sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A oração que Deus não ouve

De onde vêm as guerras e pelejas entre vós? Porventura não vêm disto, a saber, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam? Cobiçais, e nada tendes; matais, e sois invejosos, e nada podeis alcançar; combateis e guerreais, e nada tendes, porque não pedis. Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites (Tg.4.1-3).
Nesses tempos de “decretos”, “determinações”, “amarrações”, “atos proféticos” e afins, parece impossível conceber a veracidade do que afirma Tiago: Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites. A princípio, o que podemos observar no texto apostólico é o combate de forma incisiva à raiz de todo o problema que assolava a comunidade à qual a carta se dirigia : O ego.
Aquele povo estava sofrendo fracassos em sua vida de fé (comunhão), por tratarem a vida cristã como se a mesma fosse apenas a borra do Judaísmo, ou uma seita judaica em busca de auto afirmação. Na aliança judaica, as promessas eram todas ligadas a temporalidade e a busca da aquisição de bens terrestres e uma vida longeva ( Dt.28.1-14).
O que essa sede desenfreada por terem suas aspirações concretizadas a todo custo - graças a influência da aliança mosaica - estava fazendo, era tornar esses pseudo-cristãos (digo isso com muito amor, pois estavam “sinceramente enganados”) em pessoas amargas, frustradas, rancorosas. Pessoas que não se alegravam com quem estava alegre, nem choravam com os chorosos.
A tentativa de fazer a transposição da Aliança mosaica para o cristianismo, resultou desde o princípio em um desastre, pois é como colocar remendo de pano novo em vestido velho, é costurar de baixo para cima (para o inalcançável) o véu já rasgado de cima para baixo (Mc.15.37, 38).
O que era sinal de comunhão na Aliança Judaica (prosperidade, posse da terra prometida e seu usufruto) não o é na Aliança de Cristo. Lembre-se, conosco gentios não foi feita nenhuma Aliança cuja fruição seja terreal, antes, todas as promessas feitas a nós são de cunho futuristas e eternais: O sumo sacerdote é eterno, o sacrifício (o cordeiro) é eterno, a terra prometida é eterna, a vida é eterna, o gozo de todas as benesses é eterno.
“Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de uma melhor aliança que está confirmada em melhores promessas.” (Hb.8.6).
E para aqueles que eram judeus ou prosélitos a Aliança firmada com o sangue de Cristo, se tornava de fato, uma nova aliança. Daí observamos o escritor aos hebreus falar para aqueles que estavam saudosos das formas, sacrifícios e ritos do judaísmo, que a Aliança de Cristo (para eles nova aliança) era sim uma melhor aliança, de fato infinitamente melhor.
Fazer o que os destinatários da carta de Tiago estavam fazendo é fruto da incompreensão do que é a vida cristã, a qual não fomenta a ditadura do “ter” em detrimento do “ser”. Os ricos, na referida carta, são exortados a não supervalorizarem suas posses, mas aprenderem a ser generosos e justos para com todos (Tg. 5.1-6).
Na Aliança Cristã a oração respondida e que, de fato, agrada a Deus, é aquela baseada na sua vontade soberana e no bem comum (I Jo.5.14), ou seja, o que deve ser bom para aquele que pede, deve servir para que outros: familiares, amigos mais chegados e o meio social em que convive, pois isso subjaz ao verdadeiro espírito cristão que é de amor e partilha. Uma oração egocêntrica é idólatra e estranha ao espírito cristão e por conseguinte não recebida como um cheiro de suavidade por Deus (Ap. 5. 8 e 8. 4), posto que é abominável.
Mediante o que já foi explicitado aqui, a dedução é simples e objetiva: A oração que visa única e exclusivamente a locupletação do pedinte, o qual insta diante de Deus por bens meramente efêmeros e cuja resposta positiva da parte dos céus (se fosse possível tal concepção) serviria apenas para alimentar a avareza, a vaidade, a arrogância religiosa e o hedonismo, não possui nem de longe a anuência das Escrituras, muito menos a benção de Deus.
Conforme Tiago, tal oração, não só não é respondida positivamente, como caracteriza os espiritualmente adúlteros, compromissados com a presente era e ansiosos por reinarem em um mundo que jaz no maligno e que não deseja de fato o reinar de Cristo.
“Sejam vossos costumes sem avareza, contentando-vos com o que tendes; porque ele disse: Não te deixarei, nem te desampararei.” (Hb. 13. 5).
E disse-lhes: “Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui.” (Lc.12. 15).
“Mas a prostituição, e toda a impureza ou avareza, nem ainda se nomeie entre vós, como convém a santos.” (Ef. 5. 3).
“Mortificai, pois, os vossos membros, que estão sobre a terra: a prostituição, a impureza, o afeição desordenada, a vil concupiscência, e a avareza, que é idolatria.” (Cl.3.5).
Ficarão de fora os cães e os feiticeiros, e os que se prostituem, e os homicidas, e os idólatras, e qualquer que ama e comete a mentira.” (Ap. 22. 15).
“Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.” (I Co. 15. 19).
“Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo,
Cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas.
Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo,
Que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas.” (Fp. 3.18-21).
Em Cristo, Wanderley Nunes.