sábado, 26 de maio de 2012

Hebreus 13.11-13.

“Pois aqueles animais cujo sangue é trazido para dentro do Santo dos Santos, pelo sumo sacerdote, como oblação pelo pecado, têm o corpo queimado fora do acampamento”.
Pelo simples fato de possuirmos um altar (o sacrifício de Jesus), que não têm direito de comer os que ministram no tabernáculo (referindo-se ao sacerdócio judaico), é importante e necessária a explicitação de que o sacrifício propiciatório de Cristo foi uma oblação (oferta) do seu sangue, o qual foi apresentado para nossa justificação no altar Divino.
“muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo (Hb. 9.14).
Porque Cristo não entrou em santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para comparecer, agora, por nós, diante de Deus.” (Hb.9.24).
Porém, para que que tal sacrifício fosse efetivado teria que haver uma vítima perfeita, não um animal, mas um ser humano impecável (Hb.10.1,4; 7.26), nominado por Paulo como “o último Adão”. “Pois assim está escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente. O último Adão, porém, é espírito vivificante (I Co.15.45); O primeiro homem, formado da terra, é terreno; o segundo homem é do céu” (I Co.15.47).
Tudo isso teria que ocorrer primariamente no âmbito terreno, para depois ganhar sua concretude no âmbito eterno, pois como homem-servo, o Jesus ressuscitado diz a atônita Madalena quando tenta abraçá-lo: “ […] Não me detenhas; porque ainda não subi para meu Pai, mas vai ter com os meus irmãos e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus ( Jo.20.17). Nesse episódio se cumpre Hb.9.24.
Antes de se apresentar no tabernáculo celestial como o cordeiro sacrificial perfeito, Cristo padeceu aqui, e o seu corpo – como a vítima sacrificada no altar santíssimo no dia da expiação – foi imolado fora das portas da cidade de Jerusalém, demonstrado ser essa uma morte vituperante, pois o cordeiro do culto israelita era levado para longe do arraial (comunidade judaica), sendo vedado ao sumo sacerdote e a qualquer judeu comer dele, por ser o corpo do pecado, e por essa razão, tinha que ser incinerado longe dos israelitas.
“Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (II Co.5. 21).
É com essa imagem do ritual expiatório que o escritor de Hebreus afirma: “Por isso, foi que também Jesus, para santificar o povo, pelo seu próprio sangue, sofreu fora da porta” (Hb. 13.12). Aqui é apontada a grande diferença entre as sombras ritualísticas dos holocaustos da lei mosaica, e a realidade salvífica e vicária da morte de Cristo.
Como o verdadeiro cordeiro de Deus (Jo.1.29), através do seu sangue, tornou o pecador santo por aquilo que ele fez: “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores.
“Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida.” (Rm. 5.8-10).
Tendo Cristo assim padecido por nós, cabe-nos reconhecer que não resta mais nenhum sacrifício que possamos fazer a fim de agradá-lo, pois tudo já foi consumado (Jo.19.30). De modo pedagógico e exemplar Jesus “saiu” para sofrer fora do arraial das sombras (leis e rituais religiosos judaicos).
O sair, sempre foi algo muito próprio daqueles que discerniram o chamado de Deus. Noé saiu construindo uma arca para livramento da sua família, Abraão saiu sem saber para onde ia, guiado apenas pelo vento do espírito. No antigo concerto, talvez o sair mais significativo, eivado de representações espirituais e escatológicas se deu no êxodo do Egito.
As saídas individuais ou de nações inteiras relatadas nas escrituras hebraicas, indicam que o povo de Deus foi, é, e sempre será, um povo chamado para sair. Daí o imperativo de Hebreus 13.13. “Saiamos, pois, a ele, fora do arraial, levando o seu vitupério.”
O sair, não coincidentemente, se encontra na raiz da palavra ekklesia,composta por dois radicais gregos: ek que significa para fora e klesia que significa chamados. Chamados para fora ou chamados para sair, denota a natureza orgânica da comunidade daqueles ouvem a voz do Senhor. “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem.”(Jo.10.27).
“Me seguem”, nas palavras de Jesus indicam a disposição dos seus ouvintes de negarem-se a si mesmos: conceitos, preconceitos, tradições humanas e afins, com o firme intuito de ser apenas um discípulo na simplicidade do evangelho (II Co. 11.3). É com essa ideia, que o amanuense inspirado imperativa e radicalmente vocifera:
Saiamos, pois, a ele, fora do arraial, levando o seu vitupério.”
No contexto social e histórico no qual foi redigida essa carta, observa-se apenas um caminho para a manutenção de uma fé puramente neotestamentária por parte dos irmãos hebreus - os quais ainda davam ouvidos aos ecos e reverberações da lei mosaica - um rompimento definitivo com o judaísmo e suas implicações.
Para isso, teriam que sair do arraial, só assim poderiam encontrar de fato Jesus. Nessa saída, teriam que estar dispostos a carregar o desprezo de sofrerem a alcunha de ex-judeus, ex-povo do templo, ex-dependente de sacerdotes, ex-povo ritualístico, ex...
Nesse vitupério (desprezo) imposto pela religião institucional, é que a eclésia do Senhor se tona concreta e definitivamente gente da nova aliança.
Quando Paulo fala da sua fé em Cristo e tudo que teve que renegar - leia-se claramente e com todas as letras, todo o rito judaico - por causa do vinho novo que recebera, é que axiomaticamente diz: “Porventura, procuro eu, agora, o favor dos homens ou o de Deus? Ou procuro agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo.” (Gl 1. 10).
Vituperados sim pelos homens, porém acolhidos pelo Senhor na liberdade do evangelho da graça, para viver pela fé, na fé do filho de Deus. “Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente na carne. Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus.” (Rm.2.28,29).
Em Cristo e por Cristo, Wanderley Nunes.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Hebreus 13.10

“Possuímos um altar do qual não têm direito de comer os que ministram no tabernáculo”.
É preciso compreender que a fé em Jesus (evito agora falar em cristianismo, pois o termo está amplamente comprometido com religiosidade, paganismo, judaísmo e afins) não possui nem uma vinculação com a legalidade imposta pelas leis judaicas. Não há nenhuma afinidade, nem interdependência entre ambas, na verdade, elas são excludentes.
Por isso, depois de todo um arrazoado sobre o novo concerto, o escritor da carta aos hebreus, de maneira forte e incisiva diz que aqueles que abraçaram a fé em Cristo possuem um altar; aqui claramente há uma figura de linguagem chamada metonímia, ( A metonímia consiste em empregar um termo no lugar de outro, havendo entre ambos estreita afinidade ou relação de sentido) já que “altar” se encontra no sentido de sacrifício, pois os sacerdotes não se alimentavam do altar e sim do sacrifício nele realizado.
O texto afirma categoricamente que “os que ministram no tabernáculo”, apontando para os sacerdotes judeus, não tem “o direito” de comer desse altar (leia-se: sacrifício). A palavra “direito” fala de legalidade conquistada. Jesus, humanamente falando, não possuía o “direito” de servir sacerdotalmente no templo de Jerusalém, pelo fato de não ser da tribo de Levi.
“Ora, se ele estivesse na terra, nem seria sacerdote, havendo já os que oferecem dons segundo a lei” ( Hb. 8.4).
“Porque aquele, de quem estas coisas se dizem, pertence a outra tribo, da qual ninguém ainda serviu ao altar” ( Hb.7.13).
Ele era sacerdote de outra ordem, superior as convenções humanas, Jesus era da ordem de Melquisedeque, seu sacerdotalismo era espiritual e eterno. Do mesmo modo como foi impossível para Cristo exercer o sacerdócio nos moldes judaizantes, por não possuir as prerrogativas para isso, também todos os que querem se justificar pela lei (judaísmo cristão), com seus “montes”, vigílias, jejuns, dias de guarda, regras alimentares, etc... , não tem o direito de usufruir da graça do evangelho.
O termo “comer” aponta nitidamente para comunhão, desfrute. Quem vive como ministro sacerdotal judaico, não tem nenhum direito de usufruir da comunhão com Cristo. “E, se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça”. (Rm.11.6). “Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça decaístes” ( Gl.5.4).
O fator preponderante quando se fala do sacrifício que Jesus fez, em comparação aos sacrifícios judaicos-ritualísticos-cristãos, é que aquele feito por Cristo foi único, perfeito, por isso realizado de uma vez por todas. “E não pelo sangue de bodes e novilhos, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez por todas no santo lugar, havendo obtido uma eterna redenção” (Hb. 9.12).
“Mas agora, na consumação dos séculos, uma vez por todas se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo” (Hb. 9.26 ). “Pois com uma só oferta tem aperfeiçoado para sempre os que estão sendo santificados”. (Hb. 10.14).
Buscar a justificação por intermédio do que fazemos e não pelo que Cristo fez, é aniquilar o sacrifício de Cristo e ultrajar o espírito da graça, tornando o que Jesus fez comum (leia-se: profano, ou seja, sem valor diante de Deus, Hb. 10.29). Quando se realizava um sacrifício a Deus na antiga aliança, logo em seguida havia necessidade de outro e outro...
Jesus retrata para a samaritana de modo perfeito o que possuímos, quando cremos nele: “Replicou-lhe Jesus: Todo o que beber desta água tornará a ter sede (antiga aliança); mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede; (nova aliança) pelo contrário, a água que eu lhe der (o Espírito Santo) se fará nele uma fonte de água que jorre para a vida eterna. (Jo.4.13,14).
Temos um altar (um sacrifício perfeito, Jesus), do qual não têm direito de comer (de usufruir) os que ministram no tabernáculo (os que preferem se justificar pelas obras).
Em Cristo, Wanderley Nunes.