – foi imolado fora das portas da cidade de Jerusalém, demonstrado ser essa uma morte vituperante, pois o cordeiro do culto israelita era levado para longe do arraial (comunidade judaica), sendo vedado ao sumo sacerdote e a qualquer judeu comer dele, por ser o corpo do pecado, e por essa razão, tinha que ser incinerado longe dos israelitas.
“Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (II Co.5. 21).
É com essa imagem do ritual expiatório que o escritor de Hebreus afirma: “Por isso, foi que também Jesus, para santificar o povo, pelo seu próprio sangue, sofreu fora da porta” (Hb. 13.12). Aqui é apontada a grande diferença entre as sombras ritualísticas dos holocaustos da lei mosaica, e a realidade salvífica e vicária da morte de Cristo.
Como o verdadeiro cordeiro de Deus (Jo.1.29), através do seu sangue, tornou o pecador santo por aquilo que ele fez: “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores.
“Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida.” (Rm. 5.8-10).
Tendo Cristo assim padecido por nós, cabe-nos reconhecer que não resta mais nenhum sacrifício que possamos fazer a fim de agradá-lo, pois tudo já foi consumado (Jo.19.30). De modo pedagógico e exemplar Jesus “saiu” para sofrer fora do arraial das sombras (leis e rituais religiosos judaicos).
O sair, sempre foi algo muito próprio daqueles que discerniram o chamado de Deus. Noé saiu construindo uma arca para livramento da sua família, Abraão saiu sem saber para onde ia, guiado apenas pelo vento do espírito. No antigo concerto, talvez o sair mais significativo, eivado de representações espirituais e escatológicas se deu no êxodo do Egito.
As saídas individuais ou de nações inteiras relatadas nas escrituras hebraicas, indicam que o povo de Deus foi, é, e sempre será, um povo chamado para sair. Daí o imperativo de Hebreus 13.13. “Saiamos, pois, a ele, fora do arraial, levando o seu vitupério.”
O sair, não coincidentemente, se encontra na raiz da palavra ekklesia,composta por dois radicais gregos: ek que significa para fora e klesia que significa chamados. Chamados para fora ou chamados para sair, denota a natureza orgânica da comunidade daqueles ouvem a voz do Senhor. “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem.”(Jo.10.27).
“Me seguem”, nas palavras de Jesus indicam a disposição dos seus ouvintes de negarem-se a si mesmos: conceitos, preconceitos, tradições humanas e afins, com o firme intuito de ser apenas um discípulo na simplicidade do evangelho (II Co. 11.3). É com essa ideia, que o amanuense inspirado imperativa e radicalmente vocifera:
Saiamos, pois, a ele, fora do arraial, levando o seu vitupério.”
No contexto social e histórico no qual foi redigida essa carta, observa-se apenas um caminho para a manutenção de uma fé puramente neotestamentária por parte dos irmãos hebreus - os quais ainda davam ouvidos aos ecos e reverberações da lei mosaica - um rompimento definitivo com o judaísmo e suas implicações.
Para isso, teriam que sair do arraial, só assim poderiam encontrar de fato Jesus. Nessa saída, teriam que estar dispostos a carregar o desprezo de sofrerem a alcunha de ex-judeus, ex-povo do templo, ex-dependente de sacerdotes, ex-povo ritualístico, ex...
Nesse vitupério (desprezo) imposto pela religião institucional, é que a eclésia do Senhor se tona concreta e definitivamente gente da nova aliança.
Quando Paulo fala da sua fé em Cristo e tudo que teve que renegar - leia-se claramente e com todas as letras, todo o rito judaico - por causa do vinho novo que recebera, é que axiomaticamente diz: “Porventura, procuro eu, agora, o favor dos homens ou o de Deus? Ou procuro agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo.” (Gl 1. 10).
Vituperados sim pelos homens, porém acolhidos pelo Senhor na liberdade do evangelho da graça, para viver pela fé, na fé do filho de Deus. “Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente na carne. Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus.” (Rm.2.28,29).
Em Cristo e por Cristo, Wanderley Nunes.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Hebreus 13.10

“Possuímos um altar do qual não têm direito de comer os que ministram no tabernáculo”.
É preciso compreender que a fé em Jesus (evito agora falar em cristianismo, pois o termo está amplamente comprometido com religiosidade, paganismo, judaísmo e afins) não possui nem uma vinculação com a legalidade imposta pelas leis judaicas. Não há nenhuma afinidade, nem interdependência entre ambas, na verdade, elas são excludentes.
Por isso, depois de todo um arrazoado sobre o novo concerto, o escritor da carta aos hebreus, de maneira forte e incisiva diz que aqueles que abraçaram a fé em Cristo possuem um altar; aqui claramente há uma figura de linguagem chamada metonímia, ( A metonímia consiste em empregar um termo no lugar de outro, havendo entre ambos estreita afinidade ou relação de sentido) já que “altar” se encontra no sentido de sacrifício, pois os sacerdotes não se alimentavam do altar e sim do sacrifício nele realizado.
O texto afirma categoricamente que “os que ministram no tabernáculo”, apontando para os sacerdotes judeus, não tem “o direito” de comer desse altar (leia-se: sacrifício). A palavra “direito” fala de legalidade conquistada. Jesus, humanamente falando, não possuía o “direito” de servir sacerdotalmente no templo de Jerusalém, pelo fato de não ser da tribo de Levi.
“Ora, se ele estivesse na terra, nem seria sacerdote, havendo já os que oferecem dons segundo a lei” ( Hb. 8.4).
“Porque aquele, de quem estas coisas se dizem, pertence a outra tribo, da qual ninguém ainda serviu ao altar” ( Hb.7.13).
Ele era sacerdote de outra ordem, superior as convenções humanas, Jesus era da ordem de Melquisedeque, seu sacerdotalismo era espiritual e eterno. Do mesmo modo como foi impossível para Cristo exercer o sacerdócio nos moldes judaizantes, por não possuir as prerrogativas para isso, também todos os que querem se justificar pela lei (judaísmo cristão), com seus “montes”, vigílias, jejuns, dias de guarda, regras alimentares, etc... , não tem o direito de usufruir da graça do evangelho.
O termo “comer” aponta nitidamente para comunhão, desfrute. Quem vive como ministro sacerdotal judaico, não tem nenhum direito de usufruir da comunhão com Cristo. “E, se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça”. (Rm.11.6). “Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça decaístes” ( Gl.5.4).
O fator preponderante quando se fala do sacrifício que Jesus fez, em comparação aos sacrifícios judaicos-ritualísticos-cristãos, é que aquele feito por Cristo foi único, perfeito, por isso realizado de uma vez por todas. “E não pelo sangue de bodes e novilhos, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez por todas no santo lugar, havendo obtido uma eterna redenção” (Hb. 9.12).
“Mas agora, na consumação dos séculos, uma vez por todas se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo” (Hb. 9.26 ). “Pois com uma só oferta tem aperfeiçoado para sempre os que estão sendo santificados”. (Hb. 10.14).
Buscar a justificação por intermédio do que fazemos e não pelo que Cristo fez, é aniquilar o sacrifício de Cristo e ultrajar o espírito da graça, tornando o que Jesus fez comum (leia-se: profano, ou seja, sem valor diante de Deus, Hb. 10.29). Quando se realizava um sacrifício a Deus na antiga aliança, logo em seguida havia necessidade de outro e outro...
Jesus retrata para a samaritana de modo perfeito o que possuímos, quando cremos nele: “Replicou-lhe Jesus: Todo o que beber desta água tornará a ter sede (antiga aliança); mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede; (nova aliança) pelo contrário, a água que eu lhe der (o Espírito Santo) se fará nele uma fonte de água que jorre para a vida eterna. (Jo.4.13,14).
Temos um altar (um sacrifício perfeito, Jesus), do qual não têm direito de comer (de usufruir) os que ministram no tabernáculo (os que preferem se justificar pelas obras).
Em Cristo, Wanderley Nunes.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

O JEJUM E A GRAÇA DE DEUS

INTRODUÇÃO
Sempre que compartilhamos a palavra de Deus e tratamos do evangelho da graça surgem perguntas com relação a alguns textos obscuros, e por vezes ambíguos os quais, até então, não havia ainda nos ensejado tão agradável oportunidade para analisá-los à luz do pensamento paulino .
Abordaremos o jejum e a graça e como harmonizar o jejum com a palavra neotestamentária, se é que isso pode ser feito. Buscaremos também, respostas plausíveis para algumas dessas indagações, perscrutando a mente envolvente, brilhante, e sobretudo iluminada do “escravo” do Senhor, epíteto com o qual se apresentava Paulo, na maior parte dos seus escritos.
Observaremos o pensamento e o comportamento paulino diante da igreja de Jerusalém, bem como suas atitudes diante dos ritos judaicos. Sua engenhosa e inspirada argumentação de que os gentios são filhos da livre, como Isaque, também merecerá aqui nossa atenção, juntamente com a ideia apostólica de que estamos debaixo da lei de Cristo.
Finalizando nossa argumentação, investigaremos textos controversos saídos da própria pena de Paulo, comparando-os ao que se pode extrair do seu ministério relatado por Lucas em Atos.
Que Deus nos abençoe nessa sublime empreitada.

O JEJUM E JESUS

O primeiro passo para compreender a questão do jejum com relação ao Novo Testamento perpassa por dois textos: Mt. 9.14,15 e Mt. 17.21.
“Então, chegaram ao pé dele os discípulos de João, dizendo: Por que jejuamos nós e os fariseus muitas vezes, e os teus discípulos não jejuam?”

“E disse-lhes Jesus: Podem porventura andar tristes os filhos das bodas, enquanto o esposo está com eles? Dias, porém, virão, em que lhes será tirado o esposo, e então jejuarão.”
Os textos deixam patente que os discípulos de Jesus não jejuavam. Se isso não fosse verdade o próprio Cristo teria refutado a afirmação, todavia, ele não só confirma, como aponta os motivos para os seus seguidores não praticarem esse rito judaico. O mestre associa aqui esse sacrífico da lei à tristeza : “Podem porventura andar tristes os filhos das bodas...” . Logo em seguida menciona o motivo para não jejuar: “A presença do esposo”, ou seja, Jesus estando com os seus discípulos não haveria necessidade de jejum (leia o texto “O evangelho da graça x os rudimentos da lei”).
Outra questão associada a essa mesma passagem é quanto aos dias em que o esposo seria tirado. A interpretação comum afirma que seria quando Cristo fosse assunto aos céus, então a igreja ficaria sem o noivo. Essa afirmação aparentemente ganha um pouco mais de força devido ao pensamento trinitarista de que Jesus é a segunda pessoa da trindade, logo não é ele que está hoje na igreja, e sim o Espírito santo.
Mesmo se concordássemos com essa ideia, que indubitavelmente não comungamos, facilmente poderíamos contraditá-la, pois há diversos textos bíblico que confirmam, inquestionavelmente, a presença de Jesus em espírito na igreja.
Se há contradição na doutrina trinitariana com relação a estar Cristo na igreja hoje ou não, para nós que cremos que Jesus é Deus - e que se tornou homem na encarnação, e está em espírito hoje na obra da regeneração dos eleitos - não há nenhuma dificuldade.
Conforme o pensamento tradicional, Jesus (o esposo) foi tirado e não está com a igreja, por isso, ela precisa jejuar, todavia, no mesmo evangelho o mestre afirma: “E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém.” (Mt. 28:20). Ora, se Jesus disse que só haveria necessidade de jejuar se ele não estivesse presente, e se de fato está presente, como bem afirma Mt. 28.20, então não há necessidade de jejum.

ALGUNS VERSÍCULOS QUE ATESTAM A PRESENÇA DE JESUS

“E tendo chegado diante da Mísia, tentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus não lho permitiu.” (At. 16.7); “a quem Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, a esperança da glória” (Cl.1.27); “Ou não sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós?” (II Co.13.5).
Acreditamos que fica muito explicito que só haveria necessidade de jejuar se o esposo não estivesse presente, entretanto, sabemos que hoje na Nova Aliança Cristo não só está conosco, como também está em nós, conforme dantes prometera : “O Espírito da verdade, o qual o mundo não pode receber; porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque ele habita convosco (era o próprio Jesus), e estará (a partir do pentecoste) em vós.” (Jo.14.17).
Seguindo essa linha de pensamento, o mesmo pode ser aplicado no que se refere a Mateus 17. 21, pois o contexto fala de um episódio em que Jesus convoca Pedro, Tiago e João para um momento de comunhão no qual os discípulos testemunham a transfiguração do Senhor. É justamente quando descem do monte que encontram os outros nove seguidores de Cristo discutindo com os fariseus, pois não haviam conseguido expulsar o demônio de um rapaz.
A razão de não obterem sucesso no intento aclara-se facilmente se for seguida a linha de pensamento delineada pelo próprio Jesus: Não estando na presença dele se faz necessário o jejum. Sabemos pelo relato de Mateus que foi isso mesmo que aconteceu. Há ainda uma agravante, quando perguntado sobre a razão de não poderem lograr êxito contra o diabo, Cristo não fala em um primeiro momento no jejum, mas sim na falta de fé.
“Depois os discípulos, aproximando-se de Jesus em particular, perguntaram-lhe: Por que não pudemos nós expulsá-lo? Disse-lhes ele: Por causa da vossa pouca fé; pois em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele há de passar; e nada vos será impossível.” (Mt. 17.19,20). E só em seguida diz que lhes era preciso jejuar, claro, pois não possuíam fé bastante e não estavam com o esposo, e isso segundo o pensamento do próprio Jesus.

COMPREENDENDO A MENTE DE PAULO

E fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os que estão debaixo da lei, como se estivesse debaixo da lei, para ganhar os que estão debaixo da lei.
Para os que estão sem lei, como se estivesse sem lei (não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei. Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns. (I Co. 9.20-22).
É muito importante para a compreensão de alguns textos, que se tenha uma visão clara do pensamento real do escritor com relação ao assunto a ser abordado. Não podemos agir diferente com relação ao apóstolo dos gentios. Urge compreender o que é importante para Paulo, como também, o que é secundário ou de nenhum préstimo.
Para isso, analisaremos o pensamento Paulino com relação a lei Mosaica e a sua harmonia ou discrepância com a fé em Cristo. Para levarmos a efeito nossa investigação, observemos como o apóstolo crê que a salvação é conquistada:

A salvação pela graça
  • “Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus.” ( Rm.3.24);
  • “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus
    (Ef. 2. 8).
  • “Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo”( Tt.3.5). Para Paulo, não há dom maior do que a salvação em Cristo, ele crê que em Jesus temos tudo:
  • “Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas?” (Rm 8.32).
A fé judaica e o Novo Concerto
  • “O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica.” (II Coríntios 3.6).
  • “E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, veio em glória, de maneira que os filhos de Israel não podiam fitar os olhos na face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, a qual era transitória.”( II Co. 3. 7)
  • “E não somos como Moisés, que punha um véu sobre a sua face, para que os filhos de Israel não olhassem firmemente para o fim daquilo que era transitório.
    Mas os seus sentidos foram endurecidos; porque até hoje o mesmo véu está por levantar na lição do velho testamento, o qual foi por Cristo abolido.” (II Co. 3.13,14).
  • “Mas, quando se converterem ao Senhor, então o véu se tirará. Ora, o Senhor é Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.” (II Co. 3.16,17).
Nos versículos supracitados vemos o apóstolo dos gentios escrevendo de forma taxativa que era ministro capacitado por Deus, entretanto, não da Antiga Aliança que era um ministério de morte, pois embora houvesse sido gravado em pedras e tivesse o seu quinhão de glória, sua vigoração estava limitada pela vinda de Jesus Cristo e o estabelecimento de uma nova dispensação.
“Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, Para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos. (Gl.4.4,5).
Paulo no texto corintiano usa o véu que cobriu o rosto de Moisés como uma figura do véu do templo em Jerusalém, o qual se rasgou de alto a baixo (Mc. 15. 37,38), simbolizando o fim da separação entre o homem e Deus.
Daquele momento em diante qualquer um que cresse na morte salvífica de Cristo, independente de ser sacerdote, levita, leigo, assassino ou prostituta, crendo no preço sacrificial da morte redentora de Cristo desfrutava, agora, de pleno acesso a Deus pela fé; o véu fora tirado.
O Velho Testamento, para o apóstolo da graça, não tem em si mesmo mais razão de ser. Por isso, assevera de forma categórica, que se houver uma conversão do judaísmo ao cristianismo haverá liberdade em Cristo, aqui prefigurada pelo véu.
Quando o véu judaizante, espiritualmente e literalmente já rasgado por Jesus, for assumidamente rasgado pela igreja cristã, haverá perfeita liberdade em Cristo : “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” (Jo 8. 32,36).

Paulo e as obras da lei
A carta de Paulo aos gálatas tem como objetivo trazê-los de volta ao evangelho da graça, pois haviam sido seduzidos a abraçarem preceitos judaizantes obsoletos (Gl. 3.1). De uma forma bem incisiva o apóstolo diz, que se está sendo pregado um evangelho que não se harmoniza com aquele que ele próprio havia pregado, fosse considerado anátema1.
Aos gálatas fica evidenciada a distinção entre lei e graça, sobretudo com a farta explanação paulina ao referir-se a diferença entre o que Abraão recebeu pela fé e as obras da lei, a qual veio 430 anos depois da promessa.
“Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti.
De sorte que os que são da fé são benditos com o crente Abraão.” (Gl. 3.8-9).
Logo em seguida faz a separação:
“Todos aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las.” (Gl. 3.10).
Observemos que se faz menção ao livro da lei, sendo citado o texto de Dt. 27.26, com uma agravante específica : Se é para adotar as obras da lei, se faz necessário adotar todas elas.2 Paulo não menciona com isso apenas a abstenção alimentar, dias de guarda ou a circuncisão, e sim todas as coisas escritas no livro da lei. Seguindo através do prisma Paulino, todo esforço envidado para agradar a Deus e ser aceito por ele baseado em elementos da lei, constitui-se em uma maldição para o ofertante.
  • “Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada. (Gl.2.16).
  • “Não aniquilo a graça de Deus; porque, se a justiça provém da lei, segue-se que Cristo morreu debalde.” ( em vão - Gl.2.21).
Baseado nessas assertivas, vejamos alguns rudimentos da lei aos quais os gálatas estavam sendo persuadidos a abraçar.
“Mas agora, conhecendo a Deus, ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir? Guardais dias, e meses, e tempos, e anos. (Gl.4.9,10).
Está incluído aqui de forma inconteste, uma das datas mais importantes do calendário judaico: O dia da expiação.

O dia da expiação.

A palavra “expiação” (heb. kippurim, derivado de kaphar, que significa “cobrir”) comunica a ideia de cobrir o pecado mediante um “resgate”, de modo que haja uma reparação ou restituição adequada pelo delito cometido (note o princípio do “resgate” em Êx.30.12; Nm 35.31; Sl 49.7; Is 43.3).
(1) A necessidade da expiação surgiu do fato que os pecados de Israel (Lv.16.30), caso não fossem expiados, sujeitariam os israelitas à ira de Deus (cf. Rm 1.18; Cl 3.6; 1Ts 2.16). Por conseguinte, o propósito do Dia da Expiação era prover um sacrifício de amplitude ilimitada, por todos os pecados que porventura não tivessem sido expiados pelos sacrifícios oferecidos no decurso do ano que findava.
Dessa maneira, o povo seria purificado dos seus pecados do ano precedente, afastaria a ira de Deus contra ele e manteria a sua comunhão com Deus (Lv.16.30-34; Hb 9.7).
(2) Porque Deus desejava salvar os israelitas, perdoar os seus pecados e reconciliá-los consigo mesmo, Ele proveu um meio de salvação ao aceitar a morte de um animal inocente em lugar deles (i.e., o animal que era sacrificado); esse animal levava sobre si a culpa e a penalidade deles (Lv.17.11; cf. Is 53.4,6,11) e cobria seus pecados com seu sangue derramado.

A cerimônia da expiação.

Levíticos 16 descreve o Dia da Expiação, o dia santo mais importante do ano judaico. Nesse dia, o sumo sacerdote, vestia as vestes sagradas, e de início preparava-se mediante um banho cerimonial. Em seguida, antes do ato da expiação pelos pecados do povo, ele tinha de oferecer um novilho pelos seus próprios pecados. A seguir, tomava dois bodes e, sobre eles, lançava sortes: um tornava-se o bode do sacrifício, e o outro tornava-se o bode expiatório (16.8). Sacrificava o primeiro bode, levava seu sangue, entrava no Lugar Santíssimo, para além do véu, e aspergia aquele sangue sobre o propiciatório, o qual cobria a arca contendo a lei divina que fora violada pelos israelitas, mas que agora estava coberta pelo sangue, e assim se fazia expiação pelos pecados da nação inteira (16.15,16).

Como etapa final, o sacerdote tomava o bode vivo, impunha as mãos sobre a sua cabeça, confessava sobre ele todos os pecados dos israelitas e o enviava ao deserto, simbolizando isto que os pecados deles eram levados para fora do arraial para serem aniquilados no deserto (16.21, 22).

(1) O Dia da Expiação era uma assembleia solene; um dia em que o povo jejuava e se humilhava diante do Senhor (16.31). Esta contrição de Israel salientava a gravidade do pecado e o fato de que a obra divina da expiação era eficaz somente para aqueles de coração arrependido e com fé perseverante (cf. 23.27; Nm 15.30; 29.7).
(2) O Dia da Expiação levava a efeito a expiação por todos os pecados e transgressões não expiados durante o ano anterior (16.16, 21). Precisava ser repetido cada ano da mesma maneira3.

Esse dia também passou a ser chamado pelos israelitas de o dia do Jejum (Jr.36.6). Era um dia solene, um feriado sagrado. Paulo admoesta a alguns irmãos judeus que estavam com ele na embarcação, (os quais notadamente ainda estavam observando esse rudimento da lei) dizendo que o “jejum” - o dia da expiação - já havia passado, dando a entender que os judaizantes podiam cuidar dos seus afazeres no barco (At. 27. 9).
Se observarmos Gálatas veremos qual era o pensamento do apóstolo com relação aos dias solenes da religião judaica, dos quais o dia da expiação era o maior.
Mas agora, conhecendo a Deus, ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir? Guardais dias e meses, e tempos, e anos (Gl.4.9,10).
Esses dias aqui citados, incluiem sem dúvida o dia da expiação, que era uma celebração israelita. Os gentios Gálatas, não tinham nada haver com isso, assim como nós também não temos, com a agravante que além dessa cerimônia ser de origem judaica, já foi cravada por Cristo na cruz. Se não temos que praticar o ritual expiatório, também, não temos que praticar o jejum nele embutido.

Filhos da livre

“Porque está escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava, e outro da livre. Todavia, o que era da escrava nasceu segundo a carne, mas, o que era da livre, por promessa. O que se entende por alegoria; porque estas são as duas alianças; uma, do monte Sinai, gerando filhos para a servidão, que é Agar. Ora, esta Agar é Sinai, um monte da Arábia, que corresponde à Jerusalém que agora existe, pois é escrava com seus filhos.” (Gl.4.22-25).
“Mas que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu filho, porque de modo algum o filho da escrava herdará com o filho da livre.De maneira que, irmãos, somos filhos, não da escrava, mas da livre.” ( Gl.4.30,31).
Observe o argumento paulino : O filho da escrava, humanamente falando, era filho de Abraão, entretanto, trazia nas veias o sangue escravo. Ainda que fosse filho da vontade do patriarca, no que se refere a herança não haveria esperança alguma para o seu futuro. Já que concernente a promessa, só seria considerado filho o que nascesse do ventre de Sara.
“Disse Deus mais a Abraão: A Sarai tua mulher não chamarás mais pelo nome de Sarai, mas Sara será o seu nome. Porque eu a hei de abençoar, e te darei dela um filho; e a abençoarei, e será mãe das nações; reis de povos sairão dela.” (Gn. 17.15,16).
Isso fica ainda mais patente no episódio em que o Senhor pede que Abraão sacrifique Isaque, Deus mostra aí que só considera filho de Abraão àquele que nasceu do ventre de Sara, pois é dito de Isaque que é o filho único do patriarca.
“E aconteceu depois destas coisas, que provou Deus a Abraão, e disse-lhe: Abraão! E ele disse: Eis-me aqui. E disse: Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá, e oferece-o ali em holocausto sobre uma das montanhas, que eu te direi.” (Gn.22.1,2).
Do mesmo modo, todos os que desejam conseguir sua herança divina através da lei mosaica, representada por Agar, chamada apostolicamente de “monte sinai”, o local onde foi promulgada e entregue a lei para Moisés, só irão colher jugo e servidão.
A tese paulina é que, assim como Sara teve seu filho mediante a promessa e intervenção divina, sendo posteriormente usada por Deus, para exigir que Abraão mandasse embora a escrava e seu filho, do mesmo modo, a nossa salvação é fruto da soberana graça divina, e para que essa graciosa herança seja desfrutada, é necessário que se lance fora a escrava (a lei) e o seu fruto (a servidão) .

A defesa da fé

Nós gentios não somos filhos da lei (judeus), nem física, nem espiritualmente. Esse concerto jamais nos foi dirigido. A repreensão que Paulo fez ao judeu Pedro, aclara muito bem a situação dos gentios na mente do apóstolo da graça.
“E, chegando Pedro à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível. Mas, quando vi que não andavam bem e direitamente conforme a verdade do evangelho, disse a Pedro na presença de todos: Se tu, sendo judeu, vives como os gentios, e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus?” (Gl. 2.11,14).
Desejar se utilizar de uma aliança escravagista, que a nós jamais foi dirigida, é tornar-se judaizante, consequentemente separado de Cristo.
Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído.” (Gl. 5.4).
Escrevendo aos romanos, Paulo assegura que assim como a mulher está ligada ao marido até que ele morra, e morrendo o marido fica livre para casar com quem quiser, do mesmo modo, Cristo morreu, e nós pela fé morremos com ele, libertando-nos da dispensação judaica da lei (Rm.7.1-4). Do contrário, teríamos que nos sujeitar ao regime judaico, a saber, a lei com seus sacrifícios, rituais e cerimonias.
“Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz (Cl.2.14). Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa4, ou da lua nova, ou dos sábados, Que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo.” (Cl.2.16-17).

Debaixo da lei de Cristo


“Para os que estão sem lei, como se estivesse sem lei (não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei.” (I Co. 9.21).
Ainda usando a carta aos Gálatas como referencial, atenhamo-nos ao enunciado do capítulo 5.22-24. “Mas o fruto do Espírito é : amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra estas coisas não há lei. E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências.”
“Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo.” (Gl .6.2). No pensamento paulino, quando você é habitação do Espírito Santo, é levado sempre a produzir o fruto do Espírito, jamais a fé de quem assim é guiado, se resumirá a meras ordenanças e preceitos religiosos, extirpados por Cristo na nova aliança por sua caducidade e inoperância justificatória.
“E de tudo o que, pela lei de Moisés, não pudestes ser justificados, por ele é justificado todo aquele que crê.” (At.13.39).

Textos controversos

“E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando e orando, e pondo sobre eles as mãos, os despediram.” (At.13.2,3).
Para que compreendamos o que aconteceu nessa ocasião, é sumamente importante que observemos todo o contexto. A igreja de Antioquia foi estabelecida por discípulos de Jerusalém, com ajuda posterior de alguns irmãos que evangelizaram os gregos, formando uma igreja mista, de prevalecença judaica.
“E os que foram dispersos pela perseguição que sucedeu por causa de Estêvão caminharam até à Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a ninguém a palavra, senão somente aos judeus.
E havia entre eles alguns homens cíprios e cirenenses, os quais entrando em Antioquia falaram aos gregos, anunciando o Senhor Jesus. E a mão do Senhor era com eles; e grande número creu e se converteu ao Senhor. E chegou a fama destas coisas aos ouvidos da igreja que estava em Jerusalém; e enviaram Barnabé a Antioquia.” (At.11.19-22).
Só um pouco mais tarde é que Paulo vai para essa igreja, não como pastor, e sim como colaborador.
“E partiu Barnabé para Tarso, a buscar Saulo; e, achando-o, o conduziu para Antioquia.
E sucedeu que todo um ano se reuniram naquela igreja, e ensinaram muita gente; e em Antioquia foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos.” (At.11.25,26).
Observe que a igreja em Antioquia foi fundada por discípulos judaizantes, além de tudo, o primeiro obreiro enviado para apascentar aquelas ovelhas foi Barnabé, levita natural de Chipre (At.4.36). Barnabé possuía uma carga cultural altamente judaica, isso fica comprovado quando na Antioquia mesmo, por influência de Paulo, essa igreja começa a abandonar alguns costumes do judaísmo, todavia, aparecem por lá alguns irmãos vindos de Jerusalém, da parte do líder Tiago, fato que atemoriza Pedro, e vemos então Barnabé revelando sua falta de firmeza na mensagem paulina da graça, bem como o seu judaísmo latente.
“E, chegando Pedro à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível.
Porque, antes que alguns tivessem chegado da parte de Tiago, comia com os gentios; mas, depois que chegaram, se foi retirando, e se apartou deles, temendo os que eram da circuncisão.
E os outros judeus também dissimulavam com ele, de maneira que até Barnabé se deixou levar pela sua dissimulação.” (Gl.2.11-13).
O fato acima mencionado, com certeza se deu depois do primeiro ano que Paulo ficou com aquela igreja (At.11.25,26), pois no principio, percebemos uma dependência demonstrada na preocupação em estar sempre em contato com Jerusalém a fim de prestar contas.
“E Barnabé e Saulo, havendo terminado aquele serviço, voltaram de Jerusalém, levando também consigo a João, que tinha por sobrenome Marcos.” (At.12.25).

Compreendendo o texto
“E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando e orando, e pondo sobre eles as mãos, os despediram.” (At.13.2,3).
Como já foi observado anteriormente, a direção da igreja em Antioquia era judaica. O versículo citado deixa claro que : a) O jejum foi dirigido pela liderança de Antioquia. b) Eles foram apartados (separados) pela igreja de Antioquia para um trabalho específico, muito embora, a ordem tenha partido de Deus. c) Isso é inegável, pois o verso termina : “E pondo sobre eles as mãos, os despediram. Quem impõe as mãos é quem está abençoando.” (At.9.12; I Tm.5.22).
O mesmo fato se deu em outro momento, em que debaixo da direção judaizante da Antioquia, o vemos participando de um jejum (At.14.23), como também em outra situação o encontramos em Jerusalém participando de uma cerimônia votiva.
“E já acerca de ti foram informados de que ensinas todos os judeus que estão entre os gentios a apartarem-se de Moisés, dizendo que não devem circuncidar seus filhos, nem andar segundo o costume da lei. Que faremos pois? em todo o caso é necessário que a multidão se ajunte; porque terão ouvido que já és vindo. Faze, pois, isto que te dizemos: Temos quatro homens que fizeram voto5. Toma estes contigo, e santifica-te com eles, e faze por eles os gastos para que rapem a cabeça, e todos ficarão sabendo que nada há daquilo de que foram informados acerca de ti, mas que também tu mesmo andas guardando a lei.” (At. 21.21-24).
Um outro fator a ser salientado, é que Paulo era um articulador versátil e flexível, sabia transitar no meio altamente judaizante, como também possuía autoridade suficiente para se posicionar sobre a liberdade dos gentios com relação a lei e seus rudimentos. Podemos notar facilmente isso em dois episódios distintos com respeito a circuncisão.
O primeiro diz respeito a Timóteo, Paulo claramente respeita os judaizantes, os quais ainda não estavam a par do decreto firmado em Jerusalém (At.15.28,29); vale salientar, que esse decreto era contraditório em sua essência, pois ao mesmo tempo que parecia propor uma liberdade aos gentios que se achegavam a fé, os devolviam ao velho sistema levítico, mandando-os para sinagoga, para os sábados, e para a apreciação da lei (At. 15.19-21).
Ficando demonstrado assim de forma inequívoca ,que os irmãos da circuncisão não possuíam nem de longe, o discernimento espiritual e bíblico do apóstolo do gentios (Gl.2.7-9). Mas, voltemo-nos para o episódio em que Paulo transige, na ocasião em que isso lhe é permitido.

A transigência paulina
“E chegou a Derbe e Listra. E eis que estava ali um certo discípulo por nome Timóteo, filho de uma judia que era crente, mas de pai grego; Do qual davam bom testemunho os irmãos que estavam em Listra e em Icônio. Paulo quis que este fosse com ele; e tomando-o, o circuncidou, por causa dos judeus que estavam naqueles lugares; porque todos sabiam que seu pai era grego.” (At. 16.1-3).

A intransigência paulina
Encontramos Paulo agora em uma outra ocasião, laborando em seu ministério gentílico e buscando os colegas de Jerusalém para lhes fazer ver a provisão Divina concedida aos gentios, da qual ele era o emissário. Isso é evidenciado nas palavras : “E subi por uma revelação, e lhes expus o evangelho, que prego entre os gentios...”(Gl.2.2). Leiamos o texto em sua completude.
“Depois, passados catorze anos, subi outra vez a Jerusalém com Barnabé, levando também comigo Tito. E subi por uma revelação, e lhes expus o evangelho, que prego entre os gentios, e particularmente aos que estavam em estima; para que de maneira alguma não corresse ou não tivesse corrido em vão. Mas nem ainda Tito, que estava comigo, sendo grego, foi constrangido a circuncidar-se; E isto por causa dos falsos irmãos que se intrometeram, e secretamente entraram a espiar a nossa liberdade, que temos em Cristo Jesus, para nos porem em servidão. Aos quais nem ainda por uma hora cedemos com sujeição, para que a verdade do evangelho permanecesse entre vós.” (Gl.2.1-5).

Os textos Corintianos
“Antes, como ministros de Deus, tornando-nos recomendáveis em tudo; na muita paciência, nas aflições, nas necessidades, nas angústias, Nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns.” (II Co. 6.4,5).
“Em trabalhos e fadiga, em vigílias muitas vezes, em fome e sede, em jejuns muitas vezes, em frio e nudez.” (II Co. 11.27).
A epístola aos coríntios, é sobretudo, uma defesa apaixonada e veemente do ministério que o apostolo havia recebido do Senhor. Paulo aqui não está fazendo uma apologética estritamente pessoal, mas defendendo todo um arcabouço dispensacional, que o incluía como arauto primaz.
“Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus.” (II.Co.4.5).
E é como ministro do Cristo ressurreto, que ele se apresenta como tendo um ministério recomendável, pois não era mensageiro de um evangelho meramente humano e triunfalista, e sim, um servo do reino, reino esse que torna o seu ministro um participante ativo não só das conquistas e vitórias, mas também das lutas e aflições inerentes ao caráter do evangelho.
No texto de II Co. 6.4 são enumeradas nove situações - devidamente amparadas pelo ponto basilar : A paciência - as quais relaciona como credenciais, que segundo Paulo, faziam o seu ministério digno de aceitação.
Ele os divide em grupos de três. Em termos subjetivos cita : a) aflições, necessidades (privações), angústias. b) apresenta situações pessoais objetivas: açoites, prisões e tumultos, esse último, com certeza refere-se as confusões em que se envolveu por causa da palavra (At.13.50;14.19; 16.19; 19.29). c) trabalhos, vigílias, jejuns. Nesse ponto apresenta as dificuldades que conscientemente assumiu como um escravo 6 de Cristo. É interessante corroborarmos nossa argumentação com as palavras de Colin Kruse, que discorre com muita sobriedade a respeito do texto de II Co. 11.27, o qual notadamente, é uma continuidade do assunto iniciado em II Co. 6.4,5.
[…] Por estar incluído entre exemplos de trabalhos e fadigas, interpretaríamos melhor as noites insones como sendo devidas ao fato de Paulo pregar e ensinar pela madrugada afora (At. 20.7-12; 31), visto que as pessoas precisavam trabalhar durante o dia e só podiam ouvi-lo à noite; talvez ele se referisse ao exercício de sua profissão de tecelão de tendas, em horário noturno, para sustentar-se, usando as horas do dia para seu trabalho missionário (II Ts. 3.7,8). Em fome e sede, em jejuns muitas vezes; em frio e nudez. A despeito do rendimento de seu trabalho artesanal, e das ofertas vindas de Macedônia, houve épocas em que Paulo sofreu necessidades (Fp.4.10-13) e ficou sem ter o que comer, sem água e sem vestimenta adequada (Rm. 8.35, I Co. 4.11; II Tm. 4.13) 7

Considerações finais
Embora na argumentação de Colin percebamos a ausência do jejum, cremos que esse tema foi satisfatoriamente abordado no parágrafo textos controversos, quando usamos o livro de Atos, único referencial juntamente com as cartas Paulinas, que possuímos para compreender o pensamento e a fé do apóstolo da graça.
Pois se a fadiga, era resultado do sacrificial trabalho desse mensageiro de Deus; as vigílias na verdade, como bem relata Atos (as únicas menções que temos sobre trabalhos que adentravam a madrugada), apontam apenas e unicamente para oportunidades para a pregação ou viagens missionárias destituídas de qualquer conforto.
No mesmo âmbito, é mencionado o jejum, e do mesmo modo, qualquer estudioso que use critérios sérios de interpretação bíblica, só poderá mencionar as passagens do livro de Atos (At.13.2,3; At.14.23), as quais já foram analisadas, demonstrando terem sido eventos nos quais, para não por dificuldades nos ombros da igreja, o apóstolo preferiu transigir, calando-se. Isso pode ser observado também com relação ao voto (At.18.18)8 .
Logo, ninguém tem autoridade para ensinar vigílias, jejuns e votos sobre essas bases, as quais na verdade, inexistem.
“ [...]se oferecem dons e sacrifícios que, quanto à consciência, não podem aperfeiçoar aquele que faz o serviço; Consistindo somente em comidas, e bebidas, e várias abluções e justificações da carne, impostas até ao tempo da correção. Mas, vindo Cristo, o sumo sacerdote dos bens futuros, por um maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação, nem por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção ( Hb. 9.9-12).

Wanderley Nunes.
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1 Esse termo era usado para apontar os animais separados para serem mortos em sacrifício a Deus ( Lv.27,29), daí vem a ideia de anátema: Condenado, amaldiçoado (Js.6.17,7.12).Com essa significação se encontra o termo grego em I Co.16.22;Rm.9,3; I Co. 12.3 e Gl.1.8,9. Buckland, dicionário bíblico,Editora vida, São Paulo-SP, p27.
2 Deuteronômio - Resumo: Os Israelitas são comandados a se lembrarem de quatro coisas: a fidelidade de Deus, a santidade de Deus, as bênçãos de Deus e as advertências de Deus. Os três primeiros capítulos recapitulam a viagem saindo do Egito para a sua localização atual, Moabe. Capítulo 4 é um chamado à obediência, a ser fiel ao Deus que foi fiel a eles.
Capítulos 5 a 26 são uma repetição da lei. Os dez mandamentos, assim como leis sobre sacrifícios e dias especiais e o resto da lei são dados à nova geração. Bênçãos são prometidas aos que obedecem (5:29; 6:17-19, 11:13-15) e fome é prometida àqueles que infringem a lei (11:16-17).
O tema de bênção e maldição continua nos capítulos 27-30. Esta parte do livro termina com uma escolha bem definida que é apresentada a Israel: “... te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição” . O desejo de Deus para o Seu povo encontra-se no que Ele recomenda: “escolhe pois a vida” (30:19). Nossa dívida e gratidão a esse belo resumo encontrado no site: wwwgotquestions.org- ( as palavras em negrito são por nossa conta).
3Creditamos essa apreciação do tema “expiação” ao site www.estudosgospel.com.br , ao qual damos o aval, comungando da mesma crença com relação a referida abordagem. Salientamos apenas, que no dia da expiação o israelita não trabalhava, era um feriado totalmente dedicado ao Senhor.
4 Dias de festa judaicos: 1) Páscoa (Lv.23.5), 2) Pentecostes ou festa das semanas (Ex.34.22), 3) A festa das trombetas ou ano novo ( Nm.8.2-12), 4) O dia da expiação, 5) A festa dos tabernáculos ( Lv 23: 34; Dt 16:13), 6) Festa das luzes ou dedicação (Jo.10.22), 7) Purim ou sortes ( Et.9.28; Jo. 5.1).
5 Paulo participou de uma outra cerimônia votiva em Cencréia (At. 18.18), mais uma vez usando o voto como estratégia para evangelizar entre os judeus.
6 A palavra usada por Paulo ao referir-se a si próprio com relação a Cristo é doulos, mais corretamente traduzido por escravo, podemos encontrar essa acepção em Gl.1.10; Rm.1.1; Tt.1.1.
7 Kruse, Colin G. II Coríntios introdução e comentário, São Paulo,- SP , Ed. vida Nova 1994, p .210
8 A motivação de Paulo se tomarmos apenas esse versículo parece obscura, no entanto, o versículo 21 patenteia a intenção do apóstolo: Ir a Jerusalém, e como já outrora analisamos, havia um desconforto entre Paulo e os judaizantes. Essa situação, ele sempre procurava contornar, buscando a paz enquanto ali se encontrava.